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Sing Sing: O artigo de revista que deu origem ao filme indicado ao Oscar

O longa protagonizado por Colman Domingo aborda o projeto Rehabilitation Through the Arts (RTA), que leva oficinas de arte para o sistema penitenciário

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 26 fev 2025, 17h09 - Publicado em 10 fev 2025, 08h00
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 (Imbd/reprodução)
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Durante a temporada do Oscar, grandes produções costumam se destacar, sendo repetidamente divulgadas e, muitas vezes – não por acaso –, premiadas em diversas categorias. A Academia comete equívocos, mas, ocasionalmente (poucas vezes), acerta. Entre os filmes indicados, sempre há narrativas poderosas, e esta edição se mostra particularmente forte nesse sentido.

Sing Sing é uma dessas obras que se tornaram marcos. Isso se deve a diversos fatores, mas, sobretudo, à decisão da produção de adotar um caminho distinto daqueles que Hollywood costuma tomar. No longa dirigido por Greg Kwedar (diretor de Jockey), acompanhamos Divine G (Colman Domingo), um homem preso por um crime que não cometeu e que encontra um novo propósito ao integrar um grupo de teatro na prisão. Junto a outros detentos, descobre na arte uma ferramenta de transformação. A chegada de um novo integrante desafia o grupo a explorar a comédia como forma de expressão, levando-os a encenar sua primeira peça cômica. Inspirado em uma história real, o filme tem no elenco atores que passaram pelo sistema prisional.

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Cena de “Sing Sing”, filme indicado ao Oscar 2025 (Imbd/reprodução)

Entre os diferenciais da obra, destaca-se a escolha de estreá-la simultaneamente nos cinemas e em penitenciárias, reafirmando que a arte é um direito de todos. Além disso, a produção adotou um modelo de remuneração igualitário, garantindo que todos os profissionais, independentemente da função, recebessem o mesmo salário—algo raro na indústria cinematográfica.

“Construímos um modelo baseado na igualdade. Todos no nosso filme, o elenco principal e a equipe — desde a estrela do filme até o grupo de pós-produção — trabalhamos pela mesma remuneração. E todos nós também possuímos coletivamente o filme”, declarou o diretor no podcast KCRW.

Onde assistir filme Oscar

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O filme concorre nas categorias de Melhor Ator (Colman Domingo), Roteiro Adaptado e Canção Original (“Like a Bird”). Seu roteiro tem origem em um artigo publicado em 2005 na Esquire pelo jornalista John H. Richardson. Intitulado “The Sing Sing Follies (A Maximum Security Comedy)”, o texto aborda o experimento Rehabilitation Through the Arts (RTA), uma organização sem fins lucrativos fundada em 1996 por Katherine Vockins na prisão de Sing Sing, Nova York. O programa oferece oficinas de teatro, música, dança, artes visuais e literatura em prisões de segurança máxima e média no estado. Parte do elenco do filme, inclusive, é formada por ex-integrantes do projeto.

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Cena de “Sing Sing”, filme indicado ao Oscar 2025 (Imbd/reprodução)

Richardson, como um bom jornalista, viu que essa história tinha potencial para virar uma grande reportagem, mas o que atraiu sua curiosidade foi descobrir a baixa taxa de reincidência entre os participantes. O método do programa não se baseia na punição, mas no teatro como ferramenta para aprimoramento da comunicação e desenvolvimento pessoal. No artigo, o jornalista examina tanto os aspectos mais duros dessa realidade—como os crimes cometidos—quanto os efeitos reparadores da arte. Muitos dos presos que ele entrevistou foram condenados por homicídio e permanecerão encarcerados pelo resto da vida.

Naturalmente, a narrativa também toca em questões estruturais do sistema penitenciário, como a superlotação, um problema que se estende dos Estados Unidos ao Brasil.

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Divine G (Colman Domingo), em “Sing Sing”, filme indicado ao Oscar 2025 (Imbd/reprodução)

“Ver assassinos cantando e dançando é algo estranho. Primeiro, você percebe—poxa, eles estão nervosos e empolgados, rindo timidamente, ávidos por reconhecimento, como qualquer outra pessoa. Depois, você se lembra do que fizeram para estar ali e sente vergonha, como se reconhecer sua humanidade fosse um ato de fraqueza. Esses caras não deveriam ser punidos?”, desabafa Richardson no artigo.

O superintendente de Sing Sing, Brian Fischer, então rebate: “Não estamos no ramo da punição. Ir para a prisão já é a punição. Nosso dever é manter um ambiente seguro e limpo.”

Fischer não menciona explicitamente a ideia de que literatura e arte são parte essencial da educação moral de um indivíduo, ampliando sua empatia pelos outros, mas essa noção está implícita no programa.

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O ator Colman Domingo, em “Sing Sing”, filme indicado ao Oscar 2025 (Imbd/reprodução)

No filme, um dos atores é Jon-Adrian “JJ” Velazquez, que passou 24 anos preso por um crime que não cometeu. Ele foi condenado pelo assassinato de um policial aposentado, mas posteriormente ficou provado que não estava no local do crime. Em 2021, recebeu até mesmo um pedido de desculpas do então presidente Joe Biden.

Já o personagem de Colman Domingo foi inspirado em John Whitfield, um dos fundadores do grupo de teatro em Sing Sing, que também afirma ter sido condenado injustamente. Desde sua libertação, em 2012, tornou-se romancista, roteirista, dramaturgo, ator, diretor e conselheiro de jovens em Nova York, além de ter escrito oito livros e recebido cinco prêmios de escrita. Em Sing Sing, ele atua como produtor e faz uma participação especial, enquanto Colman Domingo interpreta sua versão ficcional.

Sing Sing estreia em 13 de fevereiro nos cinemas.

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