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Marc Collin fala sobre 20 anos de Nouvelle Vague, pós-punk e shows no Brasil: “repertório quase inesgotável”

Criado em 2003 pelos produtores franceses Marc Collin e Olivier Libaux, o coletivo reinventou clássicos do pós-punk e new-age

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 30 out 2024, 16h08 - Publicado em 29 out 2024, 09h00
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 (Nouvelle Vague/divulgação)
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Há 20 anos, os produtores e multi-instrumentistas franceses Marc Collin e Olivier Libaux decidiram testar uma ideia ousada: criar uma banda que homenageasse o pós-punk das décadas de 1970 e 1980, e o new-age, mas com arranjos de bossa nova. Assim nasceu o Nouvelle Vague, cujo nome também faz referência ao movimento do cinema francês dos anos 1950 e 1960, que buscava justamente explorar uma estética nova. A proposta do grupo era trazer originalidade à música por meio de uma fusão multicultural. No repertório, clássicos de bandas como The Clash, Joy Division e The Smiths ganhavam novas roupagens, com arranjos melódicos e suaves, em versões frequentemente interpretadas por vocalistas femininas, como Alonya, Bijou, Camille Killdeer, Élodie Frégé, Marine Quéméré, Mélanie Pain e Phoebe Tolmer.

A partir dessa abordagem, a banda lançou sucessos como “In a Manner of Speaking”, “Dance with Me”, “Love Will Tear Us Apart” e “Making Plans for Nigel”. “Sempre gostei de músicas mais tristes. Sou fã, por exemplo, de Erik Satie, que talvez seja meu compositor favorito. Também adoro todas as bandas de pós-punk, como o período da trilogia do The Cure e os primeiros álbuns do Joy Division. Então, é natural que essa melancolia apareça na minha música”, explica Marc Collin, que chega ao Brasil nesta semana para realizar três apresentações com o Nouvelle Vague.

O Nouvelle Vague não foi o primeiro nem o último projeto de Marc Collin, que iniciou sua carreira musical no final dos anos 1980. Em 2008, ele aplicou uma fórmula semelhante ao criar “Hollywood, Mon Amour”, um álbum dedicado a regravações de canções de trilhas sonoras dos anos 1980, uma década que continua a fascinar o artista.

Desde o início, o Nouvelle Vague se fundamentava na ideia de que boas composições funcionam em uma variedade de arranjos. Ao longo dessas duas décadas, o coletivo lançou sete álbuns, sendo o mais recente, “Should I Stay or Should I Go?”, lançado este ano, após um hiato de oito anos.

Em 2017, Marc Collin se aventurou em mais um novo projeto, desta vez no cinema, ao fundar a produtora The Perfect Kiss. Em 2021, a trajetória da banda quase chegou ao fim com a morte de Olivier Libaux, aos 57 anos. “Eu tinha decidido que o projeto deveria terminar ali”, revela Collin. No entanto, com a proximidade do aniversário de 20 anos da banda, houve um motivo para continuar.

Neste ano, além do novo álbum, o Nouvelle Vague embarcou em uma turnê mundial. No Brasil, o grupo se apresentará em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro. O novo disco traz novas interpretações de faixas como “This Charming Man”, do The Smiths; “Rapture”, do Blondie; “People Are People”, do Depeche Mode; e “What I Like Most About You Is Your Girlfriend”, do The Specials.

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Marc Collin (Linda Bujoli/divulgação)

Confira a seguir a entrevista completa com Marc Collin, criador do Nouvelle Vague.

Depois de duas décadas com o Nouvelle Vague, o que significa para você estar de volta em turnê com um novo álbum, especialmente após uma pausa tão longa (o penúltimo álbum lançado foi em 2016)?

Então, é uma grande alegria voltar a tocar no Brasil depois de dez anos, de fato. Fizemos shows, eu me lembro, em Brasília, Fortaleza, Rio, São Paulo, Recife também. Então, estamos muito felizes de voltar. É um novo álbum, estamos comemorando nossos 20 anos, então acho que vai ser uma festa, espero, para todos! 

A ideia por trás do Nouvelle Vague era originalmente fazer um tributo ao pós-punk com um toque de bossa nova. O que você acha que fez esse conceito ressoar tão profundamente com o público nos últimos 20 anos?

Essa é uma boa pergunta. Eu não sei exatamente por que as pessoas gostaram tanto desse projeto. Acho que criamos algo surpreendente, novo e original, porque pegar músicas que foram escritas por cantores revoltados nos anos 80 e tê-las cantadas por jovens garotas em um ritmo de bossa nova, vinte anos depois, acho que isso criou algo original e as pessoas amaram esse som, essas letras, essa nova forma de arte.

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(Nouvelle Vague/divulgação)
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Suas reinterpretações têm uma qualidade delicada e melancólica, especialmente com a influência da bossa nova. O que te atrai para esse tom emocional em sua música?

Eu realmente não sei, mas é verdade que sempre há uma melancolia, sempre um modo menor, de fato, nas músicas, nos arranjos que faço. Sempre gostei de músicas um pouco mais tristes. Sou fã, por exemplo, de Erik Satie, que talvez seja meu compositor favorito. Também adoro, obviamente, todas as bandas de pós-punk, como o período da trilogia do The Cure, como os primeiros álbuns do Joy Division. Então é normal, na verdade, que encontremos esse tipo de melancolia na minha música. E eu gosto de trazer essa emoção para as pessoas.

A morte de Olivier Libaux afetou profundamente o grupo. O que te motivou a voltar ao estúdio e continuar o projeto?

Sim, a morte de Olivier foi um pouco surpresa para todos. Não esperávamos, embora seja verdade que ele já tivesse tido alguns problemas de saúde antes. Então, eu tinha decidido que o projeto deveria acabar ali. Mas ainda havia esse aniversário para comemorar, os 20 anos do projeto. Essa acabou se tornando uma forma de prestar homenagem a ele, celebrar os 20 anos do primeiro álbum. Então, decidimos fazer uma turnê. Daí alguém nos disse: “por que vocês não fazem um novo álbum?”. Então, na verdade, eu pensei sobre isso e tive algumas ideias. Achei que poderíamos voltar à ativa. E assim fizemos um novo álbum. E continuamos.

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(Nouvelle Vague/divulgação)

A era do pós-punk foi cheia de energia rebelde. Como você equilibra manter a essência dessas músicas enquanto lhes dá um tratamento mais suave e acústico?

Então, na verdade, acho que não mantenho necessariamente o lado rebelde e direto que estava presente em algumas músicas, nem a energia. Mas, por outro lado, acho que trago algo diferente. E não apenas suavidade. Não acho que seja isso que o Nouvelle Vague representa. Acho que trazemos um universo diferente. Por exemplo, se pegarmos “Killing Moon”, a transformamos em uma espécie de canção de ninar infantil misturada com um filme de terror. 

Se pegarmos “Should I Go” do último álbum, a transformei em um mambo ska louco dos anos 60 com uma cantora de voz áspera. Então, não é bem isso… Não é uma receita onde pegamos músicas rebeldes, tiramos sua mensagem e as transformamos em algo suave e sem substância. Acredito que essa não é a história do Nouvelle Vague, porque, em geral, as pessoas nos dizem que entendem melhor e, pela primeira vez, compreendem melhor as letras e palavras das músicas. Então, na verdade, pode até fazer mais sentido hoje.

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Depois de tantos anos, você ainda se sente inspirado pelas mesmas influências musicais ou moldaram mais sua abordagem recentemente?

Obviamente, há outros gêneros musicais que eu poderia explorar, mas ainda amo os anos 80, o pós-punk. Acho que ainda há muitas músicas que eu poderia reinterpretar. Na verdade, o que é louco é que é um repertório quase inesgotável. Então, por enquanto, mantenho a ideia de focar nesses grupos realmente vindos do que chamamos de pós-punk.

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(Linda Bujoli/divulgação)

O Nouvelle Vague sempre teve uma forte conexão com a música brasileira, especialmente pela influência da bossa nova. Como a música brasileira moldou seu processo criativo e qual a importância que o Brasil tem para você, tanto musicalmente quanto pessoalmente?

Então, primeiro descobri o pós-punk com bandas como The Cure, New Order e Depeche Mode. E depois descobri a bossa nova. E imediatamente me conectei com as músicas, o ritmo, a harmonia. É uma música que realmente me tocou. E talvez por isso, naturalmente, fiz uma conexão em minha mente entre a bossa nova e o pós-punk. Depois, descobri mais artistas brasileiros. Fiquei fascinado por tudo dos anos 60, o movimento tropicalista com Caetano Veloso, Tom Zé. Eu gosto muito disso também. Então, a música brasileira definitivamente tem um impacto sobre mim, assim como a música jamaicana.

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(Nouvelle Vague/divulgação)
Nouvelle Vague

SÃO PAULO
30 de outubro de 2024 (quarta-feira)
Audio – Avenida Francisco Matarazzo, 694 – Água Branca
Horário: 22h
18 anos
Ingressos: a partir de R$ 150

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PORTO ALEGRE
31 de outubro de 2024 (quinta-feira)
Auditório Araújo Vianna – Parque Farroupilha, 685 – Farroupilha
Horário: 21h
18 anos
Ingressos: a partir de R$ 55

RIO DE JANEIRO
Show de Abertura: Silvia Machete
E mais: Manie Dansante com os DJs Tesfon e Yuri Yurievitch
2 de novembro de 2024 (sábado)
Circo Voador – Endereço: Rua dos Arcos s/nº – Lapa, Rio de Janeiro
Abertura da casa: 20h
18 anos
Ingressos: a partir de R$ 190

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