Capa da Bravo!, Letrux retorma à literatura com livro de contos “Brincadeiras à Parte”
Novo livro da artista é um convite para abraçar a loucura interior e lembrar de brincar mesmo entre as várias adversidades da rotina

Loteria. Pausa para um cigarro. Buraco. Pausa para uma larica. Paciência. Pausa para mexer no celular. Telefone sem fio. Pausa para pensar. Os nomes dos capítulos de Brincadeiras à Parte (Editora Planeta), já dão uma boa ideia do tipo de literatura que a artista Letrux se propõe a fazer: entre pausas e divagações, temos uma deliciosa tragicomédia repleta de aforismos. “Difícil resistir.
Molhada, moderna, Letrux é feita pra levar”, define Marina Lima na sobrecapa. Conhecida por seu trabalho experimental na música com discos como Letrux em noites de Climão (2017) e Prantos Pandêmicos (2021), a cantora, atriz e escritora capricorniana Letícia Novaes usa mais uma vez sua persona para dar voz, agora, ao seu terceiro livro. Em “Loteria”, texto que deu origem ao livro, somos convidados a abraçar nosso lado despretensioso (tão em falta na vida adulta) e olhar com verdade para os desejos íntimos, por mais birutas que eles sejam:

“Ritinha está dançando na sala, perto da mesa, de um jeito bem biruta, o que é motivo de meu fascínio absoluto com crianças. E também o motivo de eu não as ter. Estar perto de crianças me deixa biruta, pois me sinto confortável para estar no nível delas. Não assumo a responsabilidade esperada, pelo contrário, acho atraente fazer uma regressão momentânea. Isso já me custou muito. Na rua, em casa. Sou proibida de sair com Ritinha. Dentro de casa permitem porque estão sempre de olho, mas, a qualquer bobeada minha, me cortam. Gisele é insuportável e com uma voz bem estridente, adora me castrar quando estou em ondas com sua filha. Ela esquece que a filha dela é minha sobrinha e esses elos são diferentes. Ela esquece que, mesmo eu podendo voltar a ser criança com Ritinha, eu me preocupo se ela vai ou não tomar pontos na cabeça. A regressão não é total, infelizmente.”

Amante das palavras desde sua alfabetização, Letrux admite ser autora de textão e recusa ser refém do algoritmo das redes sociais. Para ela, jogar é verbo ativo na vida contra o tédio. “Decidi fazer um livro em que cada conto é também um jogo ou brincadeira com as palavras. Entre as partidas, a gente sempre faz intervalo: fumar um cigarro, ir ao banheiro, comer uma besteirinha. São ficções malucas que inventei”, diverte-se em conversa com a Bravo! logo após as fotos para este editorial que ilustra a matéria. De cabelos esvoaçantes e mente inquieta, ela está sempre disposta a apostar no que acredita, pular as casas que
não são suas e se divertir no meio do caminho. “Três tem um simbolismo para mim de início, desenvolvimento, fim. Chegando ao terceiro livro agora eu penso em um fechamento de ciclo mesmo”. Quais serão seus próximos passos, descubra isso e muito mais nesta entrevista sobre o novo livro, a guinada em sua carreira profissional depois do disco Climão, em 2027, a importância da crônica e do humor como aliados criativos e de sobrevivência.
Bravo! Como os jogos e brincadeiras te moldaram como artista?
Letrux Sempre fui essa pessoa que propõe brincadeiras. Não existe tédio pra mim; existe falta de criatividade. Adoro transformar jogos conhecidos – tipo “quem sou eu?” – em outras versões focadas em defeitos e virtudes. Desde criança sou assim. Não sou competitiva: tenho Marte em Libra, pra quem curte astrologia. Gosto de brincar e jogar, seja no vôlei ou Banco Imobiliário.
B! Como surgiu a ideia deste livro de contos e crônicas e sua divisão tão particular?
L Sempre amei contos: cresci lendo Veríssimo e Clarice Lispector. Mais recentemente, li Manual da Faxineira, da Lucia Berlin, e pensei: “um belo conto é genial, é um mundo todo”. Com isso na cabeça, eu escrevi um conto sobre loteria. Depois, mais outro sobre buraco – e percebi um padrão: jogos. Decidi fazer um livro em que cada conto é também um jogo ou brincadeira com as palavras. Entre as partidas, a gente sempre faz intervalo: fumar um cigarro, ir ao banheiro, comer uma besteirinha… e isso também está no livro. Já tive blog, fiz textão no Facebook, tive uma coluna na Revista Gama durante a pandemia, e, antes disso, no Segundo Caderno do Estadão. Sou cronista. E, neste livro, quis inserir “crôniquinhas” entre os contos – pequenos intervalos para dar fôlego na leitura.
Entrevista: @laisfranklin
Foto: @franklindalmeida
Direção de arte: @laisbrevilheri e @kareensayuri
Styling: @brunoptl
Beleza: @angelmoraes
Assistente de foto: @alexandredellfino e @igorvianag
Produção de MODA: @junymartinsb
Direção de núcleo: @helenagalante
Agradecimentos: Estúdio TUMDRA (@tum.dra), Sassá Sushi (@sassasushi) e Dona Celina (@donacelina_artesanal)
look capa vermelha
Vestido – Penha Maia @penhamaia
Anel Cris – Porto @crisportojewelry