A história da composição de Silent Night: a canção natalina mais popular de todos os tempos
Bing Crosby gravou a canção em 1942, no auge da 2ª Guerra Mundial

Não estaríamos no século 21 e sua cultura binária se não tentássemos comparar e tentar decifrar afinal, qual a maior canção de Natal de todos os tempos. A resposta não é tão simples como esperado, mas é cheia de curiosidades.
Entre as milhares canções natalinas, em 2024 completamos aniversários das duas mais recentes e famosas – All I Want For Christmas Is You, de Mariah Carey, faz 30 anos e Last Christmas, de George Michael, completa 40. Portanto ambas já estão no hall de clássicos. Mas, mesmo com números astronômicos os dois sucessos pop juntos não ultrapassam as icônicas Silent Night ou White Christmas, mesmo que o tempo esteja sinalizando algumas mudanças.
Vou me debruçar sobre cada uma das quatro separadamente, mas vamos à resposta do mistério. Se for usar como critério a canção mais gravada de todos os tempos, essa coroa permanece com Silent Night. Se for levar como relevância o maior número de vendas, bom, ainda não bateram White Christmas, mais ainda na voz de Bing Crosby. E, embora Last Christmas seja ultra popular, é mesmo Mariah Carey que é a “mãe noel” com o hino de Natal que escreveu em 1994. São nada menos do que oito discos de platina (mais de 8 milhões de cópias vendidas cada), lidera o topo de todas paradas mundiais, o clipe oficial tem mais de 750 milhões de visualizações no YouTube e no Spotify, a música acumula mais de 1,3 bilhão de reproduções, destacando-se como uma das faixas natalinas mais ouvidas na plataforma. Ainda assim, não é “a” maior canção natalina de todos os tempos. Essa posição se mantém firme com Silent Night.
O poema pela Paz transformado em hino religioso
A Europa ainda se recuperava da força das Guerras Napoleônicas, passando por fome, escassez financeira e tragédias com incêndios e inundações e fome quando em 1816 foi declarada Paz mundial. Para inspirar sua congregação, o padre católico Josef Mohr, que vivia em uma pequena cidade perto de Salzburg, escreveu um poema chamado “Stille Nacht”, mas o guardou por dois anos sem apresentá-lo a ninguém. Até que, no Natal de 1818, a cidade passou por uma enchente e a igreja paroquial onde estava alocado foi inundada. Desolado, mas querendo inspirar os fiéis a manter confiança no futuro, Mohr pediu ao professor e organista Franz Xaver Gruber, que tocava numa vila vizinha, para musicar seu poema. Ele que era tenor, queria cantá-lo com duas vozes e um violão.
Gruber aceitou a proposta escreveu o arranjo em apenas uma tarde e Mohr esperou o fim da missa para fazer a surpresa (e também porque violão não era um instrumento aceito na Igreja). Como mágica, ele dedilhou o instrumento e cantou baixo sua canção, mas ao fim, toda congregação se uniu a ele em coro. Mágica de Natal?
Foi tão potente que em vez de ter sido algo de apenas uma noite, o reparador de órgãos Karl Mauracher, que estava presente, levou a partitura para casa com ele e passou a cantar com o coral de sua aldeia. A fama dos corais foram crescendo e eventualmente ela foi traduzida e espalhada pela Europa. Em 1839, ela chegou aos Estados Unidos com a tunê dos Rainer Family Singers. Vinte anos depois, o padre episcopal John Freeman Young, então servindo na Trinity Church, na cidade de Nova York, fez a tradução em inglês que hoje é a oficial.
Diante do histórico de sua origem, é ainda mais emocionante e compreensível saber que quando o ator e cantor Bing Crosby gravou Silent Night em 1942, no auge da 2ª Guerra Mundial, a intenção era a mesma de sua composição: inspirar Paz e harmonia. Essa gravação vendeu mais de 10 milhões de cópias, um número absolutamente imbatível por muitas décadas e de significado ímpar quando se considera o tempo.
A versão de Crosby ajudou a popularizar a canção religiosa foi traduzida para mais de 300 idiomas e dialetos, com milhares de versões gravadas por diversos artistas nesses 206 anos. É, segundo o Guiness, a canção mais gravada de todos os tempos. A própria Mariah Carey já a regravou e nem seu grande sucesso conseguirá alcançar a mesma relevância. Afinal, com grande importância histórica, “Silent Night” não compete diretamente em popularidade com hits modernos em plataformas de streaming ou rádios comerciais, que priorizam canções pop natalinas. Tudo bem, ela reina em contextos tradicionais, religiosos e concertos corais exatamente por conta de seu apelo universal e espiritual que transcende gerações. Ultra necessária ainda em 2024, não é? Feliz Natal!