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OLÁ,

Carta ao jardineiro

"Ô meu deus, o quanto de pintura há na literatura!", escreve a colunista em mais uma poesia inédita e exclusiva para Bravo!

Por Elisa Lucinda
Atualizado em 7 abr 2025, 16h31 - Publicado em 7 abr 2025, 16h09
poema-elisa-lucinda
 (Cíntia Funchal/ilustração)
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Amo o homem bom!
A coisa que pode ser mais bonita
no homem é o seu coração.
Um perigo para o meu.
Irresistível.
Coisa que imediatamente na minha alma ecoa é o rebanho de emanações
que costuma vir
de uma pessoa boa.
Incrível.
Sol ambulante iluminando discretamente a paisagem,
limpando os ares,
saltando com leveza os muros.
Como lhe cai bem o olhar puro, não imaturo.
Como é bonita a disposição pra trabalhar.
A dignidade de ser justo.
A tranquilidade de não roubar.
A valentia de não se vender.
A coragem de ser um homem amoroso,
em meio às atrocidades impregnadas no arcabouço masculino demodê,
filho do caquético patriarcado atrasado em relação aos avanços do viver.
Como é bonito
o coração honesto estendido urgente no peito,
querendo só ser.
Não que não seja também errante,
mas tem a não guerra como propósito este doce caminhante.
O coração exposto,
erguido em silêncio e ao alto,
tal qual uma bandeira da paz
hasteada no meio da luz da tarde.
Ô meu deus, o quanto de pintura há na literatura!
Rebrilha na minha frente
este homem fortuna.
Riqueza que compartilha
sem ninguém poder roubar.
É fonte, para uso dos irmãos
que seguem sobre o chão,
cada um para algum lugar.

Que cerimônia!
O homem está lindo aqui,
todo de branco, à minha frente
estampado na sacada da memória,
exatamente diante da entrada da varanda florida
que construí na minha mente.
Seus olhos derramam bondade ingênua e inteligente.
Meu peito tremula,
porque tudo é tão envolvente.

Chegou o dono do caderno de minha alma.
Que vistoso!
O olhar me sorri com calma.
Miúdos olhos profundos.
Para ele, viver é poder ser bom.
É querer prestar.
Ter vergonha de maltratar qualquer ser:
um outro homem,
criança, mãe, irmã, mulher.
Bonito vê-lo raiar cidadão,
ter pelo mundo inteiro compaixão,
espalhar ervas em mudas sobre os canteiros,
ser do mundo exímio jardineiro e
apanhar infinitos com a mão.

A coisa mais bonita num homem
é o coração bão.

14 de julho.

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