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Susanna Lira revela processo de costura do doc. sobre Fernanda Young

Com exclusividade para Bravo!, cineasta compartilha os bastidores do filme "Fernanda Young – Foge-me ao Controle", que acaba de chegar aos cinemas

Por Susanna Lira
Atualizado em 26 set 2024, 09h48 - Publicado em 29 ago 2024, 09h00
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Susanna Lira, diretora do documentário "Fernanda Young: Foge-me ao controle" (Leo Martins/divulgação)
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“Evocar Fernanda Young foi como tentar capturar o vento em uma garrafa. Sua essência, intensa e multifacetada, exigiu mais do que apenas uma densa pesquisa; demandou coragem para mergulhar em sua obra e desvendar o que se escondia por trás de suas palavras afiadas, de suas ironias cortantes, de sua vulnerabilidade velada.

Cada sequência construída era a aposta no risco, onde a linha entre o real e o imaginário se confundia, refletindo a própria natureza da escritora. Havia o desafio de manter a fidelidade à sua verdade sem diluir a ousadia que a caracterizava. A narrativa, assim como sua obra, precisava ser irreverente, mas também profundamente humana, tocando em questões que ela mesma tantas vezes abordou com destemor e autenticidade.

A linguagem poética do filme se tornou um elemento central na tentativa de encapsular a essência de Fernanda Young. Em vez de seguir uma narrativa linear ou convencional, optamos por uma abordagem mais sensorial e evocativa, onde as palavras, as imagens e os silêncios se entrelaçaram como versos de um poema. A trilha, genialmente composta por Flava Tygel, se movia com a leveza de um sussurro, às vezes ágil e frenético, em outras, lenta e contemplativa, refletindo as nuances e os contrastes presentes na personalidade de Fernanda.

A escolha das imagens foi resultado de um garimpo visual que buscava revelar os múltiplos aspectos da escritora, trabalho esse que foi brilhantemente feito por Clara Eyer, Italo Rocha e Rebecca Moure.  Não se tratava apenas de ilustrar sua trajetória, mas de criar uma colagem visual que dialogasse com sua complexidade. Foram horas e horas mergulhadas em arquivos, em fotografias, em desenhos, vídeos caseiros, entrevistas esquecidas, trechos de programas de TV e momentos pessoais que, até então, pertenciam apenas à intimidade da memória. Esse foi um dos maiores desafios do filme, pois exigiu que se capturasse a alma de uma mulher que sempre se recusou a ser simplificada ou categorizada. As imagens precisavam transmitir sua irreverência, sua paixão, seus medos e contradições, sem jamais cair na armadilha da superficialidade. Assim, o filme se tornou um mosaico poético, onde cada fragmento visual se unia para compor uma homenagem à vida e à obra de Fernanda Young, refletindo a intensidade, a complexidade e a beleza indomável de quem ela foi.

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Cada imagem escolhida carregava um peso simbólico, como se fosse uma palavra-chave em um poema. A literatura que ela amava, os cadernos de anotações rabiscados com suas ideias inquietas, tudo era cuidadosamente entrelaçado para formar uma narrativa visual que não apenas contava, mas sentia. Tudo foi pensado para evocar as emoções que suas palavras muitas vezes expressavam de forma crua e direta.

O ritmo da montagem de ítalo Rocha foi deliberadamente irregular, refletindo o caráter inconstante e surpreendente de sua personalidade. As transições não seguiam uma lógica convencional; em vez disso, eram guiadas por associações intuitivas, por sentimentos, por ideias que emergiram e se dissolveram, criando uma estrutura que refletia a fluidez do pensamento de Fernanda.

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“Fernanda Young – Foge-me ao Controle” (Festival é tudo verdade/divulgação)

A montagem foi pensada para dialogar com a linguagem poética de como a personagem retratada se expressava. Imagens e palavras se entrelaçam, muitas vezes se complementando, outras vezes se contrastando, criando uma camada adicional de significado. Uma frase cortante de Fernanda podia ser seguida por uma imagem lírica, ou vice-versa, criando uma tensão que mantém o espectador constantemente alerta, navegando entre o intelecto e a emoção. A montagem do filme não buscava apenas narrar uma história, mas sim criar uma experiência sensorial e emocional que ressoasse com a intensidade e a autenticidade de Fernanda Young. Cada decisão de corte, cada escolha de ritmo, foi feita com a intenção de honrar sua memória de forma que refletisse não apenas quem ela era, mas como ela fazia o mundo sentir.

Durante o processo, as palavras escritas por ela emergiram com um vulcão lançando larvas pelo roteiro do filme. Momentos de dúvida se misturavam com o reconhecimento da grandiosidade do que estava sendo feito, como se a própria Fernanda, em algum lugar entre o aqui e o além, desafiasse cada escolha, cada corte, cada palavra dita ou omitida.

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Produzir este documentário foi como caminhar sobre uma corda bamba, equilibrando a admiração com o respeito pela complexidade de uma mulher que nunca se rendeu à simplicidade. É preciso dizer que sem Alexandre Machado e Eugenia Ribas esse filme jamais teria ganhado vida. Eles seguraram na minha mão nos momentos mais difíceis e não me deixaram sozinha no caminho. Por fim, o desafio maior foi deixar que o espírito livre de Fernanda Young voasse por entre as imagens, sem jamais ser capturado por completo, porque ela, como o vento, não foi feita para ser contida.”

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cartaz do filme (IMDB/reprodução)
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