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Dzi Croquettes Sem Censura resgata os bastidores do coletivo que desafiou a ditadura

Idealizado por Ciro Barcelos, um dos integrantes do grupo original, a peça irá estrear no Teatro Itália, em São Paulo, em 12 de junho

Por Redação Bravo!
13 Maio 2025, 09h00
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Elenco de Dzi Croquettes Sem Censura (Ronaldo Gutierrez/divulgação)
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Os Dzi Croquettes, um dos coletivos performáticos mais ousados e provocativos surgidos durante a ditadura militar, terão sua trajetória recriada nos palcos em uma nova montagem teatral. O espetáculo Dzi Croquettes Sem Censura, idealizado por Ciro Barcelos — integrante da formação original do grupo — mergulha nos bastidores pouco conhecidos pelo grande público, revisita a experiência de vida em comunidade e resgata, com vigor, a irreverência cênica que marcou o Dzi.

Ciro iniciou sua carreira artística precocemente, em 1970, aos 17 anos, ao integrar a célebre montagem do musical Hair, dirigida por Ademar Guerra e Altair Lima. No ano seguinte, o jovem artista cruzaria o caminho de Wagner Ribeiro e Lennie Dale, fundadores do Dzi Croquettes. No entanto, a permanência do grupo no Brasil seria breve. Perseguidos pela repressão do regime, os integrantes foram forçados ao exílio na Europa. Lá, além de manter viva a chama do coletivo, Ciro aprofundou sua formação como bailarino, trabalhando com companhias de prestígio internacional como Théâtre du Silence, Comédie-Française, Pina Bausch, Mudra (dirigida por Maurice Béjart), além de colaborar com nomes como Yoshi Oida e Marcel Marceau.

Os Dzi Croquettes tiveram uma existência curta, mas deixaram uma marca profunda na cena cultural brasileira e internacional. Atuaram entre 1972 e 1976 em palcos do Rio de Janeiro, São Paulo e de cidades europeias. Em cena, os artistas se revezavam em números de dança, música e atuação. Maquiados, de barba e vestidos com figurinos femininos, criavam um visual híbrido e impactante, questionando abertamente convenções de gênero, comportamento e estética. A combinação inusitada entre elementos do masculino e do feminino era, ao mesmo tempo, gesto artístico e ato político.

“O Dzi sempre foi visto a partir das cortinas abertas, em sua forma cênica de grande espetáculo, sem que jamais fossem revelados os bastidores; suas relações humanas enquanto um grupo de treze homens que viveram, por anos seguidos, em comunidade, sob o mesmo teto, partilhando dores e alegrias. Embora tudo tenha acontecido em plena ditadura militar, essa realidade também nunca foi, de fato, abordada ou exposta. Em minha concepção, a proposta não é repetir o Dzi que todos já assistiram — e obviamente esperam ver — mas, sem abrir mão do grande espetáculo que é o Dzi a Croquettes, adentrar dramaturgicamente o dia a dia do grupo que se via como uma família.”, explica Ciro Barcelos, responsável pela dramaturgia e direção do espetáculo.

No centro da criação estética do grupo estava Lennie Dale, coreógrafo e bailarino norte-americano radicado no Brasil, responsável por forjar a linguagem cênica revolucionária do Dzi. A ideia original havia partido do ator e produtor Wagner Ribeiro, que convidou Lennie para colaborar na direção e coreografia. Dale imprimiu ao coletivo uma mistura vibrante de jazz, teatro musical e referências da contracultura, criando uma experiência de palco única. Expulsos pela censura, encontraram apoio e acolhimento em Paris — com o incentivo decisivo de Liza Minnelli, admiradora declarada do grupo. A jornada dos Dzi Croquettes foi posteriormente registrada no documentário homônimo, lançado em 2009, dirigido por Tatiana Issa e Raphael Alvarez.

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Formado por artistas de origens e linguagens diversas — teatro, dança, música — o grupo criou uma encenação que desafiava abertamente os limites impostos pelo regime e pelas normas sociais. Sua influência ecoou em coletivos posteriores, como o Grupo de Teatro Vivencial, de Recife, cuja trajetória inspirou o longa Tatuagem, de Hilton Lacerda.

Em 2012, Ciro já havia levado parte dessa história aos palcos com o espetáculo Dzi Croquettes em Bandália. Agora, em Dzi Croquettes Sem Censura, ele aprofunda o mergulho biográfico, trazendo em primeira pessoa a história dos treze integrantes da trupe — revelando não apenas os momentos em cena, mas também os conflitos, afeições e cumplicidades que marcaram a vivência coletiva do grupo.

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Para o autor da peça, o grupo ainda hoje representa um símbolo de resistência contra o esfacelamento da democracia. “Considero que estamos vivendo sob a ameaça de um retrocesso, correndo o grave risco de, mais uma vez, nos tornarmos reféns de uma censura que já não deveria ter lugar nos dias de hoje — especialmente num país onde a democracia foi conquistada com muito sofrimento e perdas. O Brasil dos anos 1970 surgiu da repressão instaurada pela ditadura da década anterior, e foi desmontado no confronto com a geração de 70 — uma geração rebelde, forte, decidida e inteligente. A juventude brasileira atual não teve um Geraldo Vandré, um Chico Buarque de Holanda ou um Bob Dylan nas trincheiras culturais para apontar caminhos. Suas referências são outras — e não os tiram do lugar de conforto. Seus ídolos estão mais preocupados com o celebrismo e o enriquecimento do que com eles.”

A peça estreia em curta temporada em São Paulo, no dia 12 de junho, com sessões de quinta a domingo, às 20h30. Em julho, o espetáculo segue em cartaz aos sábados e domingos, também às 20h30, no Teatro Itália (Av. Ipiranga, 344 – República).

As informações sobre o serviço do espetáculo serão atualizadas à medida que novos detalhes forem divulgados.

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