Flor, filha de Seu Jorge, lança primeiro álbum: “É a minha identidade”
Cantora mistura influências do Brasil, Estados Unidos, Índia e Chile em álbum de estreia
Criada no berço da música, Flor, filha do renomado cantor, compositor e multiartista Seu Jorge, apresenta ao mundo seu primeiro EP, “Prima”. Lançado no início de setembro, seu álbum de estreia reúne um conjunto de 7 canções e é mais do que um cartão de visitas, é um mergulho profundo em suas raízes e vivências. O trabalho da artista, de 21 anos, não se resume apenas a mera apresentação, mas revela o domínio de sua sonoridade e mostra que está pronta para trilhar seu próprio caminho.
Por viver rodeada de muitas influências artísticas, a música sempre ocupou um espaço muito particular e enraizado em sua memória e, com o tempo, passou a moldar diversas experiências que permearam sua infância e adolescência.
“Desde neném, quando tocavam as músicas, eu ficava dançando de fralda. Minha mãe e meu pai diziam que eu cantava pra mim mesma pra poder dormir. É uma conexão muito forte. Sempre foi uma paixão extrema estar em volta [da música]. Minha brincadeira era estar na roda de samba ou assistir e aprender com as pessoas em volta – sempre bebendo de muitas fontes”.
Antes do lançamento do EP, Flor já havia colaborado com a consagrada cantora Marisa Monte na música “Pra Melhorar”, canção do álbum “Portas”. A melodia, inclusive, ganhou um videoclipe que contou com a participação de Flor, Marisa e Seu Jorge.
Radicada nos Estados Unidos desde os 10 anos de idade, a cantora conta que, durante a infância, cantava sobre suas vivências na escola, o processo de fazer novos amigos em outro país e sobre aprender um novo idioma. Conforme mergulhou em novos hábitos e costumes, passou a ter novas fontes de inspiração. Artistas como Kendrick Lamar, A$AP Rocky e Tyler The Creator, são algumas das referências que Flor, como fã e como artista, também agregou ao seu processo criativo.
Toda a dinâmica de estar imersa em duas culturas com línguas e formas de se comunicar diferentes serviram como gancho para ela se expressar. “O português tem uma poesia que é muito única, tem coisas que não consigo traduzir em inglês. Gosto de usar esse lado da poesia brasileira”.
Com isso, “Prima” não se limita a um único estilo musical. O EP é uma miscelânea de ritmos e sensações, um reflexo da união de diferentes culturas musicais. A sonoridade do álbum transita entre o R&B, jazz, o pop e até mesmo nuances da música asiática, evidenciando a riqueza de referências que compõem sua identidade artística.
Essa imersão sensorial é perceptível na construção das faixas. Em “One Piece“, por exemplo, ela se inspira no famoso anime japonês homônimo, e fala sobre sua relação com a espiritualidade em um ritmo mais calmo. Já em “Alchemist“, explora melodias introspectivas, convidando o ouvinte a uma viagem interior em busca de significado e propósito.
“Poolside“, por sua vez, demonstra a influência brasileira na construção da sonoridade de Flor. A canção incorpora a técnica de repetição de versos, a percussão de “Pretinho da Serrinha”, e inclusive notas de saxofone. A música foi feita de modo freestyle em um momento descontraído entre Flor e os amigos Ayush e Teo’ma, enquanto estavam aproveitando um dia na piscina.
Confira o papo completo que a Bravo! teve com a cantora:
Você começou a se apresentar muito jovem ao lado do seu pai. Como essas primeiras experiências moldaram sua relação com a música? Como foi o processo de se apaixonar pela música?
Não sei nem explicar como começou. Nasci no berço da música, desde neném tocavam as músicas e eu ficava dançando de fralda. Minha mãe e meu pai diziam que eu cantava pra mim mesma antes de falar, pra poder dormir. É uma conexão muito forte, mais viva e mais intensa que tenho em relação à arte, à natureza, à música. Fazendo shows desde pequena é uma escolha que quis fazer. Queria que as pessoas me segurassem. As pessoas me seguravam e eu falava: ‘Por que só posso cantar uma?’. Sempre foi uma paixão extrema minha. Minha brincadeira era estar em volta da roda de samba ou de assistir e aprender com as pessoas em volta de mim – e sempre bebendo de muitas fontes.
E só foi piorando [risos]. Foi crescendo. Conforme virei adolescente e adulta, fui criando meu próprio caminho. Achando meu tom, o que gosto em uma música. O que faz uma música atrair minha atenção. É o que estou focando no momento. É uma pergunta que faço hoje. Quando escuto uma música, vou pintando uma pessoa. Sou muito visual, gosto de videoclipes, filmes, vou imaginando que cada personagem vai se criando com sua história, cheiro, paladar. Invento na minha cabeça e quero incluir esses elementos.
Espero que eu inclua esses elementos na minha música também. E quanto mais eu fico adolescente, adulta e tal, vou criando o meu próprio caminho e vou achando as minhas músicas, o meu tom, o que eu gosto de uma música, o que faz uma música atrair minha atenção.
O que o público pode esperar do EP “Prima”? Como foi o processo criativo de trabalhar com seus amigos Ayush Garg e Mateo Pitkin na composição das faixas?
Toda faixa é uma música, um acontecimento e um gênero diferente. Tem a possibilidade da pessoa não gostar de duas músicas, por exemplo. Cada uma dessas faixas é um personagem e representa um momento diferente da minha vida, de 19, 20, 21 anos.
Sobre as parcerias, são todos amigos meus. O pessoal vem pra minha casa, tira um cochilo no sofá, depois a gente joga um pouco de videogame, aí o Ayushi pega uma guitarra, começa a tocar e eu canto um negócio. Eu, o Ayushi e o Teo’ma, sentamos juntos e fizemos uma música chamada NG4F, que também está no EP, é a quinta faixa. E assim foi o começo de tudo pra nós.
Tenho a sorte de trabalhar com muitos amigos. Todas essas parcerias são amigos, tios, pessoas da família. Acho muito importante ter amizade de verdade. Todo mundo vem de um lugar diferente que influencia. Flor é brasileira, a melodia tem um pouco do Brasil, as letras são em inglês, tem tabla, que vem da Índia, tem um pouco do Equador, Chile. Não é só sobre Brasil e Estados Unidos. É sobre diferentes culturas.
Como você define sua identidade artística nesse início de carreira? E como você vê essa identidade evoluindo no futuro?
Essa é a primeira vez que estou mostrando um pouco mais. “Prima” é um projeto que mostro todas as possibilidades do que posso fazer em termos de letra, melodia, conceito, ideias. Cada música tem um gênero diferente. Consigo fazer muitas coisas. Não estou fixada em só um tipo de música. Não bebi de tanta fonte musical pra poder fazer só um tipo de música. Gosto de falar sobre minha relação com Deus ou sobre um gatinho que eu estou com muita saudade de um outro país.
Você comentou que costuma criar muitas músicas no freestyle e deixar o processo fluir, pode contar a história por trás de algum single?
Durante a pandemia, passávamos a semana inteira sozinhos, e no final de semana, de quinta a sexta, todos fazíamos testes de Covid e se estivesse negativo, a gente fazia um mini final de semana coletivo. Um dia o Rogê, que é amigo do meu pai, um musicista maravilhoso que mora em Los Angeles até hoje, passava os dias lá. A gente cantava enquanto grelhava peixe.
Uma dessas vezes, convidei outro amigo meu pra fazermos músicas juntos, o nome dele é Quizz, muito mais novo do que eu, muito talentoso na produção em beats, e tinha um mini estúdio, um interface e dois speakers. E meu amigo fez o beat e chamamos o Rogê pra construir também. Foi tudo meio improvisado. Fizemos as vozes depois, fui pro Brasil com essa música e encontrei com o Lucas Nunes, que é outro mágico e ele limpou bastante a faixa e a gente conseguiu alimentar mais a produção. Obviamente não podemos ignorar a presença do senhor maestro [Arthur] Verocai. Foi assim que Macumbeira nasceu, em um domingo tranquilo.
Sendo de uma família muito envolvida com a arte, como é o apoio deles em relação a sua carreira musical? Tem alguma collab prevista pro futuro ou apresentação especial?
Se tiver uma apresentação especial, não foi combinado antes, a não ser que eu esteja abrindo o show para o meu pai, o que já aconteceu no inverno do ano passado, no show com o Daniel Jobim. Foi meu primeiro show no Brasil, em São Paulo. Mas não estamos planejando coisas juntos não. Minha mãe está sempre do meu lado, me ajuda com fotos, vídeos e ideias, mas cada um faz o seu. Às vezes, mostro as músicas pro meu pai e ele só dá conselhos quando peço, mas também não peço muito [risos]. Gosto de ter meu espaço. Ele dá muito suporte e respeita também o meu processo criativo.
Qual foi o melhor conselho que seu pai te deu em relação à carreira?
Divirta-se – e isso vai pra qualquer coisa. Quando estiver fazendo uma música e não souber pra onde ir, divirta-se. Se estiver nervosa pra um show, olhe em volta para sua banda e divirta-se. Se estiver achando que um verso ou refrão não está funcionando, divirta-se. Mude. Música e arte não é algo limitado. Não tem regras e não tem um passo a passo. Claro que tem técnicas, mas temos que lembrar sempre de não nos sentirmos presos ao fazer arte. Pra mim isso é muito importante.
Por fim, tem alguma mensagem que gostaria deixar para a Flor do futuro?
‘Flor, e o Coachella, conseguiu?’ [risos]. Estou fazendo tudo e mais um pouco pra poder chegar um lugar que vou poder olhar pra carreira e sentir que fiz tudo o que queria. Espero que no futuro tenha mais projetos cheios de vontade, de vida e de luz, e cada vez mais no palco. Amo cantar ao vivo, assistir música ao vivo, sentir a energia do público e para o palco, e vice-versa, é espiritual. Espero que eu continue fazendo minhas músicas sendo honesta comigo mesma, sempre muito criativa e me divertindo.