A arte de John Williams, o compositor que definiu uma era
Autor da trilha sonora de várias gerações e um dos maiores compositores do nosso tempo, maestro e finalmente é homenageado com um lindo documentário na Disney+
Como apaixonada por Cinema e TV, posso afirmar que o maestro e compositor John Williams me marcou ainda mais do que diretores, roteiristas ou diretores porque com as notas musicais que saíram de sua alma as emoções afloram imediatamente. Sua genialidade está ligada não apenas a “alguns” temas mais icônicos do cinema: pelo menos 9 das 10 das melodias mais reconhecidas por gerações são de sua autoria. E essa trajetória é homenageada com o documentário A Música de John Williams, disponível no catálogo de streaming da Disney+, um presente para os fãs e uma aula para os curiosos.
Em pouco mais de uma hora, navegamos pela vida do compositor, hoje com 92 anos, um homem extremamente reservado e tímido. O único que poderia estar a sua altura na contribuição para o cinema seria Ennio Morricone, que também assina algumas das melodias que transcendem tempo e o meio para o qual foram escritas. E ouvir diretamente de Williams como ele trabalha e se conecta com a música é nada menos do que fascinante.
Filho e pai de músicos profissionais (seu pai tocava nas maiores big bands da época e seu filho é o vocalista da Toto), Williams sonhava em ser pianista clássico e por conta do trabalho de seu pai se viu crescendo em Hollywood e tendo acesso aos estúdios e estrelas desde criança. Se você, como eu, é maníaco por trilhas sonoras, pelo fato de que ele trabalhava com Henry Mancini e Bernard Herrmann, entre outros, é incrível lembrar que o piano do tema Peter Gunn é tocado por ele, assim como em Bonequinha de Luxo, Amor, Sublime Amor” e tantos outros filmes e séries.
A descoberta que era melhor compositor (e regente) do que pianista veio justamente quando ele passou a escrever música para televisão. Nada menos do que o tema da série como Perdidos no Espaço é um dos seus primeiros trabalhos. E isso faz de Williams um músico “diferente” do resto. Tendo testemunhado os trabalhos de gênios desde novo, tendo visto a TV “nascer” e trabalhar nesse meio antes de ir para o Cinema, faz dele um favorito dos diretores mais exigentes porque ele não apenas entende bem como suprir a melodia necessária para a cena e o filme, mas é ágil, tranquilo e aberto a reescrever o que for necessária para o filme, não para si mesmo. Sua humildade não é esquecer do seu talento, é amar tão profundamente o processo de criação que faz dele um roteirista indireto da obra.
Essa forma de trabalhar não foi “inventada” por Williams, é verdade. O mérito está com um de seus ídolos e fontes de inspiração, Sergei Prokofiev que podemos dizer que é o compositor original de todas as trilhas incidentais desde o início do Cinema. Isso é tema para outra coluna, prometo escrevê-la em breve. Hoje o foco é John Williams.
Falar do maestro sem citar os amigos Steven Spielberg e George Lucas é virtualmente impossível e ambos são os produtores do documentário, que foi lançado no início de 2024 anos cinemas americanos. E eles realmente devem MUITO a Williams porque vamos citar alguns dos temas que ele criou para os dois: “Tubarão”, “E. T. – O Extraterrestre”, “Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida”, “A Lista de Schindler” e “Star Wars”, só para mencionar poucos.
A parceria com dois dos maiores gênios de Hollywood é interessantíssima. Quando John Williams foi indicado para trabalhar com Steven Spielberg, ele já tinha nada menos do que dois Oscars (iria ganhar mais três) e estava na casa dos 40 anos. Spielberg era um rapaz de 20 e poucos anos, com sucessos apenas na TV e começando a trabalhar no cinema. Foi um encontro de almas e passaram a trabalhar juntos desde então, sem se repetir ou nos decepcionar.
E sim, se não fosse Spielberg não teríamos os temas tão famosos de Star Wars porque o compositor quase escolheu outro projeto em vez da aventura espacial de Lucas. Acompanhá-los falando sobre todo esse período e ouvindo o que resultou dessas parcerias é de levar lágrimas aos olhos com frequência. Tipo, ouvir as duas notas de Tubarão e depois as cinco que criaram todo o clima e diálogo com extraterrestres em Contatos Imediatos do Terceiro Grau é maravilhoso.
Dito tudo isso, há uma superficialidade inegável no documentário, uma escolha ao mesmo tempo respeitosa e deliberada de mencionar os momentos de dor na vida pessoal de John Williams – como ficou viúvo repentinamente no início dos anos 1980s, seus problemas como regente da Boston Pops Orchestra – mas não aprofundam. O foco é a música e apenas a música. E até aqui evitam mencionar as melodias profundamente parecidas com compositores clássicos de quem ele “se inspirou”, algo que hoje também vou passar batido para não ficar muito técnica. O fato é que, se “inspirando” ou criando melodias originais, John Williams é o maior compositor americano das últimas décadas.
Ao assistir A Música de John Williams conferimos que ele não é apenas o compositor por trás de temas que reconhecemos instantaneamente; ele é a alma musical de grandes histórias que fazem parte da nossa memória coletiva. Seu talento vai além da técnica, tocando em algo profundo e universal que nos emociona e conecta.
O documentário deixa claro que seu legado transcende o cinema: ele é, de fato, um dos maiores compositores do nosso tempo, um verdadeiro mestre da emoção. Para aqueles que, como eu, vivem e respiram trilhas sonoras, a música de Williams será sempre um convite para sentir mais e ir além.