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Mais uma vez, um Oscar sem Brasil

Tentamos chegar ao maior prêmio do cinema com um documentário, um curta e um longa. Mesmo com nítidas e pulsantes veias de inovação, fomos deixados de lado

Por João Victor Guimarães
Atualizado em 17 fev 2023, 11h56 - Publicado em 17 fev 2023, 11h41

O Oscar ainda é o mais importante festival de cinema da história, e dificilmente deixará de sê-lo. A presença de um filme no festival é capaz de trazer visibilidade não apenas para sua direção, elenco e equipe, mas também, especialmente para os “filmes estrangeiros”, uma representação da produção cultural de um país e toda sua massa artística. Em alguns casos, não raros, tal presença no Oscar é capaz até mesmo de catalisar uma forma mais ou menos “nova” de fazer cinema. Quando um festival deixa de incorporar esses filmes, quem perde também é ele. Mas o Oscar perdeu o quê?

No que tange à produção brasileira, tínhamos dois filmes na lista de pré-selecionados: O Território, dirigido por Alex Pritz numa co-produção do Brasil com a Dinamarca e os EUA; e o curta-metragem potiguar Sideral dirigido por Carlos Segundo. Em uma peneira de seleção anterior ficou para trás o longa Marte Um. O Território concorreria na categoria de melhor documentário em longa-metragem, já Sideral na de melhor live-action em curta-metragem.

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No entanto a lista final, divulgada no último 24 de janeiro, não os contemplou. Com essa decisão, o Oscar deixa de projetar para um público gigantesco duas obras que sinalizam caminhos interessantes para o cinema brasileiro e mundial.

Sim, parece um ato de extrema presunção cogitar que o Oscar e a Academia de Ciências e Artes Cinematográficas não sabem o que estão fazendo por abrir mão dessas joias. Mas quem assistiu ao filme O Território, por exemplo, há de convir que a união da destreza técnica e a inovação narrativa, produz um filme marcante para quem assiste e significativo para o cinema, especialmente o documental.

O Território não repete a velha retórica do documentário tristíssimo e com tendências assistencialistas. Sim retrata, entre outras coisas, a complexa condição humana forçada à perversidade pelo capitalismo e sua expressão mais selvagem: o liberalismo. Mas o filme surpreende mesmo ao apresentar o povo indígena Uru-eu-wau-wau utilizando as mais recentes tecnologias produzidas pela mentalidade ocidental para vencer uma batalha contra a nova leva de seculares invasores. Tudo isso me parece muito próximo do seguinte dizer afro-brasileiro: “Exu matou um pássaro ontem com a pedra que atirou hoje”.

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Tal qual O Território, o filme Sideral conseguiu tratar de um tema sobre o qual parte significativa da sociedade labuta cotidiana e incansavelmente para obter melhorias. No curta, vemos de forma irônica o abuso no qual a sociedade transformou o chamado trabalho doméstico. Além de fazê-lo com inegável qualidade técnica, Sideral ousa ao flertar com referências à science-fiction e ao western.

Ou seja, filmes com nítidas e pulsantes veias de inovação e comprometidos com as novas roupagens que temas seculares adquiriram num país como o Brasil. São fortes em qualidade e nada devem a nenhum outro filme de qualquer outro país. Isso dito, feliz deve ser o país com arte e cultura para produzi-los.

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