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Como a música “A Banda” mudou a carreira de Chico Buarque

Música faz parte do ranking da Bravo! de melhores canções da MPB de todos os tempos

Por Redação Bravo!
19 jun 2024, 10h00
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Chico Buarque  (Armando Borges / Acervo TV Cultura/divulgação)
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Quando, em 1966, “A Banda” dividiu o primeiro lugar do 2o Festival de Música Popular Brasileira da TV Record com “Disparada”, de Geraldo Vandré e Theo de Barros, Chico Buarque era um universitário de classe média que arriscava os primeiros passos na carreira musical. E o Brasil vivia os primeiros anos do regime militar.

Na voz de Nara Leão, “A Banda” vendeu em três dias cerca de 50 mil cópias. Em uma semana, passou da marca de 100 mil. No lugar do protesto, do medo e da subversão política que começavam a dominar o imaginário musical da época, “A Banda” propunha um programa sim­ples, de retorno às raízes e à poesia de um Brasil profundo e lírico que ameaçava se perder em meio ao panfletarismo.

Embora fizesse samba no porão do antigo prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em São Paulo, onde então cursava arquitetura, Chico nunca se juntou às levas de protestos estudantis con­tra a ditadura. À margem do ativismo político, o compositor criava uma poesia mais universal, menos imediatista e de enorme ressonância.

“Estava à toa na vida/ O meu amor me chamou/ Pra ver a ban­da passar/ Cantando coisas de amor”, dizem os primeiros versos da canção. A paralisia se desfaz, o medo e a angústia se calam diante da alegria instantânea da música, das “coisas de amor” que sumiam pouco a pouco em meio à negra paisagem política do país. “A minha gente so­frida/ Despediu-se da dor”, continua a canção, que, segundo aponta o jornalista Fernando de Barros e Silva no livro Chico Buarque, acirra um contrastre entre utopia e realidade nos versos que seguem a passagem da banda: “E cada qual no seu canto/ Em cada canto uma dor”.

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“Quando conheci Nara, em 65, 66, a gente achava que aquilo tudo estava ficando cansativo, a moda das canções de protesto me incomodava. Parecia a burguesia brincando e dava a impressão de ser um pouco oportunista. Então fiz A Banda e dei para a Nara gravar. Foi uma coisa meio proposital, tipo um ‘chega’”, contou o autor numa entrevista. Embora “A Banda” tenha nascido da desilusão de Chico com o engajamento daquela esquerda consumidora de protestos restritos aos próprios círculos sociais, os nomes da canção e de seu criador ficaram, a partir dali, gravados na memória desse mesmo público. “Ele era a grande unanimidade nacional, o jovem compositor-cantor excelente e sedutor, a estrela máxima desse público estudantil que lotava os audi­tórios dos festivais”, escreveria Caetano Veloso sobre Chico.

Carlos Drummond de Andrade exaltou a canção numa crônica. “A feli­cidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica, que um rapaz de pouco mais de 20 anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a idéia de como andá­vamos precisando de amor”, escreveu o poeta.

Até Nelson Rodrigues, do alto de sua antipatia pela esquerda, tremeu diante dos versos desse samba urbano de Chico: “O povo não assobiava mais. Voltou a assobiar por causa do Chico. Imaginem vocês que um dia desses entro em casa e encontro minha mulher e minha filhinha Daniela com os olhos marejados. Acabavam de ouvir A Banda. Dias depois, eu próprio ouvi a marchinha genial. E a minha vontade foi sair de casa, me sentar no meio-fio e começar a chorar”.

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Capa da edição especial de Bravo!: 100 canções essenciais (Bravo!/acervo rede Abril)

Este texto faz parte do especial da Revista Bravo “100 Canções Essenciais da Música Popular Brasileira”, publicado em 2008

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