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Cinema da quebrada

Programa Imagens em Movimento fomenta o audiovisual em comunidades brasileiras e leva os curtas para todo o país

Por Artur Tavares
23 nov 2022, 22h36

Uma das iniciativas de base mais interessantes do cinema nacional, o Programa Imagens em Movimento está realizando até o próximo dia 8 de dezembro sua mostra itinerante de curtas por escolas espalhadas por todo o Brasil.

Fundado em 2011 pela cineasta Ana Dillon, o Programa Imagens em Movimento tem como objetivo levar a formação em audiovisual para jovens de comunidades de baixa renda em todo o país. Neste período, já são mais de 180 curtas-metragens produzidos por alunos de escolas públicas, principalmente do Rio de Janeiro, mas também de Minas Gerais e do Nordeste. Em parceria com a Cinemateca Francesa, o Programa ainda oferece capacitação para professores.

Programa Imagem em movimento
(Programa Imagem em movimento/divulgação)

Neste ano, a mostra já passou por escolas do Espírito Santo. Até 1º de dezembro, os filmes serão exibidos para alunos do Rio de Janeiro, e o Programa ainda aterriza em equipamentos educacionais de São Paulo e da Bahia até o dia 8 do mesmo mês. Além disso, o site oficial do projeto reúne todos os curtas-metragens já produzidos desde sua fundação.

Nós batemos um papo com Ana Dillon, confira:

Você já tinha uma formação acadêmica e bagagem sólida no cinema quando decidiu iniciar o Programa Imagens em Movimento. O que te motivou a criar o PIM em primeiro lugar?
Eu fui convidada a trabalhar como professora de cinema em uma escola particular do Rio, e esta experiência me encantou muito. Fiquei muito inspirada pela forma como os adolescentes transformavam suas ideias em imagens. A coisa foi me alimentando de uma forma que eu resolvi que queria mesmo era trabalhar com educação, levando o cinema pra dentro das escolas. E queria promover esta experiência para o maior número possível de estudantes, de forma plural, democrática.

Programa Imagem em movimento
(Programa Imagem em movimento/divulgação)

O programa já tem 11 anos, foi iniciado em um momento completamente diferente para a cultura e a sociedade brasileiras. É possível fazer um balanço de como nosso país mudou olhando para as realizações do PIM, suas batalhas e conquistas?
Com certeza. O contexto político que a sociedade atravessa se reflete diretamente nos filmes feitos pelos alunos e alunas. Neste último ano percebemos uma urgência desta geração em falar sobre temas como a homossexualidade e a homofobia, ou a discriminação racial, por exemplo. São filmes de ficção, mas que trazem narrativas sensíveis sobre estas questões sociais.

É muito interessante ver cinema produzido por jovens amadores descolados dos espaços de privilégios. Para além do fomento cultural, qual a importância de colocar o poder do audiovisual nas mãos desses garotos, garotas e garotes?
Eu considero urgente a inserção do estudo da linguagem audiovisual no currículo escolar. Os jovens vivem absolutamente imersos em imagens e produzindo imagens, algumas vezes aprendendo de forma autodidata alguns mecanismos de produção em seus celulares… mas é necessário criar espaços e debates para que os produtos audiovisuais contemporâneos possam ser debatidos e investigados na escola, para que as camadas constituintes da linguagem audiovisual possam ser conhecidas, lidas e utilizadas por eles com consciência crítica, aproveitando seu imenso potencial criativo. Os jovens não param de produzir e publicar imagens de si mesmos. Só falta oferecer as ferramentas para que estas produções alcancem resultados cada vez mais potentes.

Programa Imagem em movimento
(Programa Imagem em movimento/divulgação)

Existe outro aspecto muito interessante do PIM que é o fato de que os curtas ficam todos disponíveis online para o público, e também que são exibidos de maneira itinerante pelo Brasil. Como criar uma audiência orgânica para esses curtas e um senso crítico no público, para que olhem essa produção como gênese de possíveis joias brutas do nosso cinema?
De fato, disponibilizamos todo o acervo gratuitamente no nosso site, fazemos chamadas para os filmes nas redes sociais, e os enviamos também para diversos festivais de cinema nacionais e internacionais. Os professores e estudantes que já passaram pelo programa contribuem muito para a difusão deste material. A meta é que cada vez mais escolas possam se apropriar deste conteúdo, em cineclubes ou ações educativas.

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Meu nome é Dhyovanna from Raiar on Vimeo.

Assisti dois curtas deste ano, com temáticas focadas em heteronormatividade, machismo e discussões de gênero. Como os adolescentes estão encarando essas questões em seus cotidianos e quando estão diante ou atrás das câmeras, e como eles enxergam as transformações que estamos passando como sociedade?
A diversidade de gêneros e o combate à homofobia e à transfobia realmente estão em erupção para a geração dos nossos alunos. Nas diversas comunidades e bairros em que trabalhamos, esta questão está na ordem do dia. Nossos alunos simplesmente precisam falar disso, por vivenciarem esta questão cotidianamente. Há uma transformação em curso irrefreável em relação à noção de gênero, que independe de classe social inclusive. Há um grito por liberdade e respeito à diversidade que é muito forte, nas vozes desses jovens.

Programa Imagem em movimento
(Programa Imagem em movimento/divulgação)

Quais os objetivos do PIM para os próximos anos?
Este ano vivemos uma grande expansão, com a inauguração das oficinas em São Paulo, Bahia e Espírito Santo, além de novos municípios no estado do Rio de Janeiro. Nosso desejo atualmente é firmar o apoio com os patrocinadores que fomentaram estes novos passos e assim garantir a continuidade das ações em escolas com as quais iniciamos lindas parcerias este ano. Assim ganhamos mais força e estrutura para expandir ainda mais nossas ações futuramente!

Programa Imagem em movimento
(Programa Imagem em movimento/divulgação)
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