A faísca eletrizante entre Fernanda Montenegro e Simone de Beauvoir
Em leitura encenada de “Cerimônia do Adeus”, que vem lotando teatros a cada temporada, atriz dá vida ao pensamento libertário de Beauvoir nos palcos
Fernanda Montenegro já havia reduzido a obra de Simone de Beauvoir ao mínimo no solo dirigido por Felipe Hirsch “Viver sem Tempos Mortos”. 15 anos depois, o minimalismo dá lugar ao essencialismo. “Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir” é um espetáculo-leitura eletrizante em que a atriz, também dramaturga e diretora da obra, chega ao âmago do teatro.
“Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir” é um espetáculo-leitura eletrizante em que a atriz, também dramaturga e diretora da obra, chega ao âmago do teatro
Sentada diante de uma mesa e uma pilha de papeis que serão lidos em cena, ela nega o espetacular e entrega ao público o supra-sumo da teatralidade. Empresta experiência e visões artística e humana à obra que lê, ao mesmo tempo em que vive Simone de Beauvoir. Não a personifica, tampouco faz uso de artifícios cênicos. Não há cenário. A roupa é causal. A luz não se altera. Uma trilha surge discretamente aqui e ali, apenas para pontuar uma emoção ou compor o fechamento de algumas passagens extraídas do livro “Cerimônia do Adeus”, lançado pela francesa em 1981. Basta para o espetáculo incendiar.
Empresta experiência e visões artística e humana à obra que lê, ao mesmo tempo em que vive Simone de Beauvoir. Não a personifica, tampouco faz uso de artifícios cênicos. Não há cenário. A roupa é causal. A luz não se altera
A faísca surge do atrito entre essas duas potências de nome Fernanda Montenegro e Simone de Beauvoir. A atriz dá vida ao pensamento libertário de Beauvoir que a inspira desde os 20 anos de idade. Volta-se à força do relato da escritora, pensadora e ensaísta que, além de revolucionar a visão do feminino, viveu suas teorias. Através de sua trajetória e da construção do relacionamento amoroso com Jean-Paul Sartre, Beauvoir deu origem a si mesma: uma mulher que pensa e pratica a própria invenção.
Fernanda repassa adiante a audácia praticada pela francesa, acompanhada por ela na estrada da vida e do palco
Fernanda repassa adiante a audácia praticada pela francesa, acompanhada por ela na estrada da vida e do palco, desta vez contando apenas com sua presença cênica e o domínio da palavra adquiridos em uma vida de dedicação à arte. Dentre todos os textos que cruzaram seu caminho, a atriz, que se fez e faz sinônimo de cultura no país através de uma notável carreira em teatro, cinema e televisão, escolhe revisitar o de Beauvoir para comemorar 80 anos de carreira. O movimento tem o peso de um legado.
Dentre todos os textos que cruzaram seu caminho, a atriz, que se fez e faz sinônimo de cultura no país através de uma notável carreira em teatro, cinema e televisão, escolhe revisitar o de Beauvoir para comemorar 80 anos de carreira. O movimento tem o peso de um legado
Até no título o espetáculo “Fernanda Montenegro lê Simone de Beauvoir” é despretensioso. A simplicidade norteia a obra como um todo. Simplicidade significa o extremo oposto de facilidade. Neste caso, é a busca pela essência teatral e a síntese entre esses dois monumentos do feminino. É a verdade com que a atriz divide com a plateia o impacto que a liberdade evocada por Beauvoir causou a ela. É o magnetismo que atravessa a plateia ao fim da apresentação.
Sesc 14 Bis (R. Dr. Plínio Barreto, 285).
De quinta a sábado, às 20h, domingo, às 18h; até 21/07.
De R$ 18 a R$ 60 (ingressos esgotados, porém com fila de espera 1h antes da sessão)
Classificação indicativa: 12 anos