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Coleção Todos os Livros de Machado de Assis reúne obra completa do autor

Publicado pela Todavia em edição limitada de 500 exemplares, box de colecionador tem 26 volumes entre poesias, peças de teatro, contos e romances

Por Revista Bravo!
Atualizado em 7 nov 2023, 11h39 - Publicado em 7 nov 2023, 11h36

Foram quatro anos de pesquisa e edição com mais de 20 profissionais envolvidos (entre designers, leitores críticos,
preparadores, consultores, revisores técnicos e editores). Tudo para compilar a obra completa de um dos maiores escritores da nossa literatura: Machado de Assis.

Da estreia, em 1861, com a peça “Desencantos”, ao último romance, “Memorial de Aires”, de 1908, passando por clássicos como “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881), “Quincas Borba” (1891) e “Dom Casmurro” (1899), a coleção Todos os livros de Machado de Assis reúne cronologicamente os 25 títulos do autor, entre poesia, teatro, conto e romance com tudo o que Machado escreveu e publicou; e também um volume extra, intitulado Terras, dedicado ao trabalho do escritor como servidor público, função que exerceu por mais de quarenta anos, tratando de questões cruciais para o país.

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(Todavia/divulgação)

Recém-lançados, os livros que compõem a coleção só poderão ser adquiridos por meio de uma caixa especial, com tiragem limitada de 500 exemplares. A partir do primeiro semestre de 2024, os títulos serão comercializados separadamente.

Com texto estabelecido a partir de edições revistas pelo autor, apresentações inéditas para cada livro e projeto gráfico que se inspira na tipografia das edições originais, a caixa condensa um trabalho editorial de rara envergadura, ampliando
as leituras possíveis de uma obra que continua a nos desafiar. “A coleção contém as obras-primas que Machado produziu em todos os gêneros que praticou, mas ressalta também a trajetória do escritor, pelo teatro e pela poesia, pelos contos e romances iniciais, até chegar às alturas a que chegou. Ou seja, em vez de destacar apenas os grandes resultados, a coleção ressalta também o processo”, explicou Hélio de Seixas Guimarães, autor do projeto, professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo, pesquisador do CNPq e especialista na obra do escritor. “Machado de Assis não nasceu pronto. Ele se tornou Machado de Assis contando sem dúvida com um talento, uma sensibilidade e uma inteligência raras, mas também por meio de muito trabalho, de um aperfeiçoamento e domínio crescentes das técnicas da escrita”, completou em comunicado para imprensa.

Em toda a coleção, as anotações sobre a presença da questão racial nos escritos de Machado de Assis ficaram a cargo de Paulo Dutra, professor na Universidade do Novo México (EUA) e consultor da coleção. Todos os 26 volumes têm a ortografia atualizada, com indicação, nos aparatos críticos, das variantes ainda admitidas na língua e registradas no Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (exemplos: cousas, prescrutador, tacto, subtil). Outra curiosidade é que a pontuação do escritor foi respeitada, mesmo quando soa estranha para o leitor de hoje. “Quisemos nos aproximar o máximo possível da dicção do escritor, que por meio do uso muito peculiar de vírgulas, pontos e vírgulas e travessões deixa implícito um ritmo de leitura muito peculiar”, analisa Hélio.

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(Todavia/divulgação)

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, em 1839. Filho de mãe açoriana e de pai afrodescendente, publicou mais de 20 livros entre 1861 e 1908, ano de sua morte. Há mais de 100 anos, Machado de Assis está no centro dos debates sobre a literatura, a cultura e a formação social brasileira, envolvendo questões de classe, gênero e raça. Confira abaixo todos os títulos e sinopses que compõem a coleção Todos os livros de Machado de Assis e compre o seu livro aqui:

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Coleção Machado de Assis da Todavia

– “Desencantos”, de 1861: é o primeiro livro autoral de Machado de Assis. A peça conta a história de Clara de Sousa, uma viúva às voltas com a escolha entre dois pretendentes, de caracteres diversos e complementares. Escrita em momento de plena circulação das ideias românticas no Brasil, a obra aproveita-se de temas, tipos e valores vigentes, mas tinge tudo
de uma mistura de graça e desilusão.

-“Teatro”, de 1863: é o segundo livro de Machado de Assis. Foi publicado apenas dois anos após Desencantos (1861), que marcou sua estreia. As duas peças que o compõem, “O caminho da porta” e “O protocolo”, têm somente um ato. A ação é situada em espaço pouco definido, mas identificado com o do Rio de Janeiro, e envolve os jogos amorosos entre homens e mulheres da elite fluminense. Considerando as duas protagonistas deste volume, observa-se como as mulheres machadianas, já nessa altura, resistem como podem ao cerco patriarcal.

– “Quase ministro”, de 1864: é o terceiro livro de Machado de Assis e a primeira incursão do escritor na sátira política, que responderia por algumas das melhores páginas dos seus contos e romances. A história é bastante simples: os boatos de que o deputado Martins seria nomeado para um ministério atraem uma verdadeira procissão a sua casa. Ainda que ele se mantenha íntegro, não cedendo em nenhum momento ao assédio dos bajuladores, a política aparece como um jogo de pequenos interesses e uma atividade estranha ao bem comum.

– “Crisálidas”, de 1864: é o primeiro livro de poemas de Machado de Assis e o quarto de sua autoria. Publicado quando o escritor tinha 25 anos, procura estabelecer um equilíbrio entre as formas e os assuntos clássicos e as ideias românticas, criando uma tensão, muito peculiar em seus escritos, resultante da combinação de referências antigas, modernas e
contemporâneas.

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– “Os deuses de casaca”, de 1866: é o quinto livro de Machado de Assis e o quarto do autor dedicado ao teatro. O título sintetiza a intriga da peça: sete personagens da mitologia clássica, descidas do Olimpo, deparam com a vida moderna, com os homens vestidos de casaca, num tempo e espaço não determinados, mas muito próximos do lugar e da época em que a obra foi produzida e publicada.

– Falenas, de 1870: é o sexto livro e o segundo volume de poesia de Machado de Assis. A obra foi dividida em quatro partes: “Vária”, com 25 poemas; “Lira chinesa”, composta de oito textos; “Uma ode de Anacreonte”, poema dramático; e “Pálida Elvira”, com 97 estrofes. Apesar da recorrência a assuntos remotos, o embate do escritor a essa altura é com o legado romântico, aqui examinado à luz de temas e formas da Antiguidade, bem como da tradição luso-brasileira.

– “Contos fluminenses”, de 1870: é o sétimo livro de Machado de Assis e o primeiro dedicado à prosa de ficção. Todas as histórias reunidas nesse volume, na maior parte lançadas anteriormente na imprensa, se passam no Rio de Janeiro do século XIX. Os protagonistas são homens e mulheres elegantes, endinheirados ou em busca de dinheiro, servidos por criados que aqui e ali atravessam as cenas, lembrando que a riqueza, o luxo e o ócio no Brasil oitocentista assentavam-se sobre a escravidão.

– “Ressurreição”, de 1872: é o oitavo livro de Machado de Assis e marca sua estreia no romance. A trama é composta de um quadrilátero amoroso formado por Félix, homem marcado pela dúvida e pelo ciúme, a viúva Lívia, a jovem Raquel e o romântico Meneses. A quadrilha amorosa, que não foge às convenções românticas, acaba por desandar, expondo o artificialismo das expectativas dos leitores, que a obra frustra sistematicamente.
– “Histórias da Meia-Noite”, de 1873: é o nono livro de Machado de Assis e sua segunda coletânea de contos. São seis histórias, todas veiculadas anteriormente na imprensa, que giram em torno de intrigas amorosas perturbadas pelo ciúme e pelos fantasmas da traição. De forma sutil, elas sugerem que personagens bem-nascidas, e que se julgam predestinadas à medicina, às letras, à política e ao comércio, podem alimentar tamanhas ilusões porque há por toda parte escravizados, na figura de mucamas e moleques, que volta e meia atravessam a cena.

– “A mão e a luva”, de 1874: é o décimo livro e o segundo romance de Machado de Assis. Como em Ressurreição (1872), o leitor tem diante de si uma história baseada na intriga amorosa. Também são quatro os envolvidos na ciranda dos afetos: o sentimental Estêvão, o bem-nascido Jorge, o ambicioso Luís Alves e a jovem Guiomar, que terá de decidir entre os três pretendentes. Com mais intensidade do que no romance anterior, Machado explora nessa obra as diferenças sociais e aprofunda a sondagem dos impactos que elas têm sobre o comportamento das personagens.

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– “Americanas”, de 1875, de 1875, é o 11o livro e a terceira coletânea de poemas de Machado de Assis. Depois de Crisálidas (1864) e Falenas(1870), marcados pela diversidade dos temas, esse volume tem uma temática delimitada desde o título: a formação das Américas. A obra pode ser lida como um acerto de contas do poeta com o nacionalismo romântico e uma releitura daquilo que foi sua maior expressão, o indianismo, oferecendo um olhar agudo e crítico sobre o processo colonial.

– “Helena”, de 1876, é o 12o livro e o terceiro romance de Machado de Assis. O título refere-se à protagonista, uma jovem educada num colégio de Botafogo, no Rio de Janeiro, levada para conviver com uma família abastada, composta por uma senhora e seu sobrinho. Entre seus romances publicados na década de 1870, Helena foi o mais bem recebido pelos leitores. Ao contrário de Ressurreição (1872) e A mão e a luva (1874), acusados de frieza, os contemporâneos encontraram aqui cenas apaixonadas, uma linguagem poética, um enredo fluente e movimentado.

– “Iaiá Garcia”, de 1878: é o 13o livro e o quarto romance de Machado de Assis. Novamente o título traz um nome feminino e uma intriga voltada para as relações amorosas, tendo como horizonte o casamento. Neste caso, a jovem protagonista se chama Lina Garcia, mais conhecida pelo nome doméstico de Iaiá. Na armação do enredo, que inclui muitas viravoltas, nota-se a profusão de referências aos sentimentos não expressos, às causas ocultas, às intenções não explicitadas. Nesse ambiente sufocante, os laços afetivos são atravessados por diferenças brutais, que envolvem recursos materiais, poder, status e autonomia.

– “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de 1881: é o 14o livro e o quinto romance de Machado de Assis. Diferentemente dos anteriores, o enredo não se concentra em heroínas pobres que buscam no casamento uma forma de ascensão social. Agora, quase tudo gira em torno do personagem-título, que desdenha de todas as convenções, crenças e instituições. As atitudes irreverentes dão o tom da narrativa, em que o defunto autor, desde a eternidade, conta a história de sua vida, do nascimento ao delírio e à morte. Essa obra tornou-se um marco não só na trajetória do escritor, mas também para o romance brasileiro, e continua mais viva do que nunca, fascinando e intrigando gerações.

– “Tu só, tu, puro amor…”, de 1881: é o 15o livro de Machado de Assis e o quinto que dedicou ao teatro. A peça foi escrita por ocasião do tricentenário de morte de Luís de Camões, celebrado tanto em Portugal como no Brasil. Ela tem um ato e dezessete cenas, que giram em torno de uma intriga amorosa e palaciana envolvendo seis personagens: Camões, d. Antônio de Lima, Caminha, d. Manuel de Portugal, d. Catarina de Ataíde e d. Francisca de Aragão.

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– “Papéis avulsos”, de 1882, é o 16o livro de Machado de Assis e sua terceira coletânea de contos. Reúne doze histórias que haviam circulado em diversos periódicos. Embora a maioria seja ambientada no Rio de Janeiro e arredores entre as décadas de 1850 e 1870, algumas se passam em tempos e espaços remotos, recuando ao século XVI e, mais ainda, aos tempos bíblicos. Também há nessas narrativas um constante deslizamento entre o registro realista e o fantástico, e não raro elas tocam as raias do absurdo e do delirante.

– “Histórias sem data”, de 1884: é o 17o livro de Machado de Assis e seu quarto volume de contos. Em relação aos anteriores, é o que contém o maior número de histórias. Segue-se a tendência, verificável no conjunto de seus escritos, de produzir narrativas cada vez mais curtas, concisas e densas, de grande efeito sobre o leitor. Neste caso, são várias as que deixaram impressões fortes e duradouras, tornando-se antológicas, como “A igreja do Diabo”, “Noite de almirante” e “Singular ocorrência”.

– “Quincas Borba”, de 1891: é o 18o livro e o sexto romance de Machado de Assis. O título faz referência a dois personagens conhecidos pelo mesmo nome, Joaquim Borba dos Santos, inventor de uma filosofia extravagante, e seu cachorro, Quincas Borba. Ao morrer, o homem deixa muitos bens e um testamento, no qual nomeia como herdeiro um pobre professor de Barbacena, Pedro Rubião de Alvarenga, seu ex-enfermeiro. A única condição é que este trate o cão como “pessoa humana”. Assim, em um golpe inesperado do destino, Rubião torna-se um abastado capitalista e decide mudar-se com o cão para o Rio de Janeiro, onde espera desfrutar melhor da riqueza recém-adquirida. Mas nem tudo sai como ele imagina.

– “Várias Histórias”, de 1896: é o 19o livro e a quinta coletânea de contos de Machado de Assis. A maioria das narrativas se situa em tempo e espaço bem delimitados: o Rio de Janeiro e seus arredores na segunda metade do século XIX. Singularidade do estilo, abrangência das questões, capacidade de decompor os caracteres — esses são os aspectos destacados nas primeiras críticas sobre o volume. O autor, já então amplamente reconhecido como um “mestre”, apresenta-se em toda sua plenitude nessas Várias histórias que, sem nenhum exagero, poderiam muito bem ser chamadas de “várias obras-primas”.

– “Páginas recolhidas”, de 1899: é o vigésimo livro de Machado de Assis e sua primeira coletânea de escritos de gêneros variados. Há nele contos, ensaios e textos de circunstância, tais como discursos e homenagens, além de uma peça de teatro e um conjunto de crônicas. É uma mostra de como o autor se dedicou aos gêneros mais diversos e os prezou ao longo de toda a vida. Em meio à diversidade que marca o volume, a interrogação sobre o que há de presente no passado, e de passado no presente, é uma de suas constantes.

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– “Dom Casmurro”, de 1899: é o 21o livro e o sétimo romance de Machado de Assis. O título refere-se a Bento Santiago, um homem de seus sessenta anos, autor ficcional, narrador e protagonista da história, que procura, com a escrita, reviver o vivido. Em torno da família Santiago gravitam as demais personagens. Os conflitos têm início e se desenvolvem a partir do envolvimento de Bentinho e Capitu, que vai do namoro ao matrimônio, passando pelo nascimento do filho, até a separação. Dom Casmurro tornou-se um dos livros mais discutidos e polêmicos de toda a literatura brasileira. A tal ponto que hoje é difícil, se não impossível, separar seu enredo das interpretações que ele provocou.

– “Poesias completas”, de 1901: é o 22o livro e o quarto volume de versos de Machado de Assis. Além de retomar as coletâneas precedentes, das quais selecionou e modificou alguns poemas, acrescenta uma quarta, Ocidentais, com vários textos anteriormente publicados em periódicos. A leitura dos quatro livros sugere a coerência do percurso de Machado de Assis, que desde o início se mostrou um poeta reflexivo, técnico, irônico, com um pendor classicizante.

– “Esaú e Jacó”, de 1904: é o 23o livro e o oitavo romance de Machado de Assis. A história gira em torno de dois núcleos familiares: os Santos e os Batista. Os gêmeos Pedro e Paulo, da família Santos, vivem em permanente disputa, e só convergem quando se apaixonam pela mesma mulher, Flora Batista, uma dessas personagens imensas do escritor. Com rivalidades e indecisões amorosas que movem a intriga, esse foi, entre os romances do escritor, um dos mais apreciados pelos seus contemporâneos.

– “Relíquias de casa velha”, de 1906: é o 24o livro de Machado de Assis e seu segundo volume de miscelânea. É composto de textos distribuídos entre quase todos os gêneros praticados pelo escritor: poesia, conto, crítica, crônica e teatro. Metade deles era inédita. A outra metade já havia saído em periódicos, entre o final da década de 1870 e o início dos anos 1900. Nesse livro, que se abre com o soneto “A Carolina”, seguido do conto “Pai contra mãe”, e se fecha com duas comédias, o autor produzia mais uma desconcertante combinação de riso e melancolia.

– “Memorial de Aires:, de 1908, é o nono romance e o 25o e último livro de Machado de Assis. Em forma de diário, é narrado por José da Costa Marcondes Aires, também personagem de Esaú e Jacó, que ao escrever o Memorial tem entre 61 e 63 anos. Apesar de dividido em entradas indicadas por datas, contraria as expectativas associadas a um diário íntimo, pois deparamos aqui com um texto pouco confessional, em que Aires trata mais dos outros do que de si. A obra seria o acontecimento literário de 1908, magnificado pela morte do escritor em 29 de setembro.

*Volume extra “Terras, Compilação para estudo”, de 1886: apesar de não trazer em suas páginas a assinatura “Machado de Assis”, essa seleção de leis, decretos, avisos, resoluções, portarias e regulamentos é o único testemunho recolhido em volume da atividade do autor como funcionário público, ofício que exerceu por mais de quarenta anos. Com essa compilação, objetivava-se produzir um estudo que oferecesse subsídios para um projeto sobre a posse e distribuição de terras em um momento marcado pelo abolicionismo e pelo início da imigração de mão-de-obra europeia.

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