Morre o escritor Mario Vargas Llosa aos 89 anos
Autor de "A Cidade e os Cachorros" e "A Casa Verde", o escritor tornou-se uma das vozes mais influentes da literatura latino-americana

Morreu no último domingo (13), em Lima, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, aos 89 anos, uma das vozes mais influentes da literatura latino-americana. A notícia foi confirmada por seu filho, Álvaro Vargas Llosa, em uma postagem na rede social X (antigo Twitter). Em comunicado assinado por Álvaro, Gonzalo e Morgana, os três filhos expressaram: “Sua partida entristece seus parentes, amigos e leitores ao redor do mundo, mas nos consola saber que ele teve uma vida longa, múltipla e frutífera, e deixa atrás de si uma obra que o sobreviverá.” A causa da morte não foi divulgada, e a família informou que não haverá cerimônias públicas, optando pela cremação dos restos mortais.
Ao longo de uma carreira literária que se estendeu por mais de seis décadas, Vargas Llosa construiu um legado raro. Em suas obras, explorou temas como poder, liberdade, corrupção e identidade cultural. Ele frequentemente refletia sobre a sociedade peruana e latino-americana, utilizando a literatura como meio para explorar questões como autoritarismo, violência e desigualdade social.
Entre seus livros mais conhecidos estão “A Cidade e os Cachorros” (1963), “A Casa Verde” (1966), “Conversa na Catedral” (1969) e “A Festa do Bode” (2000).
Reconhecido internacionalmente, Vargas Llosa recebeu diversos prêmios durante a vida, incluindo o Nobel de Literatura em 2010, o Prêmio Miguel de Cervantes em 1994 e o Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras em 1986. Em 2023, tornou-se o primeiro autor não francófono a ingressar na Academia Francesa.
Sua trajetória também foi marcada por mudanças ideológicas e envolvimento em polêmicas políticas. Inicialmente simpatizante do socialismo e apoiador da Revolução Cubana, rompeu com o regime de Fidel Castro após o caso do poeta Heberto Padilla em 1971, quando ele foi preso e forçado a uma autocrítica pública. O episódio marcou sua transição para o liberalismo, tornando-se um crítico severo de regimes autoritários de esquerda na América Latina. Mais recentemente, ele manifestou apoio a líderes da extrema-direita, como Jair Bolsonaro no Brasil e José Antonio Kast no Chile. E passou a ser visto como um desertor por parte da esquerda.
Em 1990, Vargas Llosa candidatou-se à presidência do Peru pela coalizão liberal Frente Democrático (FREDEMO), composta pelo Movimiento Libertad, Partido Popular Cristiano e Acción Popular. Mas foi derrotado por Alberto Fujimori, do partido Cambio 90. Posteriormente, declarou que nunca deveria ter deixado a literatura pela política.
Apesar das controvérsias, ele conseguiu manter sua literatura intacta. Críticos e leitores frequentemente distinguem suas posições ideológicas de sua produção artística. A jornalista espanhola Mercedes Milà, por exemplo, afirmou: “Não estou de acordo com o caminho que ele seguiu, mas fico com seus livros”, destacando “A Festa do Bode” como uma das obras que mais a marcaram.