Obras de Clarice Lispector ganham adaptação teatral em São Paulo
A montagem adapta cinco contos da autora, revelando as múltiplas faces da experiência feminina

A autora Clarice Lispector continua sendo uma das vozes mais potentes e revisitadas da literatura brasileira. E, nos palcos, sua presença tem sido constante. Agora, suas palavras ganham nova vida em Projeto Clarice, espetáculo dirigido por César Ribeiro, que estreia em 16 de outubro no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo, onde segue em cartaz até 9 de novembro. A montagem parte de um desafio instigante: adaptar cinco contos emblemáticos da autora em uma mesma encenação, revelando as múltiplas faces da experiência feminina.
O elenco é formado por Clara Carvalho, Magali Biff, Mariana Muniz e Vera Zimmermann, quatro intérpretes com ampla bagagem no teatro brasileiro, que se revezam entre personagens, narradoras e presenças simbólicas. Cada uma delas protagoniza um dos contos: Via Crucis, parábola sobre o nascimento de Cristo; Menino a Bico de Pena, centrado na relação entre mãe e filho e na alteridade; A Legião Estrangeira, que discute a formação da identidade; Amor, retrato da mulher no ambiente doméstico; e O Ovo e a Galinha, uma reflexão filosófica e metafísica que dialoga com todos os anteriores.
Alternando monólogos e cenas dialogadas, o espetáculo cria uma tessitura que mistura realismo, lirismo e abstração. As atrizes transitam entre estados de introspecção e conflito, revelando a profundidade com que Clarice explora a alma feminina — ora vulnerável, ora insurgente. Segundo o diretor, o trabalho busca tratar “a construção do feminino em uma sociedade patriarcal de maneira lúdica e poética”, aproximando o público de uma linguagem que une corpo, palavra e emoção.
Em sua trajetória, César Ribeiro se destacou por obras de forte carga política e estética distópica, como Trilogia Kafka. Em Projeto Clarice, ele propõe uma virada: o olhar agora se volta à estética da utopia, uma busca por transformação e esperança, mesmo diante da dureza da realidade. Essa ideia se traduz na cena por meio da mistura de realismo e simbolismo, em que os corpos ora seguem convenções sociais, ora se libertam delas.
O cenário também reflete esse movimento. Criado como um território simbólico, ele se transforma a cada conto, acumulando elementos visuais e sensoriais. O boneco que representa Cristo na primeira história, por exemplo, reaparece como uma multiplicação de bonecas na segunda, ampliando o sentido das imagens e conectando os episódios entre si.
A trilha sonora acompanha o mesmo princípio de contraste e expansão. Composta por canções de diferentes origens e estilos, ela mistura punk, música eletrônica e budots filipino. O resultado é uma paisagem sonora que traduz o ritmo acelerado da vida contemporânea, mas em diálogo com a poética densa e inquieta de Clarice Lispector.
Serviço:
De 16 de outubro a 9 de novembro de 2025
Quinta a sábado, às 20h30; domingos, às 19h
Teatro Cacilda Becker – Rua Tito, 295, Lapa, São Paulo
Ingressos: R$ 20, à venda pela Sympla ou na bilheteria (aberta uma hora antes do espetáculo)
Duração: 120 minutos
Classificação: 12 anos