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OLÁ,

Um escritor da Guiné busca suas origens no Brasil

Em "Pelourinho", autor Tierno Monénmbo refaz o caminho do tráfico transatlântico na tentativa de encontrar seus parentes ancestrais na Bahia. Confira trecho

Por Da redação
Atualizado em 29 nov 2022, 10h18 - Publicado em 29 nov 2022, 10h18
livro Pelourinho, de Tierno Monenembo
 (Editora Nós/reprodução)
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Um dos romances mais importantes do autor Tierno Monénembo acaba de ser publicado por aqui. Escrito em 1995, Pelourinho conta a história de um escritor africano que vem ao Brasil procurar seus primos, descendentes de Ndindi-Furacão, ancestral comum e rei da tribo dos Mahi, destituído e deportado como escravo para o Novo Mundo.

Nascido na Guiné, país que viveu sob o domínio francês durante o período da colonização, Tierno Monénembo preferiu ambientar seu romance no Brasil em vez de qualquer colônia francesa nas Américas. Há, é claro, um motivo: o tráfico transatlântico nem sempre levou os escravizados de uma ponta a outra dos territórios ocupados.

Pelourinho está sendo lançado pela editora Nós. Confira um trecho abaixo:

Meus olhos viram bem, Exu não é mentiroso: o véu lançado ao fogo, as asas do beija-flor, o cordame de um barco sobre as ondas. Um mágico espetáculo depois da enxaqueca, figuras de tinta nanquim, uma auréola de luz cinza que se torna amarela, em seguida vermelha, formando pequenos discos leitosos como a cada vez que a vertigem me toma. Você estava lá, no meio, na contracorrente da multidão que se alastrava da igreja de São Francisco se preparando para a Bênção, sublime, imperturbável. Você subia o largo comprimindo um objeto na mão direita. Suava grossas gotas, vacilando feito vara por entre os buracos da praça. Cansado como estava, você devia vir do Comércio pela rampa do Corpo Santo. Da Saude ou do Carmo, era só descer até onde começa a subida da praça, no nível da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Para mim, então, você vinha do Comércio com sua calça de algodão e sua camiseta gasta, todos os dois completamente encharcados. Logo te reconheci pelo cheiro de seu vilarejo e suas escarificações. Pensei comigo: ‘Felicidade aos que se armam de paciência, Exu nunca mente. O dia prometido chegou’.”

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