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100 livros essenciais: “Bagagem” é fenômeno poético de Adélia Prado

Publicado já na maturidade da poeta, livro revela uma autora preocupada com a fé católica e a paixão pela existência

Por Redação Bravo!
Atualizado em 17 jul 2024, 19h43 - Publicado em 28 jun 2024, 09h00
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A poeta Adélia Prado (Luigi Mamprin/acervo rede Abril)
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Nascida em Divinópolis, Minas Gerais, em 1935, a poeta e educadora Adélia Prado lançou seu primeiro livro, Bagagem, já na maturidade, em 1976. Foi indicada a um editor por Carlos Drummond de Andrade, que viu nela um “fenômeno poético”. Tornou-se conhecida e admirada rapidamente. Tanto que, apenas um ano depois, voltava à cena com seu segundo livro, O Coração Disparado (1977), ao qual se seguiram muitas outras publicações.

Para a crítica Nelly Moraes Coelho, há três grandes influências na obra de Adélia: Drummond, Guimarães Rosa, com seu Grande Sertão: Veredas, e a Bíblia. O primeiro fornece a noção do efêmero, característica de sua obra, mas mesclada à eternidade bíblica. O resultado é uma nova concepção de mundo, que seria pressentida apenas pelos poetas. Outros temas de Drummond aparecem evidentemente parafraseados em Bagagem. Aqui, a poeta recusa o mal-estar da cidade pequena e as frequentes angústias na relação do eu lírico com o mundo.

Logo na abertura do livro, em Com Licença Poética, ela já afirma: “Vai ser coxo na vida é maldição pra homem./ Mulher é desdobrável. Eu sou”, em referência ao Poema de Sete Faces (1930), no qual o escritor recebe a intimação do anjo torto para ser gauche na vida.

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Já em Agora, ó José, a figura criada pelo poeta mineiro recebe uma dose de encorajamento diante das agruras da vida. Adélia, diferentemente de seu conterrâneo, enxerga o cotidiano sempre com esperança e paixão pela existência. Ela aceita a “máquina do mundo”, que se revela pela plenitude divina.

Em Guimarães Rosa, a poeta encontra a magia e a vivacidade do universo rural, representado sempre como fonte de revelações, de descoberta no plano espiritual. Contudo, ela não utiliza o questionamento metafísico comum aos personagens de Grande Sertão. O lado transcendental está nas referências católicas — expressas em epígrafes bíblicas que antecipam as partes dos livros e na dimensão divina responsável por conceder à artista sua potencialidade criadora. A ela caberia nomear o mundo e a vida à sua volta, fundindo dor e alegria. Não se trata de uma atitude cerebral, como a defendida por João Cabral de Melo Neto, mas de sensações.

O erotismo, a liberação feminina e as peculiaridades da poesia são outros temas constantes nos textos de Adélia. A abordagem é a da dona de casa que trata tudo com a mesma simplicidade das tarefas cotidianas. Ela se autoafirma sem medo, com a força que viria de Deus.

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Em seu provincianismo, não há tédio ou melancolia, como em Drummond. Pelo contrário: as pequenas coisas são cheias de significado, tornando-se universais. Segundo o professor José Helder Pinheiro Alves, o veio popular também se faz presente em poemas de caráter narrativo, como a prosa tradicional mineira.

O caso e a conversa constituem a estrutura da poesia, que faz uso da fala coloquial para criar a vitalidade das imagens. Nesse ponto, ressalta-se a força que a sonoridade assume na poesia de Adélia. As vozes e os sons são matéria importante para transmitir aos versos as sensações que emanam do ambiente e das coisas.

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Bravo! especial: 100 livros essenciais da literatura brasileira (Bravo!/arquivo)
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