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Milton Hatoum é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras; 5 livros para conhecer o autor

Reconhecido por abordar temas como identidade, memória e os conflitos familiares, Hatoum é uma das vozes mais respeitadas da literatura brasileira

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 15 ago 2025, 19h50 - Publicado em 15 ago 2025, 13h33
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Milton Hatoum, em seu apartamento, em São Paulo. Maio 2021 (Wanezza Soares/divulgação)
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O escritor amazonense Milton Hatoum foi eleito, em 14 de agosto de 2025, para ocupar a cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo o jornalista e acadêmico Cícero Sandroni, falecido em junho deste ano. A eleição contou com 33 votos favoráveis dos 34 possíveis, confirmando o reconhecimento unânime da sua trajetória literária. 

Hatoum é o primeiro escritor natural do Amazonas a integrar a ABL, marco histórico que celebra a diversidade regional na literatura brasileira. A notícia foi comemorada nas redes sociais da instituição, com seguidores destacando a importância de um autor literário e da região Norte ocupar uma cadeira na academia.

Nascido em 19 de agosto de 1952, em Manaus, Milton Hatoum é filho de imigrantes libaneses. Mudou-se para Brasília aos 15 anos e, posteriormente, para São Paulo, onde ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) em 1972. Durante o período da ditadura militar, foi perseguido por sua participação em movimentos estudantis e chegou a ser preso. Nos anos 1980, recebeu uma bolsa de estudos que o levou à Europa, onde cursou mestrado em literatura latino-americana na Universidade de Paris III (Sorbonne). 

De volta ao Brasil, Hatoum lecionou Literatura Francesa na Universidade Federal do Amazonas e iniciou sua carreira literária. Seu primeiro romance, Relato de um Certo Oriente (1989), recebeu o Prêmio Jabuti de Melhor Romance. Seguiram-se Dois Irmãos (2000), Cinzas do Norte (2005), Órfãos do Eldorado (2008), A Noite da Espera (2017) e Ponto de Fuga (2019). Suas obras foram traduzidas para 16 idiomas e ultrapassaram 500 mil exemplares vendidos no Brasil. Além disso, foram adaptadas para minisséries, teatro, cinema e quadrinhos. 

Reconhecido por sua escrita que aborda temas como identidade, memória e os conflitos familiares, Hatoum é uma das vozes mais respeitadas da literatura brasileira contemporânea. Sua eleição para a ABL representa um marco da valorização da literatura produzida na região Norte do Brasil

Conheça algumas de suas principais obras publicadas:

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Relato de certo Oriente (Companhia das Letras, 2024)

Entre o Oriente e o Amazonas, uma mulher retorna a Manaus, cidade da infância, em busca de Emilie, a marcante matriarca de uma família libanesa radicada na região. Ao encontrar a casa desfeita, revive memórias e ecos de um mundo perdido, reconstruído pelas vozes alternadas das personagens, em diálogo com a tradição oral oriental. Livro de estreia do autor, Relato de um certo Oriente venceu o Prêmio Jabuti de melhor romance em 1990, revelando um texto ao mesmo tempo lírico e envolvente.

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(Companhia das Letras/divulgação)

Dois irmãos (Companhia de Bolso, 2006)

Onze anos após Relato de um certo Oriente, Milton Hatoum volta ao drama familiar em Dois Irmãos, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Romance em 2001. Narrado pelo filho da empregada, o livro revisita, trinta anos depois, a história dos gêmeos Yaqub e Omar e seus conflitos com a mãe, o pai e a irmã. Entre silêncios e memórias, o narrador tenta recompor o passado marcado por incesto, vingança e paixões intensas, tendo Manaus e o rio Negro como cenário e metáforas do tempo e da perda.

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(Companhia de Bolso/divulgação)
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Órfãos do Eldorado (Companhia de Bolso, 2022)

Ambientado no final do ciclo seringueiro da Amazônia, Órfãos do Eldorado é um romance breve e inesquecível de Milton Hatoum. Narrado por Arminto Cordovil a um passante curioso, o livro mistura memória e imaginação para contar seu amor por Dinaura e, em círculos mais amplos, a história de uma família, de uma região e de uma época marcada pela seiva da seringueira e pelo crédito inglês. Com personagens memoráveis como Arminto, Dinaura, Florita e Estiliano, a obra concentra em poucos capítulos a densidade e o lirismo presentes nos romances anteriores do autor.

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(Companhia de Bolso/divulgação)

Cinzas do Norte (Companhia das Letras, 2023)

Cinzas do Norte, terceiro romance de Milton Hatoum, retrata a amizade e os conflitos de dois meninos em Manaus nos anos 1950 e 1960: Olavo, órfão criado por tios humildes, e Raimundo Mattoso, herdeiro de uma família aristocrática. No centro da narrativa está a Vila Amazônia, palco das ambições e confrontos de Raimundo com o pai, a sociedade e, mais tarde, o regime militar de 1964, enquanto sua vida se expande a Berlim e Londres. Entre cartas, lembranças e encontros, o livro constrói uma complexa história moral de sua geração, explorando amizade, derrota, violência e memória.

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(Companhia das Letras/divulgação)
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A cidade ilhada (Companhia das Letras, 2023)

No livro, Milton Hatoum reúne contos breves em que personagens transitam entre cidades como Paris, Bangcoc, Barcelona e Berkeley, em meio a exílios, desencontros e fantasmas familiares. Com narrativa enxuta e precisa, os contos exploram desejos, fracassos e memórias, mostrando como experiências pessoais e acasos se transformam em imagens universais. Entre eles está O adeus do comandante, que inspirou o filme O rio do desejo, e histórias que refletem a tensão entre expansão e retorno, entre o mundo exterior e o imutável centro de Manaus.

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(Companhia das Letras/divulgação)
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