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BNegão e os Seletores de Frequência em nova turnê

Grupo comemora 10 (+1) anos de seu consagrado álbum “Sintoniza Lá” caindo na estrada pelo país

Por Artur Tavares
Atualizado em 22 fev 2024, 10h45 - Publicado em 3 Maio 2023, 10h00
bnegao-turne
 (Divulgação/divulgação)
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Um dos artistas mais criativos, completos e sangue bons da música brasileira, BNegão está com tudo. Com sua banda Planet Hemp, ele vem lotando apresentações da turnê do álbum Jardineiros, o primeiro de inéditas do grupo em 20 anos. Sozinho, tem feito shows intimistas interpretando músicas de Dorival Caymmi e, fora dos palcos, produzido novos nomes da cena nacional, como é o caso da mineira Bia Ferreira. Além disso, a partir dessa semana, Bernardo Santos também volta para a estrada com seu segundo grupo, os Seletores de Frequência, que estão comemorando 10 (+1) anos de seu álbum Sintoniza Lá.

Dez anos mais um porque Sintoniza Lá foi lançado, é claro, em 2012, mas não houve condições para que BNegão e os Seletores de Frequência se reunissem em 2022. No primeiro semestre ainda havia certo receio na realização de grandes shows devido à covid-19. Com a reabertura gradativa, houve um boom de eventos culturais que também dificultou a reunião do grupo. Então, eles aproveitaram a ocasião e mandaram prensar uma edição do álbum em vinil, que sai agora com os discos em três cores diferentes: transparente, verde e chocolate.

“Esse disco foi onde conseguimos desaguar várias ideias e ao mesmo tempo manter uma identidade, um norte, que chamamos de música preta universal”, explica BNegão, em uma conversa que aconteceu em duas partes – culpa da má conexão dos sinais elétricos e espaciais –, e que por isso contando também com as grandes presenças do baterista Robson Riva e do trompetista Pedro Selector. “Somos todos compositores, e cada um trouxe uma coisa. O Robson veio com o samba e o samba rock, o trompete do Pedro é uma identidade fundamental pra parada.”

BNegão e os seletores de frequência
(@menudamusica/divulgação)

Além de conversarmos sobre o disco, também falamos um pouco mais sobre a história do grupo, as multi-faces de BNegão e um pouco sobre o que eles planejam para o futuro. Confira:

Antes de falarmos sobre as comemorações do Sintoniza Lá, queria iniciar essa conversa um pouco mais atrás. Enxugando Gelo, seu primeiro disco com os Seletores de Frequência, saiu em 2003, há 20 anos, e foi um pontapé inicial para sua carreira solo depois da primeira pausa do Planet Hemp. O que o Bernardo daquela época queria com os Seletores, e como ele se sentiria vendo onde vocês chegaram hoje?
Lá no início, Enxugando Gelo nasceu de um monte de coisa que não cabia em lugar nenhum das coisas que eu fazia. Eu queria falar de outras coisas, tocar outro tipo de som. Depois de muita insônia, acabei decidindo fazer esse projeto solo que já estava na minha cabeça. Entrei no estúdio para gravar e saí de lá com uma banda. Então dei o nome e avisei pra galera. Porque na maioria das faixas eram os mesmos músicos, então a partir daquele momento seríamos uma banda, BNegão e os Seletores de Frequência.

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Lançamos o disco, vendeu 20 mil cópias na época, era muita coisa, ninguém estava vendendo nada. Coloquei de graça na internet, no site de um centro de música independente, um site de guerrilha brutal, assim, mundial e anarquista.

Enquanto as coisas foram acontecendo devagar para nós no Brasil, em menos de um ano estávamos tocando em Barcelona com shows lotados. Sem disco lançado lá nem nada, só na base da internet. Depois, nos apresentamos no festival Roskilde, na Dinamarca, com Black Sababath, Brian Wilson, todo mundo lá.

Ficamos tocando na Europa direto, até o disco finalmente pegar no Brasil, só em 2006. Foi uma coisa muito maluca essa demora. Começamos a fazer shows pra caramba aqui também, e o auge mesmo foi só em 2010. Então pra nós, por incrível, mais torto e louco que pareça, o Sintoniza Lá, de 2012, é como se fosse dois anos depois do Enxugando Gelo.

O momento do início dos Seletores é mais ou menos o mesmo do boom da internet no Brasil, quando as coisas já começavam a acontecer diferente no mercado musical. Enquanto o Planet tinha a Sony como gravadora por trás, você decidiu entrar de cabeça na independência, e assim ficou até hoje. Por quê?
Porque eu estava meio de saco cheio também. E teve proposta de tudo que era gravadora, tive até que começar a ensaiar uma resposta clássica, pedia pra falar com o Lobão, que se ele liberasse estava tranquilo [risos]. Todo mundo morria de medo do Lobão.

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E nem estávamos tão amarrados com ele, mas eu queria muito que o disco do Seletores fosse vendido em bancas de jornal. Então, eu dizia pra falar com o Lobão e ninguém ia. Até que ele próprio falou que estava foda, que não sabia se conseguiria verbas pra lançar, que estávamos liberados. Mas preferi esperar e fazer com ele.

“Enquanto as coisas foram acontecendo devagar para nós no Brasil, em menos de um ano estávamos tocando em Barcelona com shows lotados. Sem disco lançado lá nem nada, só na base da internet. Depois, nos apresentamos no festival Roskilde, na Dinamarca”

BNegão

Como você se sente com os Seletores? É como começar de novo na música?
Eu gosto muito de fazer minhas coisas em geral. Essa semana já toquei com o Planet Hemp, vou show cantando Dorival Caymmi, depois encontro a banda de novo para um show lotado no Mineirão, para 50 mil pessoas. No Rock in Rio aconteceu de tocarmos com o Matanza, e na mesma semana fiz um show em um teatro no centro do Rio junto com o Wilson das Neves, cantando sambas antigos. Eu sou essa pessoa, sou feliz assim.

E pra mim é muito bom poder fazer esse caminho de banda de novo. No começo, quando os Seletores iam pra fora do Brasil, sempre éramos tratados como uma banda internacional, enquanto com o Planet nós sempre tocávamos só para brasileiros, para quem estava com saudades do país. Completamente diferente.

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Essa foi uma experiência que eu só teria com Seletores, uma coisa maravilhosa, com muitos shows, críticas maneiras, venda de discos e camisetas, que nós mesmos vendíamos no final das apresentações. Voltávamos cheios de euros de lá, mais o cachê e tudo pago [risos].

BNegão e os seletores de frequência
(@menudamusica/divulgação)

Por que comemorar os 10 anos (+1) de Sintoniza Lá?
Nós ganhamos prêmios com Sintoniza Lá, e também porque era um show mesmo. Nosso DJ não podia viajar conosco nunca, então o álbum virou algo totalmente tocado mesmo por uma banda, sem samplers nem nada, totalmente orgânico.

A ideia era ter feito essa turnê no ano passado, porque seriam 10 anos redondinhos. Mas não conseguimos nos organizar, os discos de vinil não estavam prontos, os CDs também não. E estávamos despreparados porque foi essa loucura da reabertura após a covid.

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“Na minha visão de baterista e compositor, não era tocar afrobeat nem reproduzi-lo, e sim afrobeatizar o que eu estava fazendo ali”

Robson Riva

 

Esse disco foi onde o Robson, o Pedrinho e eu conseguimos desaguar várias ideias e ao mesmo tempo manter uma identidade, um norte, que chamamos de música preta universal. Somos todos compositores, e cada um trouxe uma coisa. O Robson veio com o samba e o samba rock, o trompete do Pedro é uma identidade fundamental pra parada. Os metais estão na banda, não é participação especial, é algo que faz mesmo parte da coisa.

Pedro Selector: Esse disco é inteiro tocado, e a maioria das músicas saiu da gente se encontrando no estúdio, mostrando uma ideia aqui, complementando com uma coisinha ali. No palco, ele funciona como ele no estúdio. É um disco que muda um pouco, que conseguimos manter a sonoridade praticamente inteira.

Cada disco tem um processo, às vezes você não consegue reproduzir no palco, mas Sintoniza Lá tem essa organicidade que é fundamental, e que o torna único em nossa discografia.

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Robson Riva: Me lembro que o Bernardo e eu ficávamos falando várias vezes sobre o assunto na época em que o disco estava sendo concedido. Eu acordava e ouvia Fela Kuti o tempo inteiro, me aprofundei naquele universo. Afrobeat é uma coisa que estou sempre escutando. Quando estávamos gravando, fomos participar de um programa de rádio e levamos os equipamentos todos, bateria, amplificador… Robson me falou que estava com afrobeat na cabeça, liguei o gravador do celular, ele fez o ritmo, comecei a fazer um improviso de bobeira, e aí veio o riff da música, ali na hora, de improviso. Foi o embrião da coisa.

E, na minha visão de baterista e compositor, não era tocar afrobeat nem reproduzi-lo, e sim afrobeatizar o que eu estava fazendo ali. Era essa a ideia, e acho que conseguimos chegar ao resultado de tudo que pensávamos naquele momento. Até que o disco é atemporal. O Bernardo sempre diz que a ideia dos Seletores é procurar fazer música imperecível.

BNegão e os seletores de frequência
(Felipe Diniz/divulgação)

Você começou no hardcore, no rap, e de repente foi explorando outras sonoridades também com a voz. Como foi para você ir mudando o jeito de cantar?
Eu sou meio mutante mesmo. Acho que cada ser humano é um universo gigantesco, e acho uma bobagem a gente se limitar se não tem porquê, entendeu? E aí, basicamente, faço o que a música me chama. Porque quem manda é a música, ela propõe pra você. A gente vai entendendo os caminhos que a música tá trazendo pra gente, vai interpretando aquilo.

“Cada disco tem um processo, às vezes você não consegue reproduzir no palco, mas Sintoniza Lá tem essa organicidade que é fundamental, e que o torna único em nossa discografia”

Pedro Selector

E com os Seletores de novo na estrada comemorando 10 anos de carreira, existe a possibilidade de virem novos sons?
Nesse momento estou me dedicando a um disco realmente solo, mas que tem participação de quase todos os Seletores também, enquanto a própria banda também está fazendo apresentações sem mim.

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