Amor Fati: o conceito de Nietzsche que virou febre nas redes
A ideia propõe uma aceitação radical da vida como ela é, com todas as suas dores, belezas e inevitabilidades

Explicar resumidamente qualquer conceito filosófico já parece, por si só, uma tarefa imprudente. Isso se acentua quando o autor da ideia é ninguém menos que o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche. Isso se deve, sobretudo, ao fato de que Nietzsche não escreve como um filósofo sistemático. Ele rejeita os tratados acadêmicos e adota um estilo aforístico, poético e provocador. Seus textos mesclam filosofia, poesia, crítica cultural, psicologia e até ironia. Essa multiplicidade de abordagens torna suas ideias ambíguas e abertas a múltiplas interpretações.
É possível debater durante horas apenas um de seus conceitos. Não à toa, suas ideias, muitas vezes fragmentadas, continuam sendo tema de teses e dissertações mais de um século após sua morte.
Uma de suas concepções voltou a cativar a audiência nas redes sociais recentemente. Ou talvez tenha sido apenas redescoberta, como tantas vezes acontece com suas formulações, que jamais deixam de encontrar novos públicos. Desta vez, trata-se do conceito Amor fati, traduzido como “amor ao destino”.
A ideia aparece no livro A Gaia Ciência. Confira o trecho:
“Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas. Amor-fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!”
Uma primeira interpretação diz respeito à aceitação da imanência, algo que tem em si próprio o seu princípio e o seu fim. De forma mais vulgar, uma das perguntas que se pode fazer antes de entrar no sentido do conceito é: como é possível aceitar a vida, dar sentido a ela, sabendo de seu fim, diante do vazio?
A ideia, portanto, mergulha na aceitação radical da vida tal como ela é, com suas dores, perdas, alegrias e imperfeições, sem ressentimento, negação ou arrependimento.
“Minha fórmula para a grandeza no ser humano é amor fati: não querer que nada seja diferente, nem no futuro, nem no passado. Não apenas suportar o necessário, ainda menos escondê-lo… mas amá-lo”, declarou o filósofo.