Espetáculo de dança reflete sobre a idealização e os problemas do amor
Amores Q_______, criado pela Núclea de PesquiZa Tranzborde, apresenta um elenco composto por performers travestis, pessoas transmasculinas e não binárias

A fluidez e a multiplicidade do amor são os pontos de partida para o espetáculo de dança Amores Q_______, criado pela Núclea de PesquiZa Tranzborde, que estreia em 29 de janeiro de 2025, às 20h, na Bela Vista, em São Paulo.
Sob a direção de Oru Florydo, o espetáculo integra o projeto “TRANZ-FORMAR QUEM SE MOVE – por uma dança não transfóbica”, contemplado pela 35ª edição do Fomento à Dança na Cidade de São Paulo. “É a primeira vez que esse edital premia uma iniciativa que tem uma equipe 90% trans”, destaca Florydo.
O processo criativo, que se estendeu por sete anos, teve como uma de suas motivações o questionamento sobre a padronização das vivências amorosas. “Eu, que não tenho experiências heterossexuais, queria entender por que sempre acabamos nos deparando com as mesmas questões quando o assunto é o amor. Será que não poderia existir outra forma de amar que não fosse atrelada a uma lógica de reproduções estruturais?”, reflete Florydo.

A lacuna no título Amores Q_______ convida o público a preencher o vazio com suas próprias experiências e percepções. Para o coletivo, embora o amor seja amplamente celebrado, carecemos de uma educação emocional que nos prepare para vivê-lo. “Na verdade, nós não temos uma educação emocional – relacional. Vamos apenas vivendo, sentindo e tentando nos encaixar nessas referências que vemos no cinema, na novela, na música”, pontua Florydo.
O espetáculo se divide em três movimentos distintos, ancorados por uma trilha sonora que mescla experimentalismo asiático e música eletrônica brasileira. No palco, o público ocupa uma estrutura cenográfica desenhada por Juliana Augusta, que utiliza uma caixa branca em vez do tradicional espaço cênico escuro.
No primeiro movimento, oito performers – todos trans, incluindo travestis, pessoas transmasculinas e não binárias – exploram suas individualidades. As coreografias, que simbolizam a luta por sobrevivência em uma sociedade neoliberal, dão lugar a uma crítica às imposições do amor romântico. Por meio de duplas, os intérpretes enfrentam questões como abandono, solidão e os desafios de relações não monogâmicas.
O segundo movimento avança para o campo dos sonhos, onde formas alternativas de relação são imaginadas. Essa etapa questiona a universalidade da noção de amor e propõe uma desconstrução das normas afetivas.
Já o terceiro movimento rompe definitivamente com as convenções, sugerindo um retorno às origens e à conexão com o bioma. “Há uma luta contra a hegemonia, contra o estado. Queremos romper com tudo, até mesmo questionar o especismo. Nesse momento, estamos partindo para um saber originário, para um outro modo de vida mesmo. Uma luta contra o tempo neoliberal.”, conclui Florydo.

De 29 de janeiro a 2 de fevereiro de 2025. Quarta a sábado, às 20h e domingo, às 18h
Classificação: 14 anos
Duração: 70min
Local: Rua Treze de Maio, 240
Gratuito