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100 livros essenciais: “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto

Marginalizado social e literariamente em vida, o autor consagrou-se com a história do quixotesco e nacionalista Policarpo Quaresma

Por Redação Bravo!
Atualizado em 26 jun 2024, 11h28 - Publicado em 26 jun 2024, 10h00

Lima Barreto não conheceu notoriedade em vida. Foi preciso que o tempo lhe fizesse justiça. Triste Fim de Policarpo Quaresma, sua obra mais famosa, publicada em forma de folhetim (1911) e depois em livro (1915), se consolidou como um clássico porque nasceu de um lance de gênio e traduziu os impasses do Brasil de seu tempo.

No romance, o major Policarpo Quaresma vive de idealismos nacionalistas. A primeira parte relata sua vida como um funcionário público que vive em seu gabinete cercado de livros, alimentando uma imagem distorcida do país; a segunda, como proprietário rural, em que percebe que as terras brasileiras não eram férteis como imaginava e que as saúvas são arrasadoras para as plantações; e a terceira, como soldado voluntário na Revolta da Armada, em 1893, quando se decepciona — em capítulo antológico — com o seu idealizado marechal Floriano Peixoto. Ao criticá-lo, é preso.

Quando Quaresma se dá conta da própria postura quixotesca, está prestes a ser executado pelo Exército. Ele queria basicamente três reformas: da cultura, da agricultura e da política, mas não consegue nenhuma. Seu sonho mais singular foi oficializar o tupi-guarani como idioma brasileiro.

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Certas desventuras e desencantos do protagonista poderiam até ser vistos como os do próprio autor, mas seu brilhantismo nesse romance específico passa ao largo da autobiografia.

Lima Barreto nasceu em 1881, no Rio de Janeiro, cidade onde faleceu em 1922. Filho de mestiços, carregou problemas ao longo da vida. Além do preconceito racial de que foi vítima, ficou órfão de mãe aos 7 anos e mais tarde viu o pai enlouquecer; tendo de amparar a família, não conseguiu terminar o curso na Escola Politécnica. Enfrentou depressão e alcoolismo e foi internado duas vezes no Hospício Nacional.

As motivações ficcionais de Barreto deveram-se antes a um intelectual combativo que, também marginalizado no meio literário, expressava as contradições de uma sociedade que ainda vivia a transição da monarquia para a república. A ironia do escritor levou parte da crítica a aproximá-lo de Machado de Assis no retrato sarcástico desse momento histórico.

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O livro Triste Fim de Policarpo Quaresma se insere no pré-modernismo brasileiro pela forma e temas que desenvolve. A rejeição de Barreto ao eruditismo e ao rebuscamento estilístico se explica como uma postura de oposição à chamada elite literária; com isso, seu coloquialismo antecipava características modernistas. A “apresentação pitoresca de costumes”, como aponta Antonio Candido, se filia também ao humor que a Semana de 22 defenderia.

Segundo ainda esse crítico, as obras de Lima Barreto são dirigidas contra o pedantismo, a falsa ciência, as aparências hipócritas da ideologia oficial. Exemplar desses temas é seu famoso conto O Homem que Sabia Javanês (1916). Escreveu também os romances Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), Numa e a Ninfa (1915), Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), Os Bruzundangas (1922), o livro de contos Histórias e Sonhos (1953) e o de memórias O Cemitério dos Vivos (1953), sobre sua passagem pelo hospício. Colaborou intensamente na imprensa com crônicas e artigos em que tratou impiedosamente da cultura, da política e dos costumes do Rio de Janeiro.

Este texto foi originalmente publicado em 2009 como parte no Ranking especial da Revista Bravo!: 100 livros essenciais da literatura brasileira

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