Livro mostra como Maria Bethânia virou alvo dos órgãos de repressão na ditadura
Obra de Paulo Henrique de Moura recompõe o período em que Bethânia deixa Salvador para assumir, no Rio, o posto de Nara Leão no espetáculo Opinião
Poucos anos antes de se tornar uma das vozes mais reconhecidas da música brasileira, Maria Bethânia já chamava atenção — não apenas do público, mas também dos órgãos de repressão da ditadura militar. É esse percurso inicial, entre a cena cultural baiana e os palcos politizados do Rio de Janeiro, que estrutura Maria Bethânia, primeiros anos — da cena cultural baiana ao teatro musical brasileiro, novo livro do jornalista e pesquisador Paulo Henrique de Moura, lançado neste mês
Resultado de sua dissertação de mestrado na USP, a obra recompõe o período entre 1964 e 1965, quando Bethânia deixa Salvador para assumir, no Rio, o posto de Nara Leão no espetáculo Opinião. Escrito por Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes, e dirigido por Augusto Boal, o musical tornou-se um marco de enfrentamento à recém-instalada ditadura. No palco do Shopping Center Copacabana, a interpretação incisiva de “Carcará” transformou a jovem cantora em revelação nacional, e em figura observada de perto pelos serviços de inteligência do regime.
Moura reúne documentos inéditos que apontam essa vigilância, motivada pela participação de Bethânia em montagens de teor político, como Arena Canta Bahia e Tempo de Guerra, ambas de 1965, também sob direção de Boal. A pesquisa retorna ainda ao Teatro Vila Velha, em Salvador, onde espetáculos coletivos como Nós, Por Exemplo e Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova antecipavam debates que atravessariam a futura Tropicália.
Para reconstruir esse início de trajetória, o autor consultou acervos e colheu depoimentos de nomes como Rodrigo Velloso, Gilberto Gil, Jards Macalé e da própria Bethânia, compondo um panorama de bastidores raramente registrado. O livro também revisita Mora na Filosofia (1964), dirigido por Caetano Veloso, destacando a relação precoce da cantora com a dramaturgia.
Sem recorrer à análise celebratória, Moura organiza evidências e testemunhos para mostrar como, ainda no começo da carreira, Bethânia articulava música, palavra e presença cênica, enquanto navegava um cenário cultural marcado por tensão política e controle estatal.
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