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Por que a MUBI está sendo boicotada? Entenda toda a polêmica

A plataforma Mubi teria recebido um aporte milionário da Sequoia Capital, que mantém vínculos diretos com a Kela, uma startup israelense de tecnologia militar

Por Redação Bravo!
8 ago 2025, 07h00
mubi-boicote-gaza
Identidade visual da Mubi (reprodução/reprodução)
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A Mubi, plataforma de streaming conhecida por distribuir filmes independentes, de arte e de cineastas emergentes, tem sido alvo de críticas e até de uma onda de cancelamentos de assinaturas nas últimas semanas. No último ano, a Mubi foi responsável por distribuir o filme “A substância”, com Demi Moore.

A reação adversa ao serviço de vídeo sob demanda surgiu após a revelação de que a Mubi teria recebido um aporte de US$ 100 milhões da Sequoia Capital, uma das maiores e mais influentes empresas de venture capital do mundo. Até aí, nada incomum. O que chama atenção é que a Sequoia mantém vínculos diretos com a Kela, uma startup israelense de tecnologia militar responsável pelo desenvolvimento de sistemas operacionais para campos de batalha.

A relação financeira entre Sequoia e Kela começou em 2023. Já no início dessa parceria, a Sequoia liderou a rodada seed da startup, investindo cerca de US$ 10 milhões. Mais tarde, a Sequoia participou da rodada Série A, liderada pela Lux Capital, que captou mais US$ 28 milhões junto a outros investidores.

Mais recentemente, em uma rodada extra que ampliou o capital da Kela, a Sequoia se uniu à Lux Capital e à In-Q-Tel — braço de investimentos da CIA — para investir um montante de US$ 60 milhões. A Kela teria sido criada em 2024 por ex-membros da inteligência israelense, a empresa surgiu como reação aos ataques do Hamas ocorridos em 7 de outubro de 2023. A empresa estaria desenvolvendo um sistema operacional para uso em campos de batalha que permite às forças militares combinar inteligência artificial com equipamentos tecnológicos disponíveis no mercado.

Esses aportes colocam a Sequoia entre os principais financiadores de uma empresa que desenvolve tecnologia para uso militar, em meio a uma operação militar israelense na Faixa de Gaza que, desde outubro de 2023, resultou em milhares de mortes civis e uma crise humanitária, com falta de alimentos, água, remédios e eletricidade. Segundo organizações internacionais, mais de 60 mil palestinos morreram nesse período.

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Não foi apenas o público da Mubi que criticou a plataforma. Mais de 60 artistas e criadores, de alguma forma envolvidos em produções lançadas pelo streaming, assinaram uma carta condenando os vínculos da Mubi com a Sequoia Capital e pedindo que a plataforma reavalie essa relação. Além disso, o grupo exige que a plataforma condene publicamente a empresa por lucrar com o conflito em Gaza, remova o sócio da Sequoia Andrew Reed do conselho da Mubi e adote uma política ética rigorosa para futuros investimentos.

Entre os signatários estão nomes de destaque no cinema contemporâneo, como o finlandês Aki Kaurismäki, conhecido por seu estilo minimalista e humanista; o romeno Radu Jude, cujas obras abordam questões históricas e sociais; o americano Joshua Oppenheimer, famoso pelo documentário O Ato de Matar; e os israelenses Nadav Lapid, diretor de Sinônimos e O Joelho de Ahed, e Ari Folman, responsável pelo aclamado Valsa com Bashir.

Leia a carta na íntegra:

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Prezada liderança da Mubi,

Escrevemos como cineastas que mantêm uma relação profissional com a Mubi para expressar nossa séria preocupação em relação à decisão da Mubi de aceitar US$ 100 milhões em financiamento da Sequoia Capital, uma empresa de private equity que, desde o final de 2023, optou por reforçar seus investimentos em empresas israelenses de tecnologia militar com o objetivo de lucrar com o genocídio em Gaza. Em 2024, a Sequoia investiu fortemente na Kela, uma startup de tecnologia militar fundada por um ex-gerente sênior da Palantir Israel e vários veteranos da inteligência militar israelense, além do fabricante de drones militares Neros e da fabricante de veículos aéreos não tripulados Mach Industries.

O crescimento financeiro da Mubi como empresa está agora explicitamente ligado ao genocídio em Gaza, o que implica a todos nós que trabalhamos com a Mubi. Também acreditamos que o cinema pode ser poderoso. Sabemos que não podemos controlar totalmente como o público reagirá ao nosso trabalho, nem se ele irá emocionar ou inspirar as pessoas. Mas podemos controlar como nosso trabalho reflete nossos valores e compromissos — os quais são totalmente ignorados quando nosso trabalho é associado a uma empresa de private equity que lucra com genocídio.

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Gaza está vivendo um massacre de civis, incluindo jornalistas, artistas e profissionais do cinema, juntamente com a destruição generalizada de sítios culturais e do patrimônio palestino. Não acreditamos que uma plataforma de cinema autoral possa apoiar de forma significativa uma comunidade global de cinéfilos enquanto também mantém parceria com uma empresa que investe na morte de artistas e cineastas palestinos.

Abordamos nosso trabalho com cuidado pelas pessoas e comunidades que representamos e pelos públicos que irão assisti-lo, porque, como artistas, somos responsáveis por mais do que apenas resultados financeiros. No entanto, a decisão da Mubi de se associar à Sequoia demonstra uma total falta de responsabilidade para com os artistas e comunidades que ajudaram a empresa a prosperar. Acreditamos que é nosso dever ético não causar danos. Esperamos que nossos parceiros, no mínimo, se recusem a ser cúmplices da violência horrível que está sendo cometida contra os palestinos.

Pedimos que atendam ao chamado feito pelo coletivo Film Workers for Palestine e tomem medidas que respondam de forma significativa aos artistas e públicos, que são parte tão essencial do sucesso da Mubi.

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