Dia da Literatura Brasileira: 5 livros preferidos do BookTok que nós recomendamos
Entre obras como Dom Casmurro e Bem-Vindos à Livraria Hyunam-dong, confira a seleção completa

No Brasil, o Dia da Literatura Brasileira (1º de maio) homenageia o nascimento de José de Alencar, um dos pilares do Romantismo nacional, e celebra também a pluralidade de vozes que moldam nossa identidade cultural por meio da escrita.
Nos últimos anos, essa data ganha contornos digitais: o BookTok, comunidade literária do TikTok, revolucionou a forma como o público consome e debate sobre os livros, impulsionando vendas e revivendo obras esquecidas.
Com resenhas criativas, vídeos em formato de lista e convidando os seguidores ao debate, autores nacionais e internacionais transformou clássicos em trending topics e revelou autores contemporâneos. Em 2024, por exemplo, Dom Casmurro (1899) ressurgiu nas redes dos Estados Unidos graças à tiktoker norte-americana Courtney Henning Novak, que, sem falar português, encantou seguidores ao ler trechos em português e discutir a ambiguidade de Capitu.
Selecionamos 5 livros populares no BookTok e explicamos por que eles merecem entrar na sua estante. Confira!
1. Torto Arado (Itamar Vieira Junior)

A cicatriz em forma de arado torto, marcada nas irmãs Bibiana e Belonísia após um acidente com um facão, além da marca física, simboliza também as marcas emocionais que são reflexos da violência colonial. A trama, ambientada em um latifúndio baiano, entrelaça a aparição da entidade Zeca Chapéu-Grande (representação da ancestralidade africana) e a luta por terra, questionando quem realmente “cultiva” o Brasil. A obra, vencedora do Jabuti, é um marco da literatura contemporânea, ecoando a resistência de povos tradicionais contra a opressão fundiária.
Geógrafo e doutor em Estudos Étnicos, Itamar Vieira Junior constrói narrativas enraizadas nas lutas quilombolas e indígenas.
2. Dom Casmurro (Machado de Assis)

A discussão sobre “Capitu traiu ou não traiu?” ganhou novo fôlego com os vídeos de Courtney Henning Novak, uma criadora de conteúdo do TikTok. Tudo começou quando a norte-americana iniciou um projeto chamado “Reading around the world”, que consistia em ler um livro de cada país do mundo, em ordem alfabética. O desafio a colocou em contato com a obra de Machado de Assis e deixou a leitora intrigada com o desfecho da trama, fazendo com que seu vídeo atingisse milhões de views na rede. O sucesso foi tanto que o livro entrou para os mais vendidos da Amazon dos Estados Unidos, chegando ao topo na categoria de “Literatura caribenha e latino-americana”.
Na obra, Bentinho, um narrador bastante inseguro e desconfiado, relembra seu casamento com Capitu e a suposta traição que o levou a criar o filho longe dela. Uma verdadeira obra-prima da ambiguidade e do ciúme patológico que vale a pena (re)ler.
3. O Sol é para Todos (Harper Lee)

Do Alabama dos anos 1930, O Sol é para Todos (1960), de Harper Lee, chegou ao TikTok como hino contra o racismo. A inocência da narradora Scout contrasta com a brutalidade do julgamento de Tom Robinson, homem negro condenado por um crime que não cometeu. O título, inspirado no diálogo “O sol é para todos, não apenas para uns poucos”, ecoa a luta por equidade, mesmo que a figura de Atticus Finch — o advogado branco “salvador” — mostre os limites de uma narrativa que ainda centraliza vozes privilegiadas.
4. Bem-Vindos à Livraria Hyunam-dong (Hwang Bo-reum)

Na Coreia do Sul de Bem-Vindos à Livraria Hyunam-dong (2023), Hwang Bo-reum desenha um refúgio contra a pressão capitalista. A livraria do título não é um cenário, mas um personagem: entre suas prateleiras, clientes como o homem que só lê biografias para entender a própria vida revelam a literatura como espelho e bálsamo. Sem conflitos épicos, a narrativa celebra a beleza do cotidiano, onde clientes e histórias se entrelaçam em narrativas delicadas sobre recomeço.
5. Primeiro Eu Tive Que Morrer (Helena Aragão)

Nesta obra, Helena Aragão leva Lina a um limbo pós-morte onde ela precisa resolver um mistério para ganhar uma segunda chance. O enigma, porém, é secundário: o verdadeiro tema é a crítica à cultura da produtividade tóxica, que exige até das almas eficiência e uma cobrança para “render”. A fantasia urbana, mesclando elementos de Neil Gaiman e Clarice Lispector, reflete uma geração que busca significado em meio ao caos digital.