Beyoncé e o funk brasileiro: como a artista incorporou o ritmo em sua nova turnê
Beyoncé estreita ainda mais seu vínculo com o Brasil ao samplear novo trecho de funk de DJ paulista na faixa “Spaghetii”

Quando o álbum “Cowboy Carter” foi lançado em março de 2024, os fãs já puderam ouvir pela primeira vez as batidas do funk brasileiro integradas a “Spaghetii”. Mas foi na estreia da turnê, no SoFi Stadium, em Los Angeles, que o laço se confirmou ao vivo: entre as cordas de guitarra country e o beat hip hop, ecoaram as palavras em português do paulistano Mimo Prod – “Essa tá quente, com a parada mais pra frente. Sai da frente, segura mas tá quente” –, tornando inequívoca a homenagem de Beyoncé às periferias brasileiras.
A faixa, originalmente lançada em março de 2024, já havia sinalizado essa fusão ao samplear “Aquecimento das Danadas”, do DJ carioca Mandrake, pioneiro da Furacão 2000. Mas na turnê, a surpresa veio com a inclusão de “Essa tá quente”, do DJ paulistano Mimo Prod, cujos versos “Sai da frente, segura mas tá quente” ganharam o palco global.
Dos bailes para o mundo
O funk brasileiro, gênero que nasceu nas favelas do Rio e ganhou força nas pistas de São Paulo, vive um momento de projeção sem precedentes. E Beyoncé parece saber disso. Em “Spaghettii”, a batida acelerada de Mandrake — criada em 2003 para “esquentar” bailes — ganhou nova vida no estúdio de Beyoncé — sem aviso prévio, mas com créditos garantidos.
“Quando eu liguei o telefone, foi uma loucura. A Beyoncé é uma fada: ela mudou meu telefone. Foi uma mágica”, disse Mandrake, em entrevista, sobre o momento em que descobriu que sua música integrava a discografia. O sample, recurso comum na indústria musical, consiste em usar trechos de gravações preexistentes em novas composições. No caso deste single, a batida acelerada e os “cacos” (elementos sonoros que modificam a cadência) do funk foram remixados com o flow agressivo do rap.
Mas a surpresa não parou aí. Na turnê, Beyoncé deu um passo além: durante a performance desta mesma música, a cantora incluiu outro sample brasileiro — “Essa tá quente”, do DJ paulistano Mimo Prod. “Essa tá quente, com a parada mais pra frente. Sai da frente, segura mas tá quente”, ecoou no estádio SoFi, em Los Angeles, enquanto a artista dançava ao lado de um touro mecânico gigante. O trecho, gravado originalmente para animar bailes de periferia, agora ressoava para 70 mil pessoas.
Do Rock in Rio ao Cowboy Carter: uma relação de longa data
A ligação de Beyoncé com o funk brasileiro remonta a 2013, quando ela surpreendeu o público do Rock in Rio ao dançar o “Passinho do Volante”, do MC Federado & Os Leleks. Na época, o gesto foi visto como uma curiosidade, mas hoje se revela parte de um projeto maior: a artista tem usado a música brasileira não como “exotismo”, mas como elemento estrutural de sua obra.
A “Cowboy Carter Tour” é um espetáculo de quase três horas, com 36 músicas que vão do clássico “Crazy in Love” ao country experimental de “Ameriican Requiem”. O cenário, repleto de referências ao Velho Oeste, incluiu um touro mecânico dourado e projeções de paisagens desérticas. Mas foi na hora de “Spaghettii” que o Brasil invadiu o palco: além dos samples, a coreografia incorporou passos que remetem ao passinho e ao brega funk.
Enquanto a turnê segue para outras quatro cidades dos EUA, os fãs brasileiros seguem se perguntando se a artista virá ao Brasil. Até o momento, nada foi confirmado, mas, considerando seu histórico, é possível que o país ganhe datas especiais.
Por enquanto, resta aos admiradores a satisfação de ver nosso ritmo mais autêntico ecoar no palco de uma das maiores artistas da história. E, como diria Mimo Prod: “Essa tá quente” — e Beyoncé botou mais lenha.