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A ascensão do Black Pantera

Embarcando em mais uma turnê internacional, a banda de metal brasileira fala sobre ativismo político, luta antirracista, música e muito mais

Por Eduardo Ribeiro
Atualizado em 29 set 2023, 12h48 - Publicado em 29 set 2023, 09h27

A banda mineira de crossover Black Pantera se prepara para iniciar uma nova turnê europeia no dia 29 de setembro. Composto pelos irmãos Charles Gama (guitarra, vocal) e Chaene da Gama (baixo) ao lado de Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria), o trio promove seu álbum mais recente, Ascensão.

Formado em Uberaba, no interior de Minas Gerais, o grupo já disparou três obras de estúdio desde 2014. Ascensão veio em março do ano passado, mas segue repercutindo. Este novo trabalho via Deckdisc – espécie de selo mainstream para os padrões do underground – tem como destaque uma linda arte de capa com Ana Francisco e Carolina Antônio, moçambicanas que exibem imponentes facões em uma foto de Victor Balde. Nada melhor para simbolizar a intensidade e a acidez da proposta.

O trio, que iniciou sua carreira sob aclamação da crítica com seu trampo de estreia, em 2015, já abriu shows para grandes nomes como O Rappa, System of a Down, Slayer e Green Day. São conhecidos por seu estilo visceral, com influências de punk/hardcore, e letras embebidas de críticas sociais.

A novidade é o single “Dreadpool”, que apresenta versões em inglês e português da faixa homônima. A música combina metal e funk, aproximando-se do hardcore no final, e manda um salve para o cineasta Spike Lee no refrão, atiçando um debate sobre o poder da representatividade preta na transformação cultural. Produzido por Rafael Ramos, o som foi gravado no Estúdio Tambor, no Rio de Janeiro, e masterizado em Seattle. “Sempre quisemos lançar um single em dois idiomas. Cantar na língua nativa é o que nos destaca e nos levou ao exterior em diversas ocasiões. Com a próxima turnê na Europa e no Chile, essas músicas vieram à vida”, comenta Chaene.

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(Fotografia: Bruno Fernandes/divulgação)

O power trio dará início ao rolê europeu em Portugal nos dias 29 e 30 de setembro, seguindo para Dublin, Irlanda, no dia 2 de outubro, e encerrando em Londres, Inglaterra, no dia 4. Posteriormente, se apresentará no Chile entre novembro e dezembro. Com um futuro promissor e um possível EP ainda este ano, os manos do Black Pantera estão prontos para injetar vida e atitude no rock brasileiro com sua energia contagiante. Infelizmente, na tarde do bate-papo que vocês acompanham a seguir, Charles, ideólogo do projeto, estava doente e não conseguiu participar. Mas Chaene e Rodrigo mandaram bem nas ideias. Confira:

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O som de vocês costuma ser descrito como metal, mas tem muita influência de hardcore também.
Chaene da Gama: É um crossover. Nós misturamos tudo.

Além dessa mistura, outra coisa marcante é o ativismo das letras. Como vocês enxergam o cenário político brasileiro nos últimos anos?
Chaene: Polarizado totalmente, mano. Olhando para trás, foram anos de uma narrativa de conflitos ideológicos. Desde a coisa de “o gigante acordou”, Bolsonaro surfando nessa onda depois do impeachment da Dilma. Aí começamos a definir mais qual seria o nosso viés diante dessa loucura.

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(Fotografia: Bruno Fernandes/divulgação)

E como esse ambiente sociopolítico influenciou na formação e evolução da banda?
Rodrigo “Pancho” Augusto: Naquele momento, quando tudo isso começou, nós ainda estávamos construindo um pensamento crítico. A formação da banda nos ajudou nisso, sabe? Charles tinha uma ideia muito boa, que vinha de não se sentir representado nos eventos e rolês de rock. Você colava lá e não tinha preto tocando. Ele viu no nome “Black Pantera” uma forma de ter uma banda que expressasse isso, mas nós não tínhamos ainda muita profundidade sobre política nem consciência de classe. É muito doido ver a banda crescendo. Comparando os discos desde o primeiro, dá para notar o quanto tudo foi se aprofundando. O grupo foi crescendo e nós, enquanto cidadãos, fomos evoluindo junto.

Quer dizer que a origem da banda foi determinante na busca por um entendimento mais profundo sobre a sua própria cultura e identidade?
Chaene: Iniciar uma banda politizada nos obrigou a buscar uma melhor formação política do que tínhamos antes, ela nos empurrou para isso. Porque um grupo de homens pretos que leva um nome em referência aos Black Panthers não pode falar sobre coisas aleatórias, então fomos procurar entender nossos ancestrais, a política.

É isso o que a sociedade faz, no caso da pretitude, ela te adapta ali mas não te passa quem foram os seus ancestrais, quem foram os líderes, qual foi a verdadeira história. Só falam que os negros vieram como escravos da África, e ficaram ali 400 anos submetidos. Mas tem todo um pano de fundo por trás, civilizações inteiras. E nós fomos descobrir isso a partir da banda.

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Os próprios ouvintes que começaram a se identificar com nossa música foram interagindo conosco, sugerindo estudos, autores, filmes. A banda é maior do que nós, até hoje costumamos ganhar muitos presentes desse tipo, porque realmente é uma parada que fica apagada. Tomam tudo da cultura preta, usufruem, mas não gostam dos pretos. É uma coisa de retomada, o rock é coisa que não existiria sem os pretos.

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(Fotografia: Bruno Fernandes/divulgação)

Uma coisa muito presente no som do Black Pantera é a cadência da música brasileira. Mesmo que vocês cantassem em outra língua, fica evidente na levada rítmica a herança da cultura preta africana.
Rodrigo: Inúmeros ritmos nasceram da cultura preta africana, tudo tem a sua essência lá. Então, fomos descobrindo tudo isso com a ideia de retomar, falar a respeito, enfatizar. Com isso, conseguimos ampliar a nossa visão e atrair tantas pessoas. E o que estamos falando é a verdade, é a nossa verdade. O Partido dos Panteras Negras já estava entre as primeiras referências. Malcolm X, Zumbi. O FBI e a CIA, foram incisivos em realmente acabar com o partido, que chegou a ser muito organizado. A proposta da banda é ser ainda mais enfática.

Pegando esse gancho, gostaria que falassem sobre a posição do grupo em relação à atual conjuntura política e social na América Latina, especialmente em relação ao neoliberalismo.
Chaene: Estou lendo O Quilombismo, de Abdias do Nascimento, em que ele fala do panamefricanismo. É incrível, isso foi um divisor de águas. Ele tinha um pensamento muito foda! Filósofo preto, brasileiro, estudou muito, e os artigos que ele deixou são excelentes. Desde os anos 1960, já falava de forma incisiva sobre a questão da pretitude.

A banda tem mesmo um viés de esquerda porque esse é o pleito que segue pelo lado do social, em nossa opinião. Somos homens pretos, da parte de baixo da lógica capitalista, e o que propagamos é justiça social para todo mundo. Estamos vendo aí a ascensão do Javier Milei, político de extrema-direita e candidato à presidência na Argentina, que já deixou claro que vai extinguir a justiça social no país, vai romper contratos com um monte de outros países, não quer trabalhar com a China, que é uma das maiores potências mundiais…

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Enfim, neoliberalismo de direita, né? Vai precarizar a saúde, a educação a cultura, a ciência, vai extinguir os ministérios tudo, e a galera está batendo palma para isso. Então você vê que são paradas que não conversam com o bem-estar social. Diante disso tudo, na eleição passada nós assumimos mesmo a bandeira de oposição a esse tipo de ideologia.

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(Fotografia: Bruno Fernandes/divulgação)

O que vocês acham do Lula?
Rodrigo: Nós apoiamos a candidatura do Lula, mas estamos de olhos abertos para cobrar. Tem que estar sempre vigiando, porque somos cidadãos.

Chaene: Eu até acho que ele demorou para se manifestar sobre a morte do menino Thiago Menezes Flausino, baleado em uma operação da PM no Rio [em agosto de 2023];. Depois, até falou na cara do governador; mas não é só falar, é fazer.

O ideal, no Brasil, seria um presidente preto. Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos, já é alguma coisa. Mas aqui, 55% da população é preta e nunca teve representatividade proporcional.

Assumir posicionamentos políticos, para um artista, traz cobranças do público. Como vocês lidam com críticas em relação a participar de festivais mainstream?
Rodrigo: Já criticaram dizendo que tocamos para playboy que paga 600 conto de ingresso, que isso não pode, sabe? É complicado, porque tem uma galera que quer nos ver tocando só em rolê underground, mas a banda não consegue sobreviver assim. E outra coisa: festivais grandes amplificam a nossa voz. Se eu tenho uma ideia para passar, não adianta ficar só falando em torno de nós mesmos. Assim vamos ficar andando em círculos dentro de um nicho.

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Se você toca num festival, igual quando tocamos no Rock in Rio, que inclusive foi televisionado para milhões de pessoas verem no mundo todo, ou no Lollapalooza, você está, de uma forma ou outra, ocupando aquele espaço e propagando a ideia. Sempre tem uma parte do público que vai para ver outras atrações e acaba conhecendo e curtindo. É uma ideia forte, necessária.

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(Fotografia: Bruno Fernandes/divulgação)

Chaene: Gostamos de tocar fora do circuito do metal, em festivais diversos. Porque aí você chega na galera que normalmente não te ouviria no streaming nem veria o seu clipe, mas te vê ao vivo e fala, “Pô, esses caras são foda.” É assim que o trabalho avança.

Rodrigo: Ano passado nós tocamos num festival à convite do Black Alien. São gêneros diferentes, mas com a ideia que cabe no mesmo evento. Foi muito legal ele ter tido essa sensibilidade. A nossa foi a única banda pesada, que tinha bateria e guitarra. No festival só tinha MCs, DJs, e o Black Pantera lá. Falando as mesmas coisas, só que com guitarra distorcida.

Mas sabe que uma pá de sons de vocês rola adaptar em rap, né? Já tem até as rimas na parada para adiantar o lado [risos].
Chaene: Acho que tem várias. O rap e o hip hop sempre foram muito combativos também.

Rodrigo: Sempre rolam umas intervenções, o Chaene canta Racionais no show. Temos até um EP gravado com uma música da Elza Soares. Nós passamos a entender que não é só mais pelo “noise”, pelo rock, que a galera vem no show, mas pela ideia, que é relevante.

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Agora, outra curiosidade: o Sepultura, sendo um ícone do metal mineiro, influenciou o som e a proposta do Black Pantera em que medida?
Chaene: Sim, eles souberam mesclar muito bem isso, tanto que explodiram no mundo inteiro por conta disso. O disco Roots trouxe essa brasilidade com distorção.

Rodrigo: Sepultura é uma grande referência nossa… Nós somos de Uberaba, cidade na qual moramos até hoje, e crescemos ouvindo de tudo. Mães e pais aqui ouviam música raiz, moda de viola, eu toquei muito samba quando era moleque. Antes de tocar bateria, passei pela percussão. O Chaene e o Charles também acompanharam os pais deles.

Chaene: Se é brasileiro, é afro! É afro, é indígena… Eu nem sei como veio o negócio do rock, porque toco baixo desde os 19 anos, mas já ouvia antes, gostava muito de Legião Urbana, cara. Nas casas dos nossos avós e pais tinha muito vinil, e até hoje tem. Legião, Titãs, Michael Jackson, Jackson 5, era essa mistura. E tinha um vinil do Master of Puppets, do Metallica. Meu pai sempre ouviu muito de tudo, trabalhou com bandas de baile, dupla sertaneja, sempre esteve envolvido com música. E aí descobrimos muita coisa nesses vinis.

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(Fotografia: Lucas Shtorache/divulgação)

Me lembro de nós ouvindo de tudo na vitrola quando éramos moleques. Quando comecei a ouvir rock, já era: “Vou montar uma banda.” E aí já começou tocando os metalzão. Os instrumentos, baixo, violão, esses trens eram naturais para nós. Meu pai tinha muitos amigos, e nas confraternizações sempre tinha bandas, alguém com um violão, tocando. Demoramos para descobrir algumas coisas, lembro que um amigo mandou pro Charles um disco do Living Colour. E nisso ficava procurando fita VHS para conseguir ver os caras.

O que vocês esperam para o futuro do Black Pantera?
Rodrigo: Acho que não pode ter comodismo, sabe? O plano agora é foco total. Porque a banda está no ponto de se firmar. Já tocamos em grandes festivais, mas queremos voltar para eles, não é só tocar uma vez e se achar foda. Não. Tem que fazer melhor ainda, para você estar ali igual o Sepultura, sendo chamado todos os anos. Para isso, tudo tem que ser muito bem feito.

Chaene: Chegar e fazer um baita show, para a galera sair dali esgotada de bater cabeça e sem deixar de lado o pensamento crítico, uma pulguinha atrás da orelha. Nossa ideia é ampliar o movimento antirracista.

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Os shows estão rolando legais, então?
Chaene: Isso tem sido incrível, porque as pessoas ficam realmente emocionadas. Fizemos um show no Rio, um lugar para umas 300 pessoas, e foi catártico desde o primeiro ruído da guitarra até o fim. Energia caótica. A parada tem que ter energia. Existem bandas que são ótimas tecnicamente, mas não tem uma interação com o público. Essa interação é fundamental em um show, porque a galera está interessada, atenta a cada detalhe. E nós estamos prontos para reger esse caos.

Rodrigo: Por tudo o que está acontecendo, a quantidade de plays no streaming, a turnê na Europa, acho que não teria nome melhor para esse álbum do que Ascensão.

Chaene: Temos tocado muito nos interiores dos estados  brasileiros. Fizemos Rondônia, vamos para o Maranhão, Pernambuco. Muitos shows no interior de São Paulo, Minas, e têm sido uns rolês incríveis. Existem até algumas coisas gravadas, que com certeza vamos lançar, seguimos produzindo no paralelo já pensando em incluir no próximo álbum.

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(Fotografia: Bruno Fernandes/divulgação)

Essa geração de ouvintes quer coisas novas a todo instante. Muitas bandas só estão lançando singles, e não álbuns. Ascensão tem sido um caso à parte, porque ainda não parou de repercutir. Recebemos mensagens de uma moça hoje dizendo que conheceu a banda há dois dias, por exemplo, e ela já queria comprar camiseta. Chegou comemorando porque, segundo ela, o metal era muito reacionário, machista, racista E ela está no sul da Alemanha! Todo dia tem isso, saca?

Rodrigo: Optamos por passar a mensagem da mesma forma que conversamos. Fomos criticados por letras muito simplórias no primeiro disco. Disseram isso de “Ra Ta Ta Ta”, por exemplo, que faz uma menção óbvia ao som de metralhadora, e de outras, como “Godzila”, “Boto pra Fuder”. Quando eu li isso, achei zoado, porque essa é a linguagem verdadeira do Charles falar, escrever. É simples e direto, foi o jeito como aprendemos a nos comunicar. Mas nem por isso deixa de existir uma profundidade na mensagem. Ela não se torna menor só porque é fácil de se entender.

Chaene: Acho que muita gente se identifica com isso, Em Ascensão, quando vem letras como a de “Não fode meu rolê”, é assim mesmo que nos expressamos. E as pessoas cantam a plenos pulmões essas palavras. Com isso, nós percebemos que, muitas vezes, menos é mais. Não precisa ter um riff complexo nem um solo de três minutos. Não. A galera quer cantar, quer tirar esse sentimento de dentro, sacou? É o que o cara está sentindo ali, onde encontra um canal para se externar nessa comunhão. Super funciona.

Nesse ponto, um bom ilustrativo é aquela letra de vocês que aborda a figura de Jesus e sua representação como branco, na música “Padrão é o Caralho”.
Chaene: Cara, isso é muito doido, porque não tem como Jesus ter sido como naquelas imagens europeias: branco, loiro dos olhos azuis. Sem chance. Até porque Maria fugiu com ele para o deserto, para a região africana, porque ela precisava que o imperador não soubesse que se tratava de Jesus. Eles se misturaram com aquele povo que vivia ali e não foram descoberto. Agora, você pensa, um menino loiro, de olhos azuis, no deserto. Ia ser identificado rapidinho [risos].

Mas a arte, esses pintores tão historicamente contemplados, realmente contribuíram para esse processo de impressão no imaginário popular. Essa frase veio e decidimos colocar na letra, e já era. A Igreja “abençoou” a escravidão ao determinar que os negros não tinham alma. Distorceram total.

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(Fotografia: Lucas Shtorache/divulgação)

Olhando para trás, na escola … Hoje nós somos bonitos, né, mas naquela época o racismo nem sequer era velado, era descarado mesmo. Lembro de uma galera que chamava uma menina da minha sala, linda e maravilhosa, de “Miss Banana”, que era o nome de um programa do SBT. E a mina era uma preta linda. Muitas vezes, eu mesmo dei risada disso por falta de consciência. A sociedade te veda, te cega, banaliza o preconceito. Dizem de se tratar de “mimimi” ou “vitimismo”, que antigamente era menos chato. Pô, mano, está certo esse negócio?

Você vê os próprios programas de humor que passavam na TV, Mussum, grande artista, estigmatizado como o cara que só queria saber de encher a cara. Na TV ele era o cara do mézinho, sempre no bar. Mas ele era compositor, cantor, poeta… Estou feliz de estar fazendo parte desse momento de transformação.

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(Fotografia: Lucas Shtorache/divulgação)

Rodrigo: Quando mais jovens, todos nós não só aceitávamos a propagação do preconceito, como também participávamos.

Chaene: Apesar de eu ser um homem negro, participei muitas vezes, repliquei o racismo por pura ignorância. Rolava homofobia, várias coisas… lembro de um menino gay no meu bairro, e todo mundo perseguia o moleque, jogavam pedra nele. Eu fui um dos caras que correu atrás dele. Hoje, me lembro dessas coisas… Esse cara inclusive morreu assassinado após ter se denominado mulher trans. E eu fui um dos idiotas que ofendeu ele, sacou? Olha o absurdo da parada, mano, eu, como homem preto!

Então é isso, nós vamos replicando tudo isso sem perceber. É uma luta eterna. Vamos morrer e a parada ainda vai estar em desconstrução. Mas é bom fazer parte disso, desse movimento que está fazendo as pessoas pensarem o quanto é importante você se solidarizar com essas pautas. Não preciso ser mulher para lutar pelo feminismo, e não precisa ninguém ser preto para lugar contra o racismo. Hoje, não consigo mais tolerar. Às vezes alguém faz uma piadinha, me chama de alguma coisa, eu já falo: “Não!”. E tem gente que vira a cara, me acusa de ter virado um “chato”. Mas não é questão de ser chatão não, mano, é que não aceito mais.

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