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Fuvest valoriza vozes femininas em seleção de leituras obrigatórias

As obras escolhidas colocam no centro da narrativa a condição da mulher em contextos sociais adversos

Por Redação Bravo!
12 abr 2025, 07h00
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Conceição Evaristo autora de Canção para ninar menino grande (2018) (Ana Rovati/divulgação)
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A nova lista de leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029 propõe um mergulho na literatura escrita por mulheres, abrangendo diferentes períodos, estilos e territórios da literatura em língua portuguesa. Com temas como desigualdade de gênero, identidade feminina, opressão social e racismo, os livros selecionados oferecem um panorama das múltiplas experiências das mulheres ao longo da história, tanto no Brasil quanto em outros países lusófonos.

Em Opúsculo Humanitário (1853), Nísia Floresta defende a educação como ferramenta fundamental para a emancipação feminina. Já em As meninas (1973), Lygia Fagundes Telles retrata as angústias e os conflitos de três jovens durante a ditadura militar, expondo questões políticas e existenciais. Em Canção para ninar menino grande (2018), Conceição Evaristo propõe uma crítica sensível às relações de poder entre homens e mulheres, com foco nas experiências de mulheres negras. Apesar das diferentes épocas e estilos, as obras selecionadas dialogam entre si ao colocarem no centro da narrativa a condição da mulher em contextos sociais adversos.

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(Penguin Companhia/divulgação)

Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta

Em Opúsculo humanitário, Nísia defende a educação feminina como essencial para o progresso de uma nação. A autora traça um panorama histórico da condição da mulher — da Antiguidade ao Brasil do século XIX — e critica, com base em dados oficiais, a formação educacional das moças da época. O texto também expressa seu posicionamento antiescravista e aborda temas como o aleitamento materno e outros debates sociais relevantes.

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(A+M/divulgação)

Nebulosas (1872) – Narcisa Amália

Apelidada de “Safo brasileira”, foi celebrada como uma poeta romântica de múltiplas facetas. Nebulosas, seu principal livro, dialoga com as três fases do romantismo brasileiro: da exaltação da natureza à introspecção melancólica, passando pelo engajamento social. Em seus poemas, emergem com força as críticas à escravidão e os ideais republicanos e abolicionistas que marcaram sua trajetória. Esta edição conta com notas explicativas e introdução de Anna Faedrich, oferecendo aos leitores contemporâneos uma chave de entrada para o universo intenso e por vezes enigmático de Narcisa Amália.

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(A+M/divulgação)
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Memórias de Martha (1899) – Julia Lopes de Almeida

Romance de estreia de Júlia Lopes de Almeida, Memórias de Martha foi publicado originalmente em 1888, primeiro como folhetim e, em seguida, em formato de livro. Desde essa obra inaugural, já se evidencia o compromisso da autora em construir personagens femininas complexas e em destacar o papel da mulher na sociedade brasileira de sua época. Narrado em primeira pessoa, o livro apresenta uma autobiografia ficcional da jovem Martha. Após a morte do pai, ela e a mãe enfrentam a pobreza em um cortiço no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Ao longo de sua trajetória, a protagonista enxerga na educação o único caminho possível para mudar seu destino e conquistar uma vida mais digna.

O embate entre as expectativas maternas — que recomendam à filha o domínio dos afazeres domésticos como forma de garantir a sobrevivência — e o desejo de Martha de seguir a carreira de professora explicita as tensões em torno do papel social da mulher no final do século XIX. A obra, sensível e perspicaz, é uma leitura fundamental para refletir sobre os primeiros passos da emancipação feminina no Brasil.

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(José Olympio/divulgação)

Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz

Romance mais engajado de Rachel de Queiroz, se passa na Fortaleza dos anos 1930 e narra a história de Noemi, uma mulher casada e mãe, que se envolve com Roberto, militante de esquerda, durante reuniões políticas. Movida pelo desejo de mudança e por uma paixão proibida, ela desafia os padrões morais da época e escolhe seguir seus próprios desejos, mesmo sabendo das consequências sociais. A obra combina crítica política, análise psicológica e a força de uma personagem feminina que rompe com os papéis tradicionais impostos às mulheres.

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(Companhia das Letras/divulgação)
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O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen

Coletânea de 11 poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicada em 1961. A obra narra a jornada de um escultor em busca da representação perfeita de Jesus Cristo morto, inspirada em uma lenda sevilhana compartilhada por João Cabral de Melo Neto. A influência de João Cabral é evidente no estilo preciso e concreto dos versos. Os poemas exploram temas como fé, exclusão social e espiritualidade, utilizando contrastes típicos do barroco, como luz e sombra, sagrado e profano. A linguagem é direta e objetiva, com forte carga metafórica, refletindo uma fase distinta na produção literária de Sophia.

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(Companhia das Letras/divulgação)

As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles

O romance de Lygia Fagundes Telles publicado em 1973, acompanha a vida de três universitárias que dividem um pensionato de freiras em São Paulo durante a ditadura militar. Lorena, de família tradicional, vive um amor platônico com um homem casado; Ana Clara, bela e instável, enfrenta o vício e relações destrutivas; e Lia, engajada politicamente, luta pela libertação do namorado preso. Com narrativa multifocal, que alterna entre primeira e terceira pessoa, o livro retrata os dilemas individuais e coletivos de uma geração em conflito. Destacado por abordar temas tabus, como a tortura política, tornou-se uma das obras mais emblemáticas e premiadas da autora.

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(Companhia das Letras/divulgação)

Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane

Balada de amor ao vento, primeiro romance de Paulina Chiziane e marco na literatura moçambicana por ser a primeira obra do gênero escrita por uma mulher no país, narra a trajetória de Sarnau, que se entrega apaixonadamente a Mwando, um homem inconstante que a abandona e retorna diversas vezes. Em uma prosa lírica e carregada de simbolismo, a história expõe os dilemas vividos por mulheres em uma sociedade marcada por tradições patriarcais. Entre encontros e despedidas, amor e desilusão, o livro revela os impactos sociais e afetivos da desigualdade de gênero, antecipando temas centrais da obra posterior da autora.

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(Pallas/divulgação)

Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo

Canção para Ninar Menino Grande, de Conceição Evaristo, narra a trajetória de Fio Jasmim, um homem negro e atraente que, como ajudante de maquinista, viaja por diversas cidades, envolvendo-se com várias mulheres. Embora casado com Pérola Maria, Fio mantém relacionamentos extraconjugais com Juventina, Neide, Angelina, Aurora, Dolores e Dalva, deixando marcas profundas em cada uma delas. A narrativa, conduzida por uma voz coletiva feminina, explora as complexidades da masculinidade negra, as consequências emocionais de relações efêmeras e a solidariedade entre as mulheres afetadas. A obra destaca-se pela abordagem sensível das dinâmicas de gênero e raça, oferecendo uma reflexão sobre amor, abandono e resistência feminina.

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(Todavia/divulgação)

A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida

A Visão das Plantas, de Djaimilia Pereira de Almeida, narra a história de Celestino, um ex-capitão de navio negreiro que, após uma vida marcada por atos de extrema brutalidade, retorna à sua terra natal para viver seus últimos dias cuidando de um jardim exuberante. Enquanto cultiva roseiras, cravos e outras plantas, Celestino busca redenção e reflete sobre seu passado violento. A narrativa explora temas como moralidade, culpa e a indiferença da natureza perante as ações humanas.

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