Peça usa literatura e delírio para narrar legado de Ray Charles
Em "Ray – Você Não Me Conhece", Rodrigo Portella imagina encontro entre o pianista e seu filho; Musical fica em cartaz até 14 de dezembro no Teatro B32
No espetáculo “Ray – Você Não Me Conhece”, que estreia neste fim de semana em São Paulo, o diretor Rodrigo Portella apresenta uma conversa imaginária entre o fantasma do compositor de jazz Ray Charles e seu filho, Ray Charles Junior. Baseado no livro “You Don’t Know Me: Reflections of My Father, Ray Charles”, escrito pelo próprio Ray Charles Jr. junto com Mary Jane Ross, a peça explora a complexa relação entre pai e filho, além de abordar a brilhante carreira do lendário artista norte-americano. Tudo isso é costurado pelos clássicos do músico, com destaque para as diferenças nos trajetos de vida dos dois homens.
“O livro é uma tentativa de resgatar a memória do pai a partir de uma lembrança profundamente pessoal. Encontrei um filho apaixonado, mas que vivia uma relação de grande distanciamento, apesar de carregar o mesmo nome. Ele conviveu com o pai e tentou seguir o caminho da música, mas há uma diferença imensa entre eles: o pai veio de uma origem humilde e pobre e precisou lutar para alcançar o sucesso, enquanto o filho não precisou enfrentar as mesmas dificuldades”, comenta o diretor.
Na trama, que se passa em uma fantasia ou sonho de Ray Charles Junior, o filho se imagina ainda criança, reencontrando o pai um dia após o enterro do músico. Sozinho na casa da família, em Los Angeles, ele desperta de madrugada e começa a alucinar. “Na verdade, a peça trata de um grande delírio”, explica Portella.
O espetáculo não deixa de lado o que mais atrai os fãs de Ray Charles: suas canções. A obra traça a trajetória do músico através de suas memórias e carreira, integrando música e narrativa de forma quase imperceptível. “Desde o início, a ideia foi fundir música e narrativa, para que o público sentisse o mínimo possível a divisão entre uma e outra. As 20 canções interpretadas foram mantidas no idioma original, o inglês, e a presença quase integral de um coro feminino, inspirado nas Raelettes, potencializa essa conexão entre música e texto”, afirma o diretor.
Além de sua contribuição para a música, Ray Charles foi uma figura importante na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Entre os episódios conhecidos, ele apoiou financeiramente Martin Luther King, Jr. e recusou-se a tocar em eventos com segregação racial.
“Ray Charles é uma figura de enorme relevância para a música, e sua genialidade é mundialmente reconhecida. Seu impacto transcende gêneros e gerações, e é uma honra fazer parte de um projeto que levará sua história e musicalidade ao público brasileiro”, conclui Portella.
Teatro B32 – Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3.732, no Itaim Bibi, SP
De 1º de novembro até 14 de dezembro. Sextas e sábados, às 16h e às 20h; e domingos, às 17h
Ingressos: De R$42 a R$ 250