À pele das coisas
A colunista disserta sobre o poder dos sentidos aguçados em uma alusão esperta e divertida com frutas e ovos

Uma fita adesiva embrulha o cacho da banana de mercado. Está colada no meio do corpo de cada unidade de banana. Na cintura. A banana é uma das poucas frutas cuja casca se desfaz com facilidade nas mãos.
Me parece que a ideia é que o freguês se arrisque a retirar a fita sem descascá-la, evitando uma depilação fatal. Se o freguês vacila, é obrigado a comer a banana. Bananas não vivem nem 20 minutos descascadas. Só congelando. E aí o que há de banana na banana não se sente.
Descobri recentemente o segredo do ovo cozido. Uma batidinha de leve na bunda dele até o ruído de uma leve rachadura. Mergulha na água fervendo. Talvez ele transborde um pouco, não faz mal, insista. 6 minutos é o tempo que ele leva pra ficar com o meio ainda por derreter. É o ponto que eu gosto, mas você pode escolher o de sua preferência.
Depois de retirá-lo e deixá-lo submerso no gelo (tá na moda), role-o levemente como se fosse fazer uma cobra de massinha. Não exagere, respeite sua forma original. Sua casca se rachará por completo e se desfará com a facilidade de uma cola Polar ressecada nas mãos, como a que descamávamos na infância (Millennials). Aí é só partir e deixar que ele se resolva na sua boca. Mas tem que botar sal.
Eu tive um namorado cujos dedos dos pés eu não conseguia sentir com a mão esquerda. Tentei com a palma, com o dorso, apelei para as células de Mérkel, mas nada me fazia senti-los. Molhada, lubrificada, quente, gelada, nada. Tentei tantra, kundalini, Kegel, ostra, amendoim, absinto, nada.
Meu avô dizia que os outros sentidos se aguçam se a gente come uma fruta ao mesmo tempo. Tentei figo, fruta-do-conde, cupuaçu, manga, maçãzinha simples, nada.
O amor quando ele acaba ele descasca mesmo.