“Onda Nova”, filme censurado na ditadura, é destaque na Mostra de Cinema de SP
O longa de Ícaro (Francisco) Martins e José Antonio Garcia foi censurado em 1983, logo após sua estreia na 7ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo
Logo após a sua estreia em 1983, no fim da Ditadura Militar, o filme “Onda Nova”, sofreu uma censura, que quase apagou a sua memória. O contexto era a 7ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo. Seria necessário mais um ano até que a obra pudesse ser, enfim, comercializada.
Quatro décadas depois, o longa, dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia ganha uma nova chance. Isso acontece pois o longa foi restaurado e remasterizado, e poderá ser conferido na Mostra de Internacional de Cinema de SP de 2024, que acontece até o dia 30 de outubro.
Protagonizada por Carla Camurati e Cristina Mutarelli, a comédia retrata a trajetória das jogadoras do Gayvotas Futebol Clube no ano em que o futebol feminino foi regulamentado no Brasil, após 40 anos de proibição, até 1979. No longa, o time de jovens de São Paulo desafia normas sobre gênero e sexualidade enquanto enfrentam suas questões pessoais.
Embora não se encaixe no estilo tradicional das “pornochanchadas”, “Onda Nova” foi produzido de forma similar na Boca do Lixo. Seu lançamento tardio, após o ciclo do gênero, faz dele uma espécie de último representante. Contudo, a produção cinematográfica, como as outras obras dos diretores, critica o moralismo sexista comum nas produções comerciais da época.
“É um filme onde o desejo assume o protagonismo, define e conduz as personagens e a narrativa. Mesmo não tratando diretamente de política, ao colocar o desejo como afirmação de identidade e de vida, Onda Nova é a própria negação da ditadura vigente na época. Por isso a censura não foi apenas a uma cena ou outra, mas ao filme inteiro. Foi considerado ‘amoral’ e interditado integralmente”, declara Ícaro (Francisco) Martins em nota.
A revitalização de “Onda Nova” para sua exibição nas telas incluiu a recriação do trailer e do cartaz, que haviam desaparecido. A nova identidade visual foi desenvolvida pela artista gráfica Helena Garcia, enquanto Marina Kosa, da Tanto Produções, ficou responsável pela produção do trailer. Esse projeto contou com o apoio da Cinemateca Brasileira, que ajudou na digitalização dos negativos originais, além da colaboração com a JLS, a Zumbi Post e com a família do diretor que perpetua o seu legado.
Assista ao trailer a seguir: