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Cancelamentos em série: escritores desistem de participar da FLIM após veto a Milly Lacombe

O convite à jornalista foi cancelado após uma declaração em que ela questionava a ideia de casamento tradicional

Por Redação Bravo!
18 set 2025, 18h41
milly-lacombe
Milly Lacombe no podcast "Desculpa Alguma Coisa" ("Desculpa Alguma Coisa/Reprodução/reprodução)
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A Festa Líteromusical (Flim) de São José dos Campos (SP) enfrenta uma crise sem precedentes neste ano. Poucos dias antes do início da programação, a maior festa literária do Vale do Paraíba tomou uma decisão que desencadeou um efeito dominó: o cancelamento do convite à jornalista e escritora Milly Lacombe. O motivo teria sido uma declaração sua que viralizou após participação, em julho, no podcast Louva a Deusa.

Na ocasião, Milly compartilhou sua opinião sobre o casamento, que rapidamente se transformou em polêmica. Ela afirmou não acreditar nesse tipo de união, considerando-a um terreno fértil para pensamentos radicais. “Essa família tradicional, branca, conservadora, brasileira. Gente, isso é um horror. É a base do fascismo. Falemos a verdade”, disse.

A fala se tornou alvo de críticas políticas e ideológicas na cidade. Entre os críticos, destacou-se o vereador Thomaz Henrique (PL), que chegou a promover um boicote à Flim. Pouco depois, o prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias (PSD), anunciou o cancelamento da participação da escritora: “Quero ser claro: a apresentação da ativista Milly Lacombe em São José foi cancelada. Cultura deve unir, não dividir”. Ele disse ainda: “não é e nunca será palco político-ideológico”, declarou.

A polêmica tomou proporções enormes. A ausência de Milly chegou a ser interpretada como uma medida para preservar sua segurança, e outros participantes começaram a anunciar desistências. Até quinta-feira (18), 16 autores e três curadoras cancelaram sua participação. Entre os nomes confirmados que não irão mais, estão Christian Dunker, Micheliny Verunschk, Marisa Orth e Naomi Jaffe.

Em resposta, Milly gravou um vídeo afirmando que suas palavras foram tiradas de contexto. Ela explicou sua posição contrária à ideia de casamento tradicional, revelando sua própria trajetória: “Eu sou uma mulher lésbica, eu fui uma adolescente, uma criança que cresceu numa família muito tradicional, mas me entendi como uma criança LGBT+ muito cedo. E eu sei o que essa sociedade faz com crianças, com jovens, que não se encaixam dentro dessa ideia da família tradicional brasileira, que é uma família hierárquica, uma família que concentra relações de poder muito bem definidas, papéis de gêneros muito definidos e que exclui tanta gente, que exclui tantos espíritos, tantos corpos, tantas almas, tanta criatividade de dentro dela”, afirmou.

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O convite à escritora havia sido feito pela Associação para o Fomento da Arte e da Cultura (AFAC), que afirmou que o cancelamento foi decidido em comum acordo e destacou que “a associação não compactua com manifestações que não estejam ligadas à atividade-fim do evento, que é a promoção da cultura, da música e da literatura”.

Diante da série de cancelamentos, a Festa precisou ser adiada, sem nova data confirmada. Milly participaria da mesa “Os outros no Brasil ontem e hoje”, na sexta-feira (19), ao lado de Xico Sá e Cuti, que também desistiram de comparecer.

“Cadê a tal da liberdade de expressão? Era um debate livre, um debate sobre os outros, debate poético com o Cuti. Isso foi muito espantoso. De repente, essas pessoas vetam, retiram de uma mesa literária uma jornalista, porque discordam da opinião dela sobre certos assuntos. Isso foi muito espantoso, porque eu acreditava que vivêssemos na mais absoluta democracia”, declarou Xico Sá, em entrevista à TV Vanguarda. 

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Em nota, a curadoria do evento manifestou apoio a Milly: “É com muita indignação e revolta que nós, curadoras da 11ª Festa Lítero Musical de São José dos Campos – FLIM, comunicamos a nossa retirada da curadoria da festa que estava prevista para iniciar nesta sexta-feira, 19 de setembro. Após termos nos dedicado por um ano à pesquisa, à leitura e reuniões com um mergulho no tema ‘Eu sou porque nós somos’, fomos surpreendidas com a censura à presença de uma de nossas convidadas para a mesa de abertura.”

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