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Sexta-Feira Muito Louca 2 e a metáfora atemporal da troca de corpos no cinema

Como a nova sequência com Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis resgata um subgênero irresistível que atravessa gerações

Ana Claudia PaixãoPor Ana Claudia Paixão
Atualizado em 1 ago 2025, 13h24 - Publicado em 1 ago 2025, 13h23
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Jamie Lee Curtis como Tess Coleman e Lindsay Lohan como Anna Coleman em Sexta-Feira Muito Louca 2 (Glen Wilson / Disney Enterprises, Inc/divulgação)
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Para Freud, a troca de corpos seria uma fantasia carregada de desejo inconsciente, uma maneira simbólica de lidar com conflitos de identidade, ambivalências familiares e pulsões reprimidas. É a dramatização do choque entre ego e realidade, e uma tentativa de resolução psíquica através da experiência do “ser o outro”. E é por isso que existe algo de muito humano — quase irresistível — na fantasia de trocar de corpo com outra pessoa.

Talvez seja curiosidade, talvez uma espécie de escapismo, ou quem sabe uma busca profunda por empatia. O fato é que esse desejo de viver a vida do outro, de enxergar o mundo com olhos que não são os nossos, acompanha a humanidade há séculos. Antes mesmo de o cinema existir, mitos e histórias populares já brincavam com essa ideia: deuses gregos que se transformavam em humanos para viver experiências mortais, contos budistas que falam de almas trocando de corpo como forma de evolução espiritual, e até a literatura vitoriana que flertava com a troca de identidades como forma de crítica social, como em O Príncipe e o Mendigo, de Mark Twain.

Mas foi no cinema que essa fantasia encontrou um palco cativante. A ideia de duas pessoas — geralmente muito diferentes — acordarem de repente nos corpos uma da outra e serem forçadas a viver as dores, rotinas e segredos do outro virou um subgênero. Tudo começa em 1940, com Matrimônio Invertido (Turnabout), um filme que mostra um casal trocando de corpo por mágica e tendo sua vida conjugal virada de cabeça para baixo. No Brasil, tivemos uma adaptação popular dessa fórmula com Se Eu Fosse Você, estrelado por Gloria Pires e Tony Ramos.

Na década de 1970, o clássico Freaky Friday da Disney (traduzido aqui como Se Eu Fosse a Minha Mãe) trouxe à tona a troca de corpo entre mãe e filha como metáfora para a incompreensão geracional, tema que seria revisitado inúmeras vezes. O filme ganhou novas versões em 1995 e 2003 — esta última, como Uma Sexta-Feira Muito Louca — que se tornou um marco da cultura pop, impulsionando as carreiras de Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan e marcando gerações com seu equilíbrio perfeito entre comédia física, emoção familiar e uma trilha sonora pop icônica.

O auge do subgênero foi nos anos 1980, com filmes como Vice Versa, 18 Again! e Quero Ser Grande (Big), que exploravam trocas de corpo e idade com humor e, muitas vezes, um toque de reflexão sobre identidade, empatia e os desafios da vida alheia. Posteriormente, surgiram variações mais ousadas, como The Hot Chick, The Change-Up, e até versões sombrias como Freaky, que cruzam o gênero da comédia com o suspense e o terror. O anime japonês Your Name (Kimi no Na wa) reinventou a troca de corpos com delicadeza, espiritualidade e poesia, mostrando que a fantasia pode ser também profunda e emocional.

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Em 2025, Sexta-Feira Muito Louca 2 traz de volta Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan para reprisar os papéis de Tess e Anna Coleman, respectivamente, numa sequência que expande o universo da história e as questões que ela explora. O filme entra em cartaz em todo Brasil no dia 7 de agosto.

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Jamie Lee Curtis como Tess Coleman e Lindsay Lohan como Anna Coleman em Sexta-Feira Muito Louca 2 (Glen Wilson / Disney Enterprises, Inc/divulgação)

Passaram-se 22 anos desde a primeira troca de corpos entre mãe e filha, e a vida das personagens evoluiu de forma natural e realista, acompanhando o tempo. Tess é agora uma psicóloga bem-sucedida, autora prestes a embarcar em uma turnê de lançamento de livro, esposa de Ryan (retornado Mark Harmon) e mãe e avó presente, ainda que às vezes ultrapasse os limites da convivência com a família. Anna, por sua vez, é mãe solteira e empresária da popstar Ella (Maitreyi Ramakrishnan), que enfrenta um término difícil, abalando sua criatividade e confiança. Anna tenta equilibrar a maternidade da adolescente Harper (Julia Butters) — uma surfista de 15 anos com dificuldades para se conectar com a mãe — com seu trabalho intenso. Além disso, Anna se apaixona por Eric Davies (Manny Jacinto), um chef de sucesso e pai solteiro que tem uma filha, Lily (Sophia Hammons), uma jovem britânica de 15 anos que resiste à ideia do novo relacionamento do pai.

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Essa nova dinâmica familiar — com o casamento e a fusão das duas famílias — gera tensões e desafios que refletem a complexidade das famílias contemporâneas, incluindo o papel dos avós, padrastos, meio-irmãos e a luta por espaço e identidade dentro do núcleo familiar.

No meio dessa turbulência, Tess e Anna se veem novamente envolvidas numa troca mágica de corpos — mas agora com uma reviravolta: Tess troca de corpo com Lily, enquanto Anna troca de lugar com Harper. Isso dá origem a situações hilárias, momentos de transformação pessoal e aprendizados geracionais profundos, especialmente ao viverem a adolescência uma da outra, com todos os dramas e descobertas que isso envolve.

Para Jamie Lee Curtis, Sexta-Feira Muito Louca foi um ponto de virada na carreira, não apenas pelo sucesso mundial, mas pela experiência única de um filme que se tornou atemporal, atravessando gerações por meio de sua mensagem universal sobre empatia, amor e compreensão entre mães e filhas, avós e netas.

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Ela lembra que o filme original foi uma das experiências mais livres e divertidas que já teve, mergulhando na personagem sem tempo para preparar, o que trouxe naturalidade e leveza à comédia física. Assim como ela, Lindsay Lohan guarda carinho especial pelo projeto por conta de sua sintonia com Curtis. Agora, mais madura e mãe, consegue se identificar ainda mais com a Anna e suas batalhas para conciliar carreira, maternidade e as dores da adolescência da filha.

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Julia Butters interpreta Harper Coleman, Lindsay Lohan volta como Anna Coleman, assim como Jamie Lee Curtis como Tess Coleman, e Sophia Hammons é Lily Davies Jamie Lee Curtis como Tess Coleman e Lindsay Lohan como Anna Coleman em Sexta-Feira Muito Louca 2 (Glen Wilson / Disney Enterprises, Inc/divulgação)

Mais do que uma comédia de troca de corpos, Sexta-Feira Muito Louca 2 é uma reflexão sobre o que define uma família, sobre identidade e sobre a necessidade de se colocar no lugar do outro para compreender suas dores e desafios. A troca física entre as personagens é uma metáfora para as trocas emocionais que acontecem no convívio familiar — quando mães se tornam amigas das filhas, quando adolescentes descobrem a complexidade do mundo adulto, e quando avós encontram novas formas de amor e conexão.

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E quanto às trocas de corpos? Hoje, já existem mais de 40 filmes com essa premissa. E o número só cresce quando a gente inclui séries, episódios isolados de animações, novelas e produções orientais. Porque a verdade é que essa fantasia nunca envelhece. Ela pode ser engraçada, trágica, romântica ou até aterrorizante — mas sempre parte da mesma pergunta: quem seríamos se estivéssemos na pele do outro? E será que ainda reconheceríamos a nós mesmos?

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Jamie Lee Curtis como Tess Coleman e Lindsay Lohan como Anna Coleman em Sexta-Feira Muito Louca 2[newsletter news_id="8" data-id-local="1" news_title="" news_description=""][/newsletter]

(Glen Wilson / Disney Enterprises, Inc/divulgação)

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