Avatar do usuário logado
OLÁ,

Rachel Reis, acústico da sereiona e sonhos musicais

Rachel Reis fala com exclusividade à Bravo! e conta como foi a trajetória da recepcionista de posto de saúde que se tornou uma diva pop da MPB

Por Rafael Ventuna
Atualizado em 13 mar 2025, 11h51 - Publicado em 13 mar 2025, 07h00
rachel-reis-cantora-show-sereia-musica
 (Rachel Reis/divulgação)
Continua após publicidade

Quem acompanha a ascensão da carreira da cantora baiana Rachel Reis não imagina que a menina tímida de Feira de Santana, após uma tragédia, resolveu que seria através de seu canto que romperia de vez sua concha para surgir como uma Iemanjá-Afrodite-Sereiona.

Hoje, aos 28 anos, é bem possível imaginar que foi embalada ao som de “Sereia”, composta por Luiz Mauricio Pragana dos Santos e Nelson Motta e que estourou nas rádios do Brasil em 1995 na voz de Lulu Santos. É Rachel quem conta que sua trajetória não é delírio tropical: é magia, miragem, milagre e mistério.

rachel-reis-cantora-show-sereia-musica
(Caiano Midam/divulgação)

Atualmente em turnê especial com o álbum Meu Esquema, indicado ao Grammy Latino, ela tem uma apresentação intimista marcada no Sesc Campinas com apenas violão, congas e clarinete. Além de hits que acumulam milhões de plays no Spotify como “Maresia” e “Desatei”, o repertório trará arranjos inéditos que celebram a despedida do projeto.

Em conversa com a Bravo!, ela relembra o início da trajetória na música e na composição, fala sobre como sua carreira deu um salto na pandemia e também revela o que mudou após o reconhecimento internacional. 

rachel-reis-cantora-show-sereia-musica
(Rachel Reis/divulgação)

Antes de tudo, conte quem era a menina Rachel.
Esquisitinha. Antissocial. Confusa e caótica. Uma criança e uma adolescente que não acreditava muito em si. Com mãe e irmã cantoras, eu não me enxergava neste espaço de me mostrar. Eu ficava à sombra de algumas pessoas e sem coragem de me impor. Meu amadurecimento se deu na busca por algo. Fui atendente de telemarketing, recepcionista de posto de saúde, digitadora, tive brechó, designer “péssima” e redatora. Fiz muitas coisas porque sempre gostei de ter o meu dinheiro e ajudar em casa. Aos 18 anos, comecei a cantar em barzinhos e as coisas desabrocharam, porque eu vivia no meu mundinho, no meu quarto, com relacionamentos complicados. Até eu realizar que poderia compor e fazer coisas grandiosas.

Continua após a publicidade

Nesta fase dos bares, você já tinha música autoral ou era apenas repertório de outros cantores?
Eu tinha um repertório de umas cinquenta músicas de MPB, reggae e samba. Apesar de outros pedidos, muitos pra cantar forró, eu insistia no meu repertório. Foi me dando uma canseira e comecei a pensar que eu não queria mais cantar música de ninguém. Todo mundo diz que o barzinho é uma escola, mas a gente precisa ter um limite de até onde romantizar essa escola, porque a gente canta até tarde, recebe muito pouco, sofre assédio e tem bêbado perturbando. É cansativo, mas eu precisava começar de algum lugar. Passei dois anos intensos cantando em aniversário, casamento, bares e tudo que aparecia. O cansaço me fez diminuir a frequência com a música e fui fazer faculdade. Fiz um semestre de Direito e achei horrível! Detestei! E mudei para Publicidade e Propaganda porque é mais a minha vibe e com possibilidades para o meu processo artístico.

rachel-reis-cantora-show-sereia-musica
(Rachel Reis/divulgação)

Abandonou a faculdade de Publicidade e Propaganda também?
Não. Inclusive, estou terminando.

Você se tornou conhecida no pós-pandemia. O que aconteceu antes do sucesso?
De 2019 para 2020, eu estava trabalhando no posto de saúde e era um ambiente muito tóxico e explorador. Eu tinha um colega chamado Denilson. A gente se dava muito bem. Falávamos muito sobre seus sonhos. Ele queria ser jornalista. Era muito trabalhador. E ele foi assassinado. Isso mexeu muito comigo. Fiquei desestabilizada e pensando “por que eu estou aqui adiando os meus sonhos?”. Nesse período eu tinha algumas composições, como Ventilador e Sossego.

Comecei a conversar com o produtor pernambucano Barro, que depois de ver uns vídeos meus, me contou que tinha montado um estúdio. Depois do trauma da perda do meu colega, saí do trabalho, juntei um dinheiro e resolvi que iria para Pernambuco gravar essas duas faixas. Quando gravei, eu senti que tinha me encontrado no universo das composições. E passei a me interessar por tudo. No começo, eu até fiz minha assessoria de imprensa, fazia um textão, criei uma empresa fake e mandava meu trabalho até pra gringa. As páginas compartilhavam e fui adorando esse processo todo. Gosto de estar envolvida em tudo.

Continua após a publicidade
rachel-reis-cantora-show-sereia-musica
(Rachel Reis/divulgação)

Após Ventilador e Sossego, chega o reconhecimento. E aí?
Eu me perguntei “qual vai ser meu próximo passo?”. Eu queria lançar um álbum. Só que um álbum custa muito dinheiro. Fui buscar parcerias. Conheci Zamba, que me apresentou Cuper e que também me mostrou um refrão de Saudade, pra saber se eu tinha interesse.

Quando vi aquele “deixa tudo passar minha preta…”, falei “vem cá que eu vou finalizar essa música”, que acabou se transformando num EP, o Encosta, que deu um burburinho interessante. Maresia foi gravada, mas eu não queria que fosse lançada ainda.

Como não?!
[Risos] Não queria que Maresia fosse lançada porque eu sentia que ela tinha um grande potencial de chegar em muitos lugares. Eu fiquei com receio. Acho uma música bem pop. Achei que era uma música bem fácil das pessoas se interessarem pela história de amor.

Pedi para lançar como faixa bônus em comemoração aos números do Encosta e ela virou essa coisa que é hoje e está sempre me surpreendendo. As pessoas realmente têm um carinho muito grande por essa música. Comecei a pensar nos próximos passos. E passei a querer meu álbum sozinha.

Continua após a publicidade
rachel-reis-cantora-show-sereia-musica
(Mitchel Leonardo/divulgação)

O seu próprio “esquema”.
Sim, eu queria fazer Meu Esquema com umas composições guardadas: Consolação, Serenidade e alguns rabiscos. Convidei Barro e Guilherme Assis para produzirem e também convidei Zamba e Cuper para três faixas.

Meu Esquema são fragmentos de anotações feitas ao longo da minha vida e que eu queria falar sobre. Não teve uma unidade. Não contei uma história nesse álbum. Ventilador e Sossego foram um sonho. Encosta foi uma crescente desse sonho. Meu Esquema veio como uma realização de fato, onde as pessoas puderam conhecer um pouco mais da minha mistura.

A repercussão de Encosta ajudou financeiramente para a produção de Meu Esquema?
Entrou um dinheirinho que me possibilitou fazer alguns acordos para levantar Meu Esquema pedrinha por pedrinha. E foi o álbum que me apresentou ao Grammy Latino, que meu deu um APCA e outros prêmios de visuais para clipe. Fiquei muito orgulhosa. Apesar das expectativas, das perguntas e dos comentários sobre a sonoridade estar diferente, eu sou muito corajosa e digo “galera, eu quero fazer dessa forma”. É um álbum divisor de águas.

rachel-reis-cantora-show-sereia-musica
(Mitchel Leonardo/divulgação)

A movimentação dos prêmios renderam mais convites?
Os convites aumentaram. Meu Esquema me levou para muitos festivais grandes que eu não estava preparada! [risos]. Eu tinha uma experiência de barzinho. Era uma novidade subir em palcos grandes.

Continua após a publicidade

Não tenho direção de show. Quem faz tudo é minha equipe interna. Fomos nos aperfeiçoando no caminho. Fui aprendendo a estar no palco e como eu gosto de fazer um show. Troquei o pneu com o carro andando. Não tinha preparação nem pessoas investindo. Minha noção ainda era chegar e cantar. Não tinha noção sobre um show. Era eu pura e genuinamente com um microfone cantando pras pessoas as músicas que elas queriam ouvir de mim.

As experiências de cantoras como Beyoncé e Anitta, que passaram a administrar suas próprias carreiras,  foram exemplos para você?
Eu sempre tive esse cuidado. Minha mãe, Maura Reis, que era uma seresteira e hoje é evangélica, esteve muito preocupada, porque aconteceram muitas coisas com ela, uma mulher negra cantando nos anos 1980 e 1990. Imagine tudo o que ela não passou! Na época dela, não tinha internet e não tinha como ela aprender sozinha. Isso me deixou muito em alerta no aprendizado.

Eu gosto de estudar, de entender as coisas como o que difere um fonograma do autoral, de ter controle sobre o meu trabalho. Tenho parceiros incríveis: Andrea Franco, minha empresária; Fernando Castro, meu produtor; e minha equipe que mantenho desde o início. São pessoas que amo, além de sermos amigos. Mas é sempre a minha palavra em última instância. Ter o controle eu acho extremamente importante. Porque a gente sabe que o mercado é difícil e complicado. Cada dia que passa, eu tenho mais consciência de ser a dona do meu trabalho. Ter essa visão me ajudou muito.

rachel-reis-cantora-show-sereia-musica
(Mitchel Leonardo/divulgação)

Queremos spoilers! Quais são as novidades para 2025?
Em abril, vai chegar um álbum com participações que não vou dizer os nomes. Sou suspeita pra falar, mas pro artista o próximo álbum é o que a gente está com mais maturidade. Trago mais sobre mim e sobre minhas vivências.

Continua após a publicidade

Já saiu aí Rafa Dias, que produziu Ensolarada, e Barro e Gui, que produziram Deixa Molhar. É um álbum diverso de produtores porque eu quis trazer vários que admiro, para que eu seja a unidade da mescla desse universo de sonoridades. Quem gosta de mim por causa da mistura, pode continuar esperando a misturinha, que é uma coisa que não sai de mim! [risos].

Acústico da Sereiona - Rachel Reis

13 de março (quinta) às 20h
Sesc Campinas (Galpão) | Rua Dom José I, 270/333, Bonfim, Campinas
90 minutos
16 anos

Ingressos: R$ 15 a R$ 50

Publicidade