Orquestra Ouro Preto celebra 25 anos com ópera de “Feliz Ano Velho”
Com valsa de cadeira de rodas e Arrigo Barnabé, obra de Marcelo Rubens Paiva ganha os palcos neste ano

Há 25 anos, um grupo de irmãos e seus amigos tomavam uma decisão: não sairiam de sua cidade para estudar música de concerto. Com poucas opções de orquestras e centros de estudo, os filhos da família Toffolo decidiram encarar o desafio de criar a Orquestra Ouro Preto. Entre altos e baixos, hoje se consolidam como um dos mais importantes e inovadores grupos de música de concerto do país.

Nos anos 2000, as opções para quem fazia música clássica, erudita ou, como o maestro Rodrigo Toffolo, regente e um dos fundadores da Orquestra Ouro Preto, prefere chamar, música de concerto, não eram muitas.
“Nós tínhamos a sinfônica de Minas Gerais e a Orquestra do Sesi. Para você ser músico, tocar violino, viola, violoncelo, a melhor opção que tinha era ir embora de Minas Gerais. A Orquestra Ouro Preto é um movimento contrário a isso. A gente percebeu que criar uma própria orquestra era um caminho. E eu acho isso uma inspiração muito importante, pensar que nossos próprios centros podem ser transformados. Essa sementinha que a gente plantou há tanto tempo, fez florescer 25 anos depois”, conta em entrevista à Bravo!.

Uma Orquestra de frente para o futuro
A Ouro Preto já gravou Beatles, Nirvana e até as Valencianas, concerto com obras de Alceu Valença — a próxima apresentação, inclusive acontecerá neste fim de semana em São Paulo. Já orquestrou O Pequeno Príncipe em português e inglês e fez óperas do Auto da Compadecida e de Hilda Furacão. Depois de meio século e mais de 20 álbuns gravados, agora a orquestra se prepara para colocar em cena um novo desafio: a obra Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva.
O escritor que viu seu livro “Ainda Estou Aqui” levar o tão sonhado Oscar na adaptação cinematográfica de Walter Sales, agora deve assistir sua própria história em formato de concerto.
O livro-desabafo sobre o acidente que o deixou tetraplégico, ainda aos 20 anos, ganha um olhar contemporâneo, certamente emocionante.

O maestro Rodrigo Toffolo adianta que Marcelinho, ainda jovem, entra em cena, em diálogo com Marcelo adulto. Além disso, o momento em que ele sai no pátio e encontra outros cadeirantes será retratado com uma valsa de cadeiras de rodas. “Vai demonstrar esse momento tão bonito de libertação”.
Arrigo Barnabé tinha uma banda e se apresentava num festival e ele vai estar no palco, logo no primeiro ato. E a orquestração vai ter uma guitarra, mais uma prova — não que faltassem — de que a Orquestra Ouro Preto olha para o futuro.
Quando os instrumentos musicais eram criados, quase que automaticamente eram incorporados às orquestras pelo mundo. Foi assim com a clarineta, foi assim com as trompas e com tantos outros que surgiram com o tempo. Wagner inventava instrumentos de sopro e incluía nas orquestras. Mas em um dado momento, como conta o maestro, esse movimento cessou.
“Por que eu não sei. Só sei que as orquestras pararam, começaram a virar para trás e não olham mais para frente. Então quando você faz a orquestra de uma ópera e coloca bateria e guitarra no meio, você muda o timbre daquele grupo. E aí que vem a grande pergunta: por que não?”, conta o maestro sobre esse olhar para o futuro que a Ouro Preto tem sobre a música de concerto.
“Isso não é uma coisa que eu estou inventando. A famosa sinfonia de Mozart tem duas versões: com clarineta e sem clarineta. Alguns manuscritos de Bach, por exemplo, são feitos para instrumentos que têm aquela tessitura. Nem fala se tem que ser violino, flauta, oboé. Pouco importa, é para quem quiser tocar. Isso se perdeu um pouco”, avalia.
Comemorações dos 25 anos
A temporada 2025 começou com uma turnê europeia ao lado de Alceu Valença, que teve ingressos esgotados. Em 21 de março, a Orquestra lançou seu 23º álbum, Orquestra Ouro Preto: Villa-Lobos, Piazzolla e Mehmari, reunindo interpretações de grandes compositores brasileiros e internacionais.
A icônica Bachiana Brasileira nº 9, de Villa-Lobos, ganha a interpretação da Orquestra, mantendo a sofisticação e a identidade da obra original. De Piazzolla, o álbum traz Suíte del Ángel, com arranjos inéditos de José Carli, parceiro do compositor e testemunha de um dos períodos mais importantes da música latino-americana.
A orquestra faz ainda a abertura da temporada da Série Domingos Clássicos, que completa 10 anos de parceria com o Sesc Palladium, em Belo Horizonte, mantendo a residência. O projeto conquistou o público belo-horizontino e fez com que a cidade se tornasse a mais assídua a concertos no país. A primeira apresentação da série aconteceu no dia 23 de março, homenagendo o compositor e bandoneonista argentino Rufo Herrera, cofundador da Orquestra Ouro Preto e hoje com 92 anos.

Em Abril, o cantor e compositor Alceu Valença e a Orquestra Ouro Preto retomam o elogiado espetáculo “Valencianas”, desta vez em terras paulistas. O concerto acontece neste sábado (12/04), no palco da VIBRA São Paulo, com um repertório inédito. O setlist terá sucessos que ficaram de fora do primeiro espetáculo (em 2012), tais quais “Como Dois Animais”, “Dia Branco”, “Solidão” “Tesoura do Desejo”, “Taxi Lunar” e “Pelas Ruas que Andei”. Os arranjos especiais são de Mateus Freire, que também propõe uma nova Suíte Orquestral para abertura do concerto.
E o Rio de Janeiro pode também se preparar para receber a Orquestra Ouro Preto por lá também. As areias de Copacabana recebem a versão inédita do best-seller “Feliz Ano Velho”, com música e libreto assinados por Tim Rescala. A montagem estreia em 14 de junho. Em seguida, a produção chega a Belo Horizonte para duas récitas no Palácio das Artes, em agosto. Um prato cheio para quem gosta de música clássica.