Como “Wuthering Heights” de Kate Bush revolucionou a linguagem dos videoclipes
Lançada em 1978, quando Kate tinha apenas 19 anos, a canção é uma homenagem ao clássico da literatura inglesa

Neste 30 de julho, a cantora britânica Kate Bush completa 67 anos, com uma carreira de quase quatro décadas dedicadas à música. Resumir seu estilo e linguagem é um desafio, dada a diversidade e profundidade de sua obra. Bush ficou conhecida por fundir o experimentalismo da art pop, com rock progressivo, pop barroco, além de elementos de música clássica, folk e eletrônica. Seu impacto se consolidou mundialmente, especialmente após o lançamento do single e videoclipe Wuthering Heights. Nomes como Björk, Tori Amos e Florence Welch frequentemente citam Kate como uma influência fundamental em suas trajetórias.
Qual é a história da música Wuthering Heights, de Kate Bush?
Lançada em 1978, quando a artista tinha apenas 19 anos, a canção é uma homenagem ao clássico da literatura inglesa O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë. Na época, a inspiração não veio diretamente do livro, mas de uma adaptação televisiva exibida pela BBC, da qual Kate viu um trecho final. “Eu não tinha lido o livro, não foi isso que me inspirou. Foi uma série de televisão que exibiram anos atrás”, declarou a artista na época. Posteriormente, ela se aprofundou na obra para compor a música.
O romance, publicado em 1847, narra a intensa e turbulenta história de amor e vingança entre Heathcliff e Catherine Earnshaw. Heathcliff, adotado por uma família na propriedade Wuthering Heights, se apaixona por Catherine, mas é rejeitado por ela em favor de um pretendente mais socialmente privilegiado. Ferido, desaparece e retorna rico, decidido a se vingar daqueles que o humilharam.
Na música, Bush assume a voz do fantasma de Catherine, clamando por Heathcliff. A composição foi escrita quando Kate tinha 18 anos, mas muito antes disso ela tinha o hábito de compor e gravar suas canções em fitas. Sua trajetória para o sucesso contou com apoio decisivo do guitarrista do Pink Floyd, David Gilmour, que reconheceu seu talento e ajudou-a a assinar seu primeiro contrato com a EMI aos 16 anos.
Com o adiantamento da gravadora, Kate se matriculou em aulas de dança interpretativa com o mímico Lindsay Kemp, o que explica seu estilo performativo e teatral em apresentações ao vivo e videoclipes. “Definitivamente, fui influenciada por Lindsay Kemp porque ele é um dos meus heróis e foi meu professor por um tempo”, afirmou.
Vocalmente, Kate é soprano, reconhecida pelo timbre agudo e alcance amplo, que usa de forma expressiva para reforçar a atmosfera dramática de suas músicas. Em Wuthering Heights, seu registro mais alto cria um efeito etéreo, traduzindo o espírito fantasmagórico da personagem.
O videoclipe, que se tornou um marco, existe em duas versões. A mais conhecida mostra Kate vestida com um vestido vermelho em um campo nebuloso, dançando uma coreografia que mistura dança moderna e interpretativa, com gestos expressivos que reforçam a narrativa da música. A outra versão, igualmente icônica, traz Kate em um vestido branco, dançando em um cenário interno e escuro, enfatizando uma aura mais introspectiva e teatral.
A escolha da ambientação, o uso de figurinos simbólicos (como o vestido vermelho no campo e o branco no vídeo alternativo) e a intensidade da performance criaram um clima cinematográfico, mostrando que o videoclipe poderia ser uma obra audiovisual completa, capaz de transmitir sensações, personagens e narrativas. Essa abordagem abriu caminho para que outros artistas investissem em videoclipes como ferramentas poderosas de comunicação artística, influenciando toda uma geração de criadores visuais na música.
Vale destacar que, apesar da gravadora inicialmente preferir o single mais “rockeiro” James and the Cold Gun para estrear o álbum, Kate insistiu que Wuthering Heights fosse lançado primeiro, defendendo sua visão artística. A gravadora acabou cedendo, e o resultado foi o lançamento de um dos singles mais emblemáticos da música pop, que projetou sua carreira internacionalmente e redefiniu a linguagem dos videoclipes como forma de expressão artística e narrativa.