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Agenda literária de abril: confira os lançamentos

As obras abordam identidade, memória e tensões sociais em diferentes formatos narrativos

Por Redação Bravo!
9 abr 2025, 07h00
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 (Arte/Redação Bravo!)
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O mês de abril traz uma série de lançamentos literários que exploram diferentes abordagens da memória, da identidade e das relações sociais, além de unir diferentes linguagens artísticas. Em Entre silêncio, palavra e delírio, Natalie Salazar investiga suas origens judaico-polonesas por meio de uma pesquisa visual e poética iniciada na Casa do Povo, em São Paulo. Já Casa Grande Sem Senzala, estreia de Patricia Brito Knecht, acompanha artistas em uma residência marcada pela tensão entre passado colonial e criação coletiva. Na ficção internacional, Garota Invisível, de Lisa Jewell, combina suspense psicológico e crítica social em uma trama de desaparecimento e segredos ocultos.

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(Editora & Galeria Degustar/divulgação)

Entre silêncio, palavra e delírio (Editora & Galeria Degustar, 2025), Natalie Salazar

Entre silêncio, palavra e delírio, de Natalie Salazar, é um livro que investiga memórias familiares, identidade e silenciamento por meio da relação entre texto, imagem e experimentação gráfica. Fruto de uma residência na Casa do Povo, em São Paulo, a obra nasce da pesquisa da artista sobre seus avós judeus poloneses e sua conexão com a língua iídiche, presente em livros antigos que encontrou na biblioteca da instituição. Sem dominar o idioma, Salazar transforma esse encontro em um processo poético de reconstrução da memória.

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(Black Brazil Art/divulgação)

Casa Grande Sem Senzala (Black Brazil Art, 2025), Patricia Brito Knecht

Casa Grande Sem Senzala, novela de estreia de Patricia Brito Knecht, e primeiro título de ficção da Black Brazil Art, acompanha oito artistas de diferentes origens durante uma residência artística imersiva em um antigo sobrado colonial, espaço marcado pelas memórias do período escravocrata. Ao longo de três meses, os participantes estabelecem trocas afetivas e sensoriais, enfrentando questões identitárias e estruturais ligadas à herança colonial. A narrativa transita entre erotismo, resgate ancestral e transformação, convertendo o sobrado – antes símbolo de opressão – em um território subvertido pela criação e acolhimento.

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(Intrínseca/divulgação)

Garota Invisível (Intrínseca, 2025), Lisa Jewell

Aos dez anos, Saffyre Maddox viveu um trauma profundo que a marcou para sempre. Após três anos de terapia com o psicólogo Roan Fours, ela recebe alta, mas se sente abandonada e começa a observar de perto a vida de seu ex-terapeuta — descobrindo segredos que ele preferiria manter ocultos. Na mesma rua, vive Owen Pick, um homem solitário de 33 anos, recentemente suspenso do trabalho após uma acusação de assédio que ele nega. Isolado, Owen encontra refúgio em fóruns obscuros da internet, onde se conecta com uma figura enigmática. Quando Saffyre desaparece misteriosamente perto da casa de Owen, ele se torna o principal suspeito. Mas será ele realmente culpado, ou há verdades ainda mais perturbadoras escondidas por trás de aparências comuns?

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(Vestígio/divulgação)

Uma história da velhice no Brasil (Vestígio, 2025), Mary Del Priore

A historiadora Mary Del Priore traça um panorama das formas como os idosos foram vistos e tratados ao longo dos séculos no país. A partir de ampla pesquisa documental, o livro percorre desde as tradições indígenas até os dilemas atuais do envelhecimento populacional, passando por perspectivas da Igreja, da medicina e da cultura. A obra revela como a velhice já foi associada tanto à sabedoria quanto à exclusão, e como essas visões foram moldadas por fatores sociais, políticos e econômicos. Mais do que um estudo histórico, o livro convida à reflexão sobre o modo como a sociedade brasileira encara o envelhecimento hoje — e os caminhos possíveis para um futuro mais digno e inclusivo.

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(Fósforo/divulgação)

A boba da corte (Fósforo Editora, 2025), Tati Bernardi

Em A boba da corte, Tati Bernardi parte de um episódio aparentemente banal — um mal-entendido de endereço durante sua festa de 43 anos — para mergulhar em uma crise de pertencimento social. O pânico desencadeado pela confusão entre a rua Maranhão, em Higienópolis, e o Largo do Maranhão, no Tatuapé, bairro onde cresceu, revela tensões profundas entre origem e ascensão de classe. Com o humor ácido já característico de seus livros anteriores, Bernardi constrói uma narrativa autoficcional que mistura crítica social, memórias familiares e reflexões sobre a elite progressista brasileira. O romance se insere na tradição da autossociobiografia, mas com uma voz única: irônica, mordaz e sem concessões, inclusive com ela mesma. O resultado é um retrato desconcertante e cômico da experiência de quem tenta, sem sucesso, habitar dois mundos.

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(WMF Martins Fontes/divulgação)
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Desaparecer (WMF Martins Fontes, 2025), Maria Stepánova

Às vésperas dos 50 anos, M., uma escritora em trânsito para um evento literário, vê sua rota interrompida por imprevistos que a afastam das obrigações cotidianas. Em meio a cidades desconhecidas, museus discretos e hotéis simples, ela se desconecta aos poucos — até mesmo do próprio celular. Essa pausa inesperada desperta o desejo de desaparecer, de se dissolver em meio à diversidade anônima das estações e das ruas. É nesse percurso errante que cruza com uma trupe de circo. Já quase invisível, oferece-se como figurante, encontrando no picadeiro uma nova forma de presença: efêmera, silenciosa, mágica. Longe das perguntas sobre origem e pertencimento, M. ensaia o desaparecimento como forma de liberdade.

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(WMF Martins Fontes/divulgação)

Ao lado de Lina (WMF Martins Fontes, 2025), Marcelo Ferraz

Marcelo Ferraz reúne neste livro textos sobre sua convivência profissional e afetiva com Lina Bo Bardi, buscando oferecer um olhar sensível e crítico diante da imagem hoje muitas vezes idealizada da arquiteta. Além dos escritos de Ferraz, a obra traz uma entrevista inédita de Lina concedida ao jornalista Fábio Altman, originalmente feita para a revista Veja, e uma conversa extensa entre Marta Bogéa, Augusto Massi e o próprio autor.

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(Todavia/divulgação)

Leme (Todavia, 2025), Madalena Sá Fernandes

Madalena Sá Fernandes narra a infância de uma menina marcada pela presença de um padrasto violento e imprevisível. Paulo, que entra em sua vida aos seis anos, inicialmente parece um cuidador atencioso, mas logo revela um comportamento agressivo e controlador, transformando o cotidiano familiar em um ambiente de medo. Romance de estreia da autora, Leme foi aclamado pela crítica e por entidades de combate à violência doméstica em Portugal. A obra combina denúncia e literatura com sensibilidade, explorando as zonas ambíguas das relações humanas, onde convivem afeto, dor e contradição.

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(Todavia/divulgação)

A trama das árvores (Todavia, 2025), Richard Powers

Em A trama das árvores, diferentes personagens são misteriosamente convocados pelas árvores: um oficial se salva ao cair sobre uma figueira, um artista herda o registro fotográfico de uma castanheira centenária, uma estudante revive após a morte com a ajuda de seres etéreos, e uma cientista desacreditada descobre a comunicação entre árvores. Junto a outros cinco desconhecidos, eles se unem em um último esforço para preservar os fragmentos restantes de floresta virgem na América. Entrelaçando múltiplas vozes, Richard Powers constrói uma narrativa sobre a urgência da conexão entre humanos e a natureza. Um universo paralelo – denso, criativo e quase invisível – revela-se àqueles dispostos a escutar, mesmo diante do colapso iminente.

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(Todavia/divulgação)

Abdias, intérprete do Brasil: Textos sobre raça e cultura brasileira de 1940 a 1990 (Todavia, 2025), Org. Túlio Custódio 

Figura central da luta antirracista no Brasil, Abdias Nascimento tem ganhado nova visibilidade com a reedição de obras fundamentais como Genocídio do negro brasileiro e Quilombismo, além de exposições dedicadas à sua produção artística. Ainda assim, seu legado segue frequentemente restrito a uma abordagem setorial, como se sua contribuição se limitasse ao debate racial.

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(Todavia/divulgação)
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Homens elegantes (Todavia, 2025), Samir Machado de Machado

Homens elegantes narra as aventuras de Érico Borges, um agente secreto luso-brasileiro, culto e perspicaz, enviado à Londres do século XVIII em plena Revolução Industrial, a mando do futuro marquês de Pombal. Sua missão: investigar a origem de um panfleto erótico que anda escandalizando Lisboa. Educado nos clássicos proibidos e aficionado por livros contrabandeados de Shakespeare a Montaigne, Borges se move entre salões aristocráticos e submundos da capital britânica, revelando a vibrante — e pouco retratada — cena gay georgiana. O romance mistura intriga, espionagem e desejo, com direito a reviravoltas dignas de uma mesa de whist, e homenagens literárias que vão de Umberto Eco a Calvino, com ecos dos jogos Assassin’s Creed e das aventuras capa-e-espada do cinema clássico.

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(Companhia das Letras/divulgação)

O sentido das águas: Histórias do rio Negro (Companhia das Letras, 2025), Drauzio Varella

O sentido das águas é fruto de mais de três décadas de expedições de Drauzio Varella pela bacia do rio Negro. Com olhar atento, sensível e profundamente humano, o autor reconstrói essa travessia por paisagens grandiosas e encontros marcantes, oferecendo ao leitor um retrato vívido e tocante de uma das regiões mais belas e enigmáticas do país.

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(Companhia das Letras/divulgação)

Caixa 19 (Companhia das Letras, 2025), Claire-Louise Bennett

Na periferia de uma cidade industrial a oeste de Londres, uma jovem estudante, fascinada por suas primeiras experimentações literárias, preenche as páginas de seu caderno com histórias. Enquanto trabalha como operadora de caixa num supermercado (o caixa 19 que dá título ao livro), a narradora — uma mulher anônima por volta dos quarenta anos — conhece um homem russo que lhe oferece Além do bem e do mal, de Nietzsche. É o início de uma jornada interior que atravessa estilos narrativos fluidos — da primeira à terceira pessoa — e revela uma mente em combustão criativa. Nos livros, ela encontra não apenas abrigo, mas também espelho, linguagem e escape: uma forma de entender a si mesma e o mundo ao seu redor, que parece sempre um pouco opaco, alheio, hostil.

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(Companhia das Letras/divulgação)

Adeus a Berlim (Companhia das Letras, 2025), Christopher Isherwood

Em 1929, o britânico Christopher Isherwood embarcou para Berlim em busca de algo que sua Inglaterra natal parecia incapaz de oferecer: liberdade, especialmente a sexual. A primeira estadia, de apenas dez dias, bastou para deixá-lo fascinado — a ponto de retornar em definitivo poucos meses depois, em novembro daquele mesmo ano. A cidade, vibrante e à beira do colapso, tornaria-se o cenário e a matéria-prima de Adeus a Berlim, romance semiautobiográfico que captura com delicadeza e ironia os últimos suspiros da República de Weimar, à sombra do avanço iminente do nazifascismo.

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(Companhia das Letras/divulgação)

Na ponta da língua: O nosso português da cabeça aos pés (Companhia das Letras, 2025), Caetano W. Galindo

Partindo do corpo humano como mapa e guia — da cabeça aos pés, literalmente — Caetano W. Galindo nos conduz por uma viagem saborosamente linguística, revelando como nosso “pescoço” já foi “poscoço” e o que, afinal, o joelho tem a ver com uma almofada. Com sua prosa espirituosa, cheia de ritmo e ironia afetuosa, Galindo transforma o estudo da linguagem em espetáculo: um stand-up filológico, onde cada piada esconde uma lição.

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(Companhia das Letras/divulgação)

Fronteiras da cidadania: Uma história negra e indígena do Brasil pós-colonial (Companhia das Letras, 2025), Yuko Miki

A historiadora nipo-americana Yuko Miki lança luz sobre o entrelaçamento das trajetórias negra e indígena no Brasil para revelar como pessoas escravizadas, comunidades quilombolas e povos originários não apenas resistiram ao domínio colonial e estatal, mas também reinventaram as formas de pertencer e de fazer política. Em meio a estruturas excludentes, foram eles que, com criatividade e insistência, desafiaram os limites do pertencimento e forjaram visões alternativas de cidadania. O livro não apenas reconstrói a atuação histórica dessas populações, com todas as suas complexidades e tensões, mas também as reconhece como portadoras de saberes cruciais para repensarmos o Brasil.

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(Fósforo/divulgação)

Cenas da sujeição (Fósforo, 2025), Saidiya Hartman

A partir de uma impressionante variedade de fontes — de testemunhos de ex-escravizados e anotações das plantations a letras da cultura popular, manuais pedagógicos e arquivos judiciais —, Hartman traça um arco perturbador que revela como os dispositivos de controle, punição e desumanização forjados na escravidão atravessaram a abolição e continuam operando nas entranhas da vida social contemporânea. A continuidade entre os grilhões do passado e os episódios atuais de brutalidade policial, que catalisaram o movimento Black Lives Matter, torna-se, sob sua análise, evidente e incontornável.

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(Zain/divulgação)

Os peixes também sabem cantar (Zain, 2025), Halldór Laxness

No centro da narrativa está Álfgrímur, menino órfão criado por avós adotivos em uma casa modesta nos limites da cidade que então começava a se firmar como capital. Com prosa sinuosa e permeada de afetos, o romance entrelaça memória coletiva, tradição oral e mitologia local para abordar o nascimento de uma identidade — tanto de um jovem quanto de um país. A trajetória de Álfgrímur ecoa o movimento da própria Islândia: uma sociedade em ebulição, balançando entre os resquícios do domínio colonial e o desejo de afirmar-se com autenticidade. Ele é filho da sabedoria popular, nutrido pelos ensinamentos silenciosos do cotidiano, mas também fascinado por Garðar Hólm, cantor lírico aclamado internacionalmente e símbolo de uma sedutora ideia de sucesso e reconhecimento exterior.

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(7Letras/divulgação)

Sempre é outra superfície (7Letras, 2025), Sandra Ling

Combinando poesia e artes visuais, Sempre é Outra Superfície, de Sandra Ling, convida o leitor a explorar diferentes paisagens sensoriais e emocionais. A autora une sua experiência como artista plástica à escrita poética para construir um livro que dialoga com cores, formas e sentimentos. Cada palavra funciona como uma pincelada que revela impressões do tempo e da natureza. Dividida em três partes — Das Primaveras e Outonos, De Todas as Águas e Da Seiva Bruta —, a obra estabelece uma relação entre os ciclos naturais e os estados afetivos humanos. A escrita de Sandra revela uma visão visual do mundo, em que os versos captam instantes de luz, sombra e movimento.

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(A+M/divulgação)

Úrsula e Escrava (A+M, 2025), Maria Firmina dos Reis

A Editora Landmark, por meio do selo A+M, lança uma edição especial que reúne “Úrsula” (1859) e “A Escrava” (1887), obras essenciais de Maria Firmina dos Reis, pioneira da literatura abolicionista no Brasil. Publicado em capa dura e com texto integral, o volume celebra o legado da autora maranhense, que foi a primeira mulher negra a escrever um romance no país. Em “Úrsula”, Maria Firmina denuncia a crueldade da escravidão com uma narrativa sensível que humaniza os personagens negros — um gesto raro na literatura do século XIX. Já em “A Escrava”, conto lançado às vésperas da abolição, a autora reforça sua militância ao retratar, por meio do drama de Joana, a resistência das mulheres negras diante da opressão.

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