Manuscritos inéditos revelam como Marx desenvolveu a teoria do mais-valor
A obra "Teorias do Mais-Valor", visto como um possível “quarto livro” de O capital, reúne a investigação de Marx sobre a origem do conceito de mais-valor
A economia política moderna não nasceu pronta, ela foi construída ao longo do tempo, como revela o primeiro volume de Teorias do mais-valor, de Karl Marx, que chega às livrarias brasileiras em 14 de dezembro de 2025, pela Boitempo. Considerada por muitos como um possível “quarto livro” de “O capital”, a obra apresenta a investigação de Marx sobre a origem do conceito de mais-valor e sobre os autores que antecederam sua crítica ao capitalismo.
Neste volume, Marx examina especialmente os fisiocratas, Adam Smith e as teorias sobre trabalho produtivo e improdutivo. Para ele, os fisiocratas foram os primeiros a situar a produção como fonte da riqueza social, ainda que restrita à agricultura. Smith amplia essa visão ao incluir toda atividade capaz de gerar valor, mas inaugura contradições que influenciariam os rumos da economia política.
Os manuscritos de Teorias do mais-valor ficaram inacabados e circularam durante décadas em versões editadas por Karl Kautsky. A nova edição brasileira rompe com esse histórico: é a primeira no país traduzida diretamente do alemão e baseada no trabalho da MEGA, instituição que guarda os manuscritos. Ao recuperar a estrutura original das anotações, o livro deixa de parecer um texto finalizado e permite ao leitor acompanhar o processo analítico de Marx.
Esse formato revela como o autor revisita conceitos, aponta limites teóricos de seus predecessores e confronta diferentes tradições econômicas para desenvolver suas próprias formulações. A obra mostra, passo a passo, como a crítica marxista ao capitalismo se apoia no estudo atento da história da economia política.
O volume inclui ainda trechos que exemplificam esse método, como a passagem em que Marx analisa o papel dos fisiocratas na definição das categorias fundamentais da economia moderna e discute as consequências de terem tratado formas específicas da produção burguesa como leis universais.
Leia um trecho da obra:
“A análise do capital, dentro do horizonte burguês, coube essencialmente aos fisiocratas. É esse mérito que os torna os pais autênticos da economia moderna. Em primeiro lugar, a análise dos diversos componentes objetivos nos quais o capital existe e se decompõe durante o processo de trabalho. Os fisiocratas não podem ser censurados por, como todos os seus sucessores, conceberem como capital esses modos de existência objetivos – instrumentos, matéria-primas etc. –, separados das condições sociais em que aparecem na produção capitalista, em suma, na forma em que são em geral elementos do processo de trabalho, independentemente de sua forma social, e assim fazerem da forma capitalista de produção uma forma natural eterna. Para eles, as formas burguesas de produção aparecem necessariamente como as formas naturais da produção. Foi seu grande mérito conceberem essas formas como formas fisiológicas da sociedade; como formas que surgem da necessidade natural da própria produção, independentes da vontade, da política e assim por diante. Elas são leis materiais; o único erro é que a lei material de um determinado estágio histórico da sociedade é concebida como uma lei abstrata que rege por igual todas as formas de sociedade.”
Teorias do mais-valor: volume I (Boitempo, 2025), de Karl Marx. Tradução de Ronaldo Vielmi Fortes.
Cinco práticas artísticas para quem busca uma pausa das telas
Primavera nos Dentes: a série que reconstrói o impacto dos Secos & Molhados
5 filmes imperdíveis do Festival de Cinema Francês no Brasil
Dia Mundial de Luta Contra a AIDS: 5 filmes que enfrentaram o estigma
Ranking: 100 melhores livros brasileiros segundo a Bravo!