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OLÁ,

Quem é Kelner Macêdo, ator revelação de Guerreiros do Sol?

Em entrevista, o artista fala sobre os primeiros passos na atuação, os desafios de transitar do interior da Paraíba para o mercado audiovisual de São Paulo

Por Humberto Maruchel
20 jul 2025, 09h00
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Kelner Macêdo vive Zé do Bode em Guerreiros do Sol (Helton Nobrega/divulgação)
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Kelner Macêdo é um jovem ator que vem construindo umatrajetória de forma consistente no cenário audiovisual brasileiro. Ele ganhou destaque recentemente ao interpretar o cangaceiro Zé do Bode na novela Guerreiros do Sol, disponível na Globoplay. Nascido em Rio Tinto, uma cidade pequena do interior da Paraíba, ele cresceu em um ambiente distante das grandes referências artísticas, cercado pela natureza e pela simplicidade do cotidiano rural. Criado pelos avós, desde cedo despertou o interesse pela atuação, alimentado pelo contato com novelas e filmes, que assistia com entusiasmo.

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(Estevam Avellar/divulgação)

Antes de se dedicar integralmente à carreira artística, Kelner iniciou a faculdade de psicologia, mas foi no teatro, na Universidade Federal da Paraíba, que encontrou sua verdadeira vocação. Paralelamente aos estudos, participou de diversos curtas e longas-metragens locais, um aprendizado prático que complementou sua formação acadêmica e ajudou a definir seu estilo de trabalho. Foi com o longa Corpo Elétrico que ele se lançou definitivamente no audiovisual.

Desde então, Kelner tem acumulado experiências importantes em produções como Sob Pressão, Os Outros e, mais recentemente, na novela Guerreiros do Sol. Agora, ele se prepara para dar vida a Cristian Cravinhos na série Tremembé (Prime Video), aquele que ele considera o maior desafio de sua carreira até então.

Nesta entrevista exclusiva, Kelner fala sobre sua infância, os primeiros passos na atuação, os desafios de transitar do interior da Paraíba para o mercado audiovisual de São Paulo. Ele também comenta sobre o preconceito que ainda enfrenta como ator nordestino, sua relação com o público e seus planos.

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Nos bastidores de Guerreiros do Sol (Kelner Macêdo/arquivo pessoal)

Poderia compartilhar um pouco da sua história, da sua infância, formação e início da trajetória artística?

Eu nasci em uma cidade chamada Rio Tinto, no interior da Paraíba, que é uma cidade super pequena, devia ter uns 20 mil habitantes na época e hoje deve ter um pouco mais. É uma cidade que não tem teatro, não tem cinema, não tem muito dessa formação artística, esse incentivo… Ela é bem pacata nesse sentido, tem muita natureza, então eu cresci muito ali, meio ao rio, à mata, tendo muito contato com a natureza… E o desejo de ser ator foi uma semente que foi plantada muito lá atrás quando eu era criança, e muito por um encantamento com a coisa.

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Eu venho de uma família sem muitos recursos, uma família pobre, e eu juntava dinheiro para alugar fita VHS para assistir aos filmes. Então, eu juntava dinheiro a semana inteira, pegava o dinheiro do lanche, por exemplo, e ia na locadora para pegar uns filmes para ficar assistindo final de semana. E aquilo era muito encantador, e me fazia viajar demais… Ali me plantou um pouco esse desejo do que era fazer isso, como que era feito, como que isso se dava. 

Além disso, eu fui criado com meus avós e a gente também assistia a muita televisão, muita novela e eu também ficava sempre encantado e me perguntando como que fazia para entrar ali dentro. 

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(Ale Ammano/divulgação)

E isso ficou guardado. Aí na escola, quando tinha datas comemorativas, dia dos pais, dia das mães, eu ia lá e me jogava para fazer peça de apresentação. Apesar da timidez, era um lugar que eu conseguia me expressar. Porém, isso ficou guardado porque eu também não tinha ideia de como seria a vida sendo ator, o que precisaria fazer para virar um ator. Não tinha esse passo a passo, não tinha essa ideia. 

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Então quando eu acabei o Ensino Médio, prestei psicologia, passei e aí fiz metade do curso. Quando cheguei na metade da graduação, estava bem, estava feliz, estava curtindo, me identificando com a parada, mas faltando alguma coisa, e sempre estava faltando alguma coisa… Foi quando eu resolvi fazer um curso de férias no teatro. E foi o que bastava. 

O bichinho do teatro me picou, larguei a psicologia, fiz o vestibular de teatro, passei na Universidade Federal da Paraíba e, paralelo a isso, começaram a aparecer os testes para os filmes e os curtas-metragens lá na Paraíba. Antes de começar o curso de teatro, inclusive, quando eu estava esperando para começar, apareceu o primeiro teste. Eu nunca tinha feito um teste, mas meti a cara, fiz e passei na cara de pau, sem saber o que eu estava fazendo ali, mas falei “cara, vou viver isso e vou aprender na prática”. 

Então acho que a minha formação, ela vem muito daí. Do teatro, onde eu vivi muitas experiências, mas também vem desse espaço prático mesmo, de aprender a fazer cinema na prática. Nunca fiz uma formação de cinema, nunca fiz uma formação de atuação para câmera, foi algo que fui aprendendo fazendo. Então tem um pouco desses dois vieses, a formação da universidade, mas essa experiência prática que foi o que me formou no cinema mesmo, e que me forma diariamente.

Você saiu do interior da Paraíba para o audiovisual nacional. Que desafios práticos e culturais enfrentou nessa transição?Bom, acho que tem muitos desafios para um menino que sai do interior da Paraíba, com um sonho de ser ator e sem ter muitos recursos para isso. Eu lembro que cheguei em São Paulo com 800 reais e um sonho. E aí, tem toda uma questão de adaptação, né? É uma cidade que não é a sua, você não conhece muito bem as pessoas, você não tem ainda o seu espaço ali dentro dela.

São Paulo é o mundo inteiro, é muito grande, então foi como ser catapultado para outro universo com outras proporções, com outras distâncias, com outros desafios, outras barreiras e de muitas instabilidades, que é ser ator. Então, eu acho que é se lançar num risco mesmo. Ser ator é sempre isso: se lançar num risco. 

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E vim para São Paulo para poder exercer o meu ofício, vim para me lançar num risco total, porque eu não tinha garantia de nada. Eu estava para lançar o Corpo Elétrico, era isso o que eu tinha nas minhas mãos e precisava aproveitar essa chance para fazer isso acontecer, para me fazer ser conhecido e ter alguma coisa para apresentar o meu trabalho.

O filme me ajudou muito a entrar no mercado. Mas foram muitos desafios que encontrei na trajetória e sou muito feliz de ter encontrado muitos parceiros queridos de trabalho, de vida e que se tornaram a minha família. Eles deixaram a vida uma coisa mais leve, mais gostosa de ser vivida, porque são inúmeros desafios impostos ao se viver de arte no Brasil. E eu vim pra cá disposto a enfrentar o que precisasse pra poder viver a vida que queria viver.

Quando começou a perceber que o cinema e a TV seriam o seu caminho, e como você conseguiu seu primeiro papel de destaque?

Eu acho que o Corpo Elétrico responde às duas perguntas. Ele é o meu primeiro longa, é o filme do Marcelo Caetano, que eu protagonizo, e que é o que me lança no mercado e me apresenta para o mundo. Mesmo sem perspectiva de sair do país, eu viajei para o exterior pela primeira vez por conta dele.

Então é um filme que realmente me abriu as fronteiras e as porteiras do mundo. Acho que a partir dele que eu tenho uma perspectiva de vida, de conseguir viver do meu ofício, me fez acreditar que era possível e me deu força para seguir, ir atrás e para fazer a coisa acontecer. Ele foi o meu entendimento e minha consciência de que eu era um ator, existindo, pensando, criando e fazendo. 

A partir dali, as coisas foram tomando outras proporções, foram tomando contorno, foram tomando o corpo. Foi o que trouxe a prática para tudo que eu pensava do que poderia ser.

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Você já enfrentou algum tipo de preconceito no mercado audiovisual por ser nordestino? De que forma isso impactou sua trajetória e as oportunidades que teve?

Bom, a gente vive num país que sabemos o quanto ele é machista, misógino, xenofóbico, preconceituoso, fascista. Enfim, é um grande combo. É até uma contradição, porque o Brasil é alegre, feliz, maravilhoso, colorido, mas também muito duro, que tem as suas barreiras, que precisam às vezes ser derrubadas para mostrarmos outras perspectivas.

Acho que a minha chegada no mercado do audiovisual é um pouco isso. Hoje a gente já avançou bastante, estamos em outros lugares, inclusive fazendo Guerreiros do Sol, em que a gente traz uma discussão importante para essa roda que é o protagonismo nordestino e as nossas histórias brasileiras nordestinas protagonizadas por atores nordestinos.

Então acho que a gente tá em outro lugar da discussão, mas se a gente pensar anos atrás, os personagens que estavam separados e destinados aos atores nordestinos eram personagens de subserviência. Digo isso pensando muito na TV. Eram personagens que estavam ali para servir, que não tinham muito protagonismo dentro da trama, e então, sim, estabelecia-se um lugar de barreira. Se você tivesse sotaque nordestino, logo os personagens que estariam destinados para você eram aqueles. 

Isso já impõe um certo posicionamento seu quando você entra no mercado, você fala “opa, vou precisar então camuflar o meu sotaque para poder conseguir pegar outros personagens de destaque ou personagens que ocupem outras posições sociais dentro da trama”. Eu fiz muitos testes abafando o meu sotaque, tentando camuflar para poder mostrar para eles que sim, que eu poderia fazer personagem X em qualquer situação. 

Então, respondendo à pergunta, acho que sim. Teve esse desafio de poder mostrar para o mercado que nós temos outras perspectivas, que nós temos outros imaginários possíveis sobre os nossos corpos, e que a gente pode fazer qualquer coisa. Nosso imaginário é muito amplo e as nossas possibilidades são infinitas.

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(Ian Rassi/divulgação)

Quais foram as maiores dificuldades na preparação para interpretar Zé do Bode, um personagem que viveu numa época e contexto tão específicos?

Eu acho que Zé do Bode tem muitas complexidades. Se a gente pensar em ambientação, a gente pensa nos anos 1920, anos 30, no sertão do Nordeste Brasileiro, numa época de uma grande seca, de muita escassez, do coronelismo reinando, e do povo muito submisso a esse sistema. Então, a gente já tem um panorama muito bem colocado de quem são essas pessoas vivendo nesse contexto nessa época. E aí a gente acrescenta a visão do cangaço, a falta de conforto, as locomoções, o matar para não morrer.

É neste contexto que Zé do Bode se descobre apaixonado por outro homem que chega no bando. E isso não havia acontecido ali ainda, dentro daquele bando. Ele nunca havia desenvolvido esse interesse por outro cangaceiro, ou por outro homem. Então ele se vê nesse conflito entre o matar para não morrer e o desabrochar desse amor no meio dessa seca, desse sertão e um amor fora do convencional, daquela norma imposta naquele ambiente. 

É um personagem complexo. Eu tinha muito essa preocupação em dar profundidade para ele, em fazer entender que é um homem duro, mas que vai se amolecer e que vai se abrir para que esse amor floresça, tome conta, mesmo em meio àquelas circunstâncias e aquele contexto de dificuldades.

Era uma preocupação minha, do Rodrigo Garcia, que interpretou o Hildebrando Cheiroso, e da direção Nosso objetivo era poder construir também esse relacionamento com sutileza, com beleza, com cuidado, e queríamos realmente mostrar uma semente que brota no meio da seca. Então, acho que teve muito um trabalho de preocupação com a delicadeza dos momentos de sutilezas desse amor. 

Fora a preparação física. Era um trabalho que demandava um condicionamento físico. Eram 12 horas, seis dias por semana, filmando embaixo do sol com roupas e adereços e cenografia e coisas que eram pesadas. As roupas, as armas, o facão, o embornal, tudo que a gente carregava, dava uns 20 quilos. Então tinha um condicionamento físico, que era nossa outra preocupação.

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(Kelner Macêdo/arquivo pessoal)

Em “Tremembé”, você interpreta Cristian Cravinhos, um assassino real. Como foi lidar com o peso e a responsabilidade de dar vida a uma figura tão controversa?

O Cristian Cravinhos talvez tenha sido o maior desafio da minha carreira até aqui, porque é realmente uma figura muito controversa. É uma figura muito complexa, que faz parte do nosso imaginário coletivo brasileiro das últimas décadas. Ele participou de um crime muito conhecido, muito midiático, um assassinato, que eu ouvi falar muito na época e sigo ouvindo falar até hoje. 

Eu acho que a primeira dificuldade que a gente tem quando começa esse trabalho é não julgar esses personagens pelo que eles cometeram. Isso porque a série trata de Tremembé, que é o presídio onde estão presos de crimes midiáticos do Brasil. São figuras conhecidas do nosso imaginário e que cometeram crimes e estão pagando por eles, ponto. Esse era o primeiro entendimento. E depois vinha a complexidade de desvendar quem são essas pessoas vivendo e convivendo dentro daquele microcosmos. Como que a gente constrói essas pessoas em perspectiva, com humanidade, complexidade, controvérsia… O desafio era esse: dar complexidade para os fatos que aquela dramaturgia trazia para a gente. 

Lembrando que, sim, são personagens biográficos, mas sem esquecer também que é uma obra de ficção e que a dramaturgia traz essa complexidade que os personagens necessitam ter. Então acho que tem o cuidado de não romantizar essas histórias, mas em colocar essas histórias em perspectiva, além do crime. Quem são essas pessoas ali convivendo, existindo?

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(Ian Rassi/divulgação)

Quanto tempo você costuma dedicar para estudar o contexto histórico e social dos personagens que interpreta? Você possui alguma metodologia específica?

Olha, geralmente os personagens me deixam muito obsessivo com um hiperfoco em algumas coisas. Às vezes surge um teste e é sobre uma coisa que existe, ou que aconteceu, ou é um fato, eu já fico obsessivo, procurando entender histórias, perspectivas, pontos de vista daquilo, quando aconteceu, como aconteceu, porque, em qual contexto, quais os personagens…

É uma coisa que me interessa muito mesmo, essa investigação. E quando eu começo um projeto, eu fico muito focado naquilo. É algo que me acompanha da hora que eu acordo até a hora em que eu vou dormir e ela entra dos meus sonhos e mexe com o meu imaginário. E, não sei, me leva para um campo de abertura de novos significados sempre. Porque a gente abre um campo de interesse novo, uma nova aba que a gente vai depositando tudo que a gente vai encontrando pelo caminho sobre aquilo. 

Então, tudo começa a fazer parte também dessa pesquisa, desde o bom dia que você dá para alguém que te olha na rua ou quando você esbarra numa situação que é do personagem… Por exemplo, tem vezes que você está fazendo algo mundano, como pegar uma praia e o vendedor de biscoito globo chega te chamando pelo nome de algum personagem que você está interpretando, sabe? 

Então as coisas começam a se confluir e a se misturar. Eu gosto quando isso acontece, porque eu acho que elas vão ganhando organicidade. A minha pesquisa vem muito de material, do que eu posso ler sobre, do que eu posso assistir, do que eu posso entrar em contato para poder alimentar o meu imaginário acerca do tema, mas também eu me abro muito e me coloco em sensibilidade. Eu abro o meu campo sensível na minha própria vida e no meu dia a dia, buscando significantes, significados de algumas situações, confrontando elas com a ficção. 

Então eu tenho muito desse interesse. De tudo que eu consigo reunir para alimentar o meu imaginário, mas também dessas fricções com a realidade, que o tempo todo estão esbarrando na gente e construindo também um pouco nesse imaginário.

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(Helton Nobrega/divulgação)

Em que medida você busca ir além do roteiro para encontrar nuances pessoais para os personagens?

Acho que em todas as medidas tudo serve. Tudo que é informação, tudo que é atravessamento, tudo que é experiência de vida entra no nosso repertório de atuação, entra nas nossas ferramentas.

Acho que tem interesse também em poder imaginar essa história pregressa, tudo que veio antes e o que virá além do roteiro. O que continua quando essa história acaba de ser acompanhada? Porque a gente acompanha ali um fragmento dessa vida, um momento, um recorte, mas, e depois daqui, como vai ser? E o que veio antes? Me interessa muito sempre também o que vem antes do roteiro. Qual a história que está impressa nesse corpo e que não é dita em palavras? Tudo isso me interessa. 

E acho que todas as experiências que a gente vive contribui para isso, como fazer um curso de gastronomia. Em algum momento eu vou precisar de tudo que aprendi nesse curso para a cena. Parece que toda a experiência que a gente vive fica guardada como uma caixinha de ferramentas que você vai poder usar em algum momento. Então, todo tipo de conhecimento é muito bem-vindo nesse sentido, porque vai agregando muitas camadas ao nosso trabalho.

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(Helton Nobrega/divulgação)

Após esses dois papéis tão diferentes, quais rumos você quer dar à sua carreira? Está buscando mais personagens complexos, ficção, biografia, outros gêneros?

Olha, eu amo trabalhar e eu gosto quando o trabalho exige que eu me despedace para poder me remendar de novo. Eu gosto quando o trabalho exige que eu me reconstrua, me veja de outra forma e eu consiga realmente encontrar um lugar de existência ali que é diferente do meu. 

Acho que a composição tem me chamado muito, tem me interessado demais. Acho que a gente tem vivido um momento que está trabalhando muito o personagem de aproximação, buscando um elenco que se aproxima muito daqueles personagens e indo pouco para o lugar de personagens de composição, que é o cerne inicial do nosso trabalho de ser ator, a possibilidade de se transformar em qualquer coisa e de interpretar qualquer personagem. Isso me interessa muito, poder me distanciar de mim. 

É ótimo fazer personagens que se aproximam de mim e é maravilhoso quando a gente tem a possibilidade de ir para uma composição e apresentar realmente outro corpo, outra voz, um novo registro, um novo lugar de existência no mundo. Isso tem me interessado cada vez mais. E eu amo trabalhar, eu amo me desafiar nesse lugar do risco, atuar é sempre se jogar no risco.

Também quero muito voltar para o cinema, fazer os filmes, poder contar essas histórias que estão mais condensadas, mais específicas. O cinema me jogou no mundo, e é uma paixão, uma coisa que me desperta muito interesse em continuar fazendo.

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(Helton Nobrega/divulgação)

Como tem sido a experiência com “Guerreiros do Sol”? Sente mudança imediata na sua carreira e na relação com o público?

Bom, eu acho que Guerreiros do Sol é um trabalho muito específico pra mim, porque é um personagem que se distancia de mim, apesar de algumas confluências do Nordeste. É uma composição que mostra uma outra perspectiva do meu trabalho e me coloca em outro lugar. Ele amplia o meu leque, porque ele oferece muito em comparação aos personagens que eu vinha fazendo até então.

Guerreiros do Sol me trouxe uma composição de outro homem. Eu acho que é possível me ver de um jeito que nunca me viram antes no audiovisual. Então, sim, acho que tem uma mudança de perspectiva nesse sentido e o Zé do Bode teve muito o carinho das pessoas… Eu tenho recebido muitas mensagens sobre isso, as pessoas estão torcendo muito pelo casal, pelo envolvimento dele com Hildebrando Cheiroso, quando ele morre no 15º episódio, eu recebo muitas mensagens de pessoas chorando e dizendo que estão devastadas

É uma resposta imediata e boa de se ter, que o trabalho chegou nas pessoas, de aquilo que você gerou, que você batalhou, que você deu a vida está funcionando e chegando nas pessoas.

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(Helton Nobrega/divulgação)

Você tem alguma estratégia para evitar ser “rotulado” em papéis de certos tipos? Como quer ser visto no mercado daqui para frente?

Bom, eu acho que nenhum ator quer ser rotulado de fazer o único tipo de personagem, atores querem desafios, querem novos personagens, novas possibilidades e encarar novas realidades que ainda não foram encaradas. Eu quero ser visto como um ator que topa desafios, que faz compõe seus personagens por aproximação, mas que também faz por composição, e que é versátil, alguém que consegue se transformar. 

Acho que eu sigo muito nesse desejo de seguir trabalhando em muitas frentes de aproximação, de composição, seja tanto no cinema, como na TV ou no teatro. Tudo isso me move, me transforma muito e me dá um incentivo para ir além, para ter novas questões, novos impulsos, novos desejos, novos sonhos. 

Eu quero morrer fazendo isso e tenho um longo caminho pela frente. 

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(Helton Nobrega/divulgação)

Quais atores ou diretores você considera referências para seu trabalho, especialmente na construção de personagens densos?

Há muitos nomes… Eu acho que pensando no contexto brasileiro, temos muitos talentos da casa que são muito potentes e que trabalham construindo histórias brasileiras, que é o que interessa muito.

O Irandhir Santos é um ator que me atravessa muito e que me inspira muito também; Rodrigo Garcia foi meu parceiro agora em Guerreiros do Sol e é um ator que eu admiro há muito tempo, desde Tatuagem. O Marcelo Caetano é a minha escola de cinema, é um cara que eu admiro muito e que eu vejo com muita perspectiva de criação, admiro o trabalho dele, sigo torcendo e admirando e querendo trabalhar de novo; Kleber Mendonça Filho é um cineasta que acho que todos os atores querem trabalhar com ele, é um cara que está na ativa construindo a sua linguagem e levando todo mundo; o Gabriel Mascaro é um cara que eu quero muito trabalhar e admiro demais; o Gabriel Martins é outro diretor que eu admiro muito e sigo aqui acompanhando, torcendo, vibrando…

Enfim, são muitos nomes, são muitas possibilidades e são muitas admirações… É uma lista enorme que a gente pode passar o tempo inteiro falando sobre nomes e inspiradores da nossa arte.

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