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De volta aos palcos

Duo Gisbranco, das pianistas Bianca Gismonti e Claudia Castelo Branco, retorna aos palcos do Rio Montreux Jazz Festival em um show especial

Por Artur Tavares
23 nov 2022, 19h10

Quão importante são os momentos no palco? Expressar-se com toda sua técnica, encontrar-se com a audiência, gozar os prazeres dos aplausos, do carinho e da energia formada ali. Para as pianistas Bianca Gismonti e Claudia Castelo Branco, do Duo Gisbranco, a apresentação no Rio Montreux Jazz Festival, em 3 de dezembro, representa também a celebração de 20 anos de amizade e carreira, e um retorno aos shows presenciais após três anos.

A última vez que Bianca e Claudia estiveram junto do público foi justamente no Rio Montreux, em 2019. Na época, apresentavam o show de Pássaros, disco autoral gravado em homenagem a Chico César, e tocavam com o MPB-4 músicas de Milton Nascimento e Fernando Brandt em uma turnê. Veio a pandemia, Bianca tornou-se mãe, Claudia lançou um disco solo, Cantada Carioca, mas isso não significou que elas não se encontraram. Pelo contrário.

Mesmo à distância, as pianistas continuaram os dois projetos. Em 2021, se reuniram para gravar Pássaros Ao Vivo, apresentação feita para o YouTube, com participação do cantor paraibano, que também virou disco. “O processo criativo estava em alta”, diz Castelo Branco. “Também gravamos um disco com a cantora carioca Júlia Vargas e os singles de ‘Maria, Maria’ com o MPB-4, e de ‘O Ronco da Cuíca’ [de Aldir Blanc e João Bosco] com o grupo vocal Ordinarius.”

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Encontros

Bianca e Claudia se conheceram enquanto estudavam na UFRJ, e o piano, a paixão pela música popular brasileira e a canção foram partes dos laços que uniram as duas e ajudaram a criar uma das obras mais bonitas e inovadoras dos últimos vinte anos.

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“Quando começamos a tocar, estávamos dentro de um pensamento sobre o que fazer com esse piano brasileiro. Será que é possível ter dois pianos? Um duo de piano em um país onde a maioria das salas de concerto não tem nenhum?”, lembra Claudia. “Eu fazia parte do grupo Piano Orquestra, com uma proposta de ter cinco pessoas tocando simultaneamente um mesmo piano. Já vinha de uma pesquisa de como extrapolar a ideia do piano meramente como um instrumento de jazz, ou coisa assim. Como é que nos inserimos mais na música brasileira?”

Com seis álbuns lançados, além de diversas participações, EPs e singles, as integrantes do Duo Gisbranco foram descobrindo com o tempo como dar voz às suas músicas e às interpretações de outros grandes artistas. “No início as diferenças eram bem nítidas, com rotulações de que eu sou contralto e Claudia é soprano”, explica Bianca. “A partir do nosso terceiro disco, foi um momento de descobrir a simbiose, esse novo elemento que é a junção das pessoas que se tornam uma outra unidade.”

“Dizemos que existe o Duo, e não Bianca e Claudia. Fomos desvendando, tanto no piano quanto nas vozes, a linguagem desse terceiro elemento das coisas misturadas. Há, é claro, as tonalidades, mas também um elemento de jogo, de entrelaçar, de tecer uma coisa juntas, e não mais o solo de uma ou de outra”, completa Gismonti.

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Duo Gisbranco
(instagram/reprodução)

Rio Montreux

Neste ano, o Rio Montreux Jazz Festival tem uma programação que começa à tarde nas areias da praia de Copacabana, no Tropik Beach Club, com shows de novos artistas nacionais. No cair da tarde, o Duo Gisbranco toca na área da piscina do hotel Fairmont Rio de Janeiro Copacabana. Também pianista, o pernambucano Amaro Freitas volta de uma turnê com 20 datas na Europa e abre a noite na Sala Rio de Janeiro. Os violonistas Yamandu Costa e Toquinho se apresentam juntos pela primeira vez no encerramento do festival.

Bianca e Claudia notam com interesse o piano e o violão como as grandes expressões do Rio Montreux deste ano. “O piano é um instrumento muito ligado às orquestras, e quando você vai para a música popular, cai no jazz. Fica uma lacuna na música brasileira que o violão preenche muito bem com o choro e tantos outros estilos”, afirma Castelo Branco. Para a artista, trazer a canção ajuda a “tirar o piano desse lugar genuinamente sofisticado, que é de fora, e inseri-lo em um Brasil mais profundo.”

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Gismonti nota também como a aproximação do piano com as raízes da música nacional mudam a forma com que os artistas se encontram com o instrumento: “Acho que tudo está saindo da forma que deveria ser, e o piano segue o mesmo caminho. Vejo, hoje, muitas linguagens diferentes refletidas nele. A rítmica, a ancestralidade africana, os povos originários que se manifestam nas músicas de Amaro Freitas e Salomão Soares, por exemplo, além das mais tradicionais, como a poesia e a canção.”

Orgulhosa do pioneirismo, Claudia conclui: “Tem também um aspecto de mais mulheres tocando. Traz outra visão, é muito diferente. Há um choque, porque viemos de um caminho e de repente as mulheres começam a ter acesso a esse lugar da música popular. Quando elas podem ir para um lugar de música à noite, até mesmo festivais de jazz… há 20 anos só havia a gente, e hoje há muito mais presença feminina nos grupos, ou mesmo solo. Não que tenhamos uma representatividade de peso, mas estamos em um caminho com novos horizontes, com certeza.”

O próximo projeto do Duo Gisbranco já está acontecendo enquanto você lê esta reportagem. Ao longo dos próximos doze meses, elas lançam em pílulas um projeto reinterpretando grandes composições brasileiras junto de Jaques Morelenbaum. A primeira música escolhida foi “Dansa Brasileira”, de Camargo Guarnieri, arranjada para piano a quatro mãos e violoncelo.

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Duo Gisbranco
(instagram/reprodução)
Rio Montreux Jazz Festival

3 de dezembro, a partir das 14h
Tropik Beach Club, na altura do Posto 6
Hotel Fairmont RIo de Janeiro Copacabana – Av. Atlântica, 4240

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