“Os Espiões”: conheça o livro de Veríssimo que mistura humor, mistério e mitologia
Mestre do humor, o escritor Luís Fernando Verissimo morreu no sábado (30), aos 88 anos, no RS, devido a complicações de uma pneumonia

Luis Fernando Verissimo, nosso eterno mestre do humor, que morreu neste sábado (30), aos 88 anos, no Rio Grande do Sul, devido a complicações decorrentes de uma pneumonia. Recluso há alguns anos, o escritor lidava com consequências de um acidente vascular cerebral de 2021, quando deixou de escrever.
Em honra ao seu trabalho, relembramos aqui uma se duas muitas obras primas, o romance Os Espiões. O livro de 144 páginas foi o sexto romance do autor e marca sua estreia na editora Alfaguara, em 2009.
Este é, inclusive, o primeiro romance que o escritor julga como inteiramente “seu”, do início ao fim, já que nunca havia escrito antes um romance por impulso próprio e sim por encomendas de editoras (Aqui estamos falando de: O Jardim do Diabo, O Clube dos Anjos, Borges e os Orangotangos Eternos, O Opositor e A Décima Segunda Noite). “Esse aí eu mesmo resolvi me encomendar”, brincou Verissimo na época do lançamento.

A narrativa logo cativa o leitor por ser uma alegoria híbrida de humor, mistério e mitologia. Em Os Espiões, inova ao criar Ariadne às avessas, que enfeitiça não só seus amigos de bar como os muitos espiões deste livro. Empregado de uma pequena editora encarregado de avaliar os originais de novos autores recebe um envelope com parte da história de uma tal Ariadne com seu amante. Ela promete se suicidar e leva o protagonista a tentar localizá-la e impedir a tragédia.
Este é um livro que merece ser livro pelo traço inconfundível da escrita de Verissimo: o humor. Logo no primeiro capítulo, a hilária relação entre o protagonista e uma autora rejeitada indica o tom de todo o romance. Preste atenção ainda nas referências à mitologia grega. Ariadne ajudou Teseu a fugir do labirinto em que se encontrava o Minotauro. Aqui, dá-se o inverno: ela atrai os personagens para a perdição.
“Já contei que a Julinha desistiu de mim, levou o João e foi morar com a irmã? Ela não me aguentava por causa da bebida e descobriu que sóbrio eu era pior. Fiquei sozinho com o Black. Mas ele também não estava falando mais comigo.” (Os Espiões, pág. 77)
O cronista e romancista gaúcho Luis Fernando Verissimo nasceu em 1936, em Porto Alegre. Além de escritor consagrado, ele também atuou como cartunista, tradutor, roteirista, dramaturgo, publicitário e revisor de jornal. Verissimo também era um grande amante da música e tocava saxofone no grupo ‘Jazz 6’. Entre seus livros, estão O Analista de Bagé, Comédias da Vida Privada, Ed Mort e Outras Histórias. Verissimo deixa um legado inestimável na literatura brasileira.
Os espiões (Nova edição)

O protagonista desta história é um frustrado funcionário de uma pequena editora, que não costuma ter boa vontade com pessoas, menos ainda com os originais que recebe. Até que, um dia, algo chama a sua atenção no envelope branco que chega com a correspondência: uma caligrafia cursiva trêmula, com uma florzinha no lugar do pingo do i. Dentro, ele encontra as primeiras páginas de um livro de confissões escrito por uma tal Ariadne, que promete contar sua história e depois se suicidar. Em sucessivas cartas, que chegam toda terça-feira, Ariadne narra sua aventura envolvendo crime e paixão numa pequena cidade do interior. Amante de histórias policiais, o editor fica fascinado pela autora. Inspirado por John le Carré, ele vai convencendo seus amigos de bar a acompanhá-lo numa missão tão fascinante quanto patética: encontrar e salvar Ariadne.
“Certeiro. O homem de frases inesperadas. O homem que escreve, não fala. Quando fala, coloca o dedo na ferida. Ou no coração. Verissimo, o silencioso mais eloquente do Brasil.” ― Ignácio de Loyola Brandão
“Em sua geração de romancistas no Brasil, Verissimo pode ser comparado aos maiores, como Moacyr Scliar e Rubem Fonseca, tendo em relação a eles a sensível diferença de uma criativa visada irônica, nascida de seu ponto de vista sempre cético, mas invariavelmente a favor das pessoas de bem e da inteligência.” ― Luís Augusto Fischer