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O que esperar do novo livro de Drauzio Varella

Neste mês, o médico e escritor lança O Sentido das Águas: Histórias do rio Negro, no qual revisita memórias de mais de 30 anos de viagens pela região

Por Redação Bravo!
21 abr 2025, 09h00
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 (Companhia das Letras/divulgação)
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Drauzio Varella é, sem dúvida, um dos nomes mais respeitados do país. Desde o início da carreira, o médico alia seu trabalho em saúde à habilidade de se comunicar com clareza, empenhado em tornar o conhecimento científico acessível ao grande público. Com um estilo calmo, direto e didático, tornou-se uma referência em saúde pública tanto na rádio, na televisão quanto no YouTube.

Além da atuação como médico e comunicador, Drauzio também se destaca como um talentoso escritor. Publicou 20 livros durante a sua trajetória. Sendo sua obra mais conhecida, Estação Carandiru (1999), nasceu da experiência como voluntário na Casa de Detenção de São Paulo e traz um retrato impactante do cotidiano dos presos e das falhas do sistema penitenciário. A obra venceu o Prêmio Jabuti e foi adaptada para o cinema, ampliando ainda mais seu alcance.

Agora, ele retoma outra de suas paixões: a Amazônia. Em abril, lança O Sentido das Águas: Histórias do rio Negro (Companhia das Letras), no qual revisita memórias de mais de 30 anos de viagens pela região. Essa conexão com o Norte do país já havia sido registrada em Nas Águas do Rio Negro (2017), publicado com ilustrações de Odilon Moraes.

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Nas águas do rio Negro (Companhia das Letrinhas) (Companhia das Letras/divulgação)

Desta vez, Drauzio embarca em uma longa travessia pela bacia do Rio Negro, explorando não apenas as paisagens, as comunidades ribeirinhas e os contrastes entre beleza e risco, mas também mergulhando em reflexões sobre temas universais. Ao longo do percurso, o autor reflete sobre o envelhecimento, a morte, a espiritualidade, o ateísmo e os dilemas de manter seus princípios — como a defesa incondicional da saúde pública — em uma era marcada pelo ódio e pela polarização nas redes sociais.

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A seguir, leia um trecho da obra:

Minha paixão pelo rio Negro nasceu em nosso primeiro encontro. Quando vi aquela imensidão de águas escuras, a refletir feito espelho o mundo ao redor, senti o ridículo de ter vivido quase cinquenta anos no país em que nasci sem me dar conta de ta‑ manha beleza. 

Há centenas de milhões de anos, as águas da bacia do rio Amazonas desaguavam no oceano Pacífico, no sentido oposto ao que fazem hoje. Há cerca de 10 milhões de anos, no entanto, quando a cordilheira dos Andes emergiu das entranhas do planeta, impe‑ dindo‑as de prosseguir, o rio formou um lago enorme que forçou a passagem na direção do Atlântico. 

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O Negro é um dos três maiores rios do mundo. Da nascente, na região pré‑andina, até se juntar com o Solimões para formar o Amazonas, logo abaixo de Manaus, ele percorre cerca de 2200 quilômetros. Ao contrário do Amazonas, seu curso é dotado de poucos meandros. Apesar de existir uma calha principal, na época da cheia a água sobe doze, quinze metros, inunda a floresta e forma um labirinto de ilhas e milhares de igapós, furos, igarapés e paranás, entre os quais só navegadores experientes ousam se aventurar. 

O Alto Rio Negro é a região com o maior índice pluviométrico do país. As chuvas caem fortes. Mal as nuvens agourentas se agrupam no horizonte, é preciso correr atrás de abrigo, já que num instante estarão em cima de nós. A água despenca sem piedade, envolta num manto enevoado que turva a visão da floresta e estilhaça o espelho da superfície do rio. Os raios estalam seguidos de trovões roucos, intermináveis, como se o céu estivesse prestes a desabar. Inesperadamente, como se em obediência a uma ordem poderosa, tudo cessa, e o silêncio toma conta da floresta. Em poucos minutos o sol voltará a brilhar em meio aos pingos que gotejam da vegetação e da umidade que invade os pulmões. 

Os números que caracterizam o rio são astronômicos: a bacia do rio Negro drena uma área de 700 mil quilômetros quadrados.  Nas regiões em que não existem ilhas fluviais, a largura varia de um a três quilômetros, distância que aumenta dez vezes nas proximidades de Manaus. Embora junto à foz a profundidade atinja cem metros, nos demais trechos pode diminuir entre cinco e vinte metros na seca, tornando penosa a navegação. Ao caírem as chuvas, entretanto, a profundidade ficará entre quinze e 35 metros. 

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Em volume de águas, o rio Negro é o sétimo maior do mundo. Sua nascente é na Colômbia, e a foz, na margem esquerda do Amazonas, formada pelo encontro de suas águas com as do Solimões. É mais caudaloso do que todos os rios da Europa reunidos. Em seu leito estão localizados os dois maiores arquipélagos fluviais do mundo: Mariuá, na região de Barcelos, curso médio do rio, e Anavilhanas, na parte baixa, que começa abaixo da desem‑ bocadura do rio Branco e segue por 120 quilômetros na direção do encontro com o Solimões. São mais de mil ilhas, algumas das quais com vinte ou trinta quilômetros de extensão, que passam boa  parte do ano submersas, formando igapós, nos quais é possível penetrar com a canoa deslizando na altura da copa das árvores mais baixas.

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O sentido das águas: Histórias do rio Negro (Companhia das Letras, 2025) (Companhia das Letras/divulgação)

O sentido das águas: Histórias do rio Negro (Companhia das Letras, 2025)

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