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OLÁ,

Contando histórias diferentes

Como narradora da fábula “Pedro e o Lobo”, jornalista Sandra Annenberg atraiu uma multidão ao Theatro Municipal de São Paulo

Por Rafael Ventuna
Atualizado em 31 jul 2023, 11h15 - Publicado em 31 jul 2023, 10h37
Sandra Annemberg em foto promocional para a peça "Pedro e o Lobo".
 (Fernanda Sá/divulgação)
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Sandra Annenberg encerrou o ensaio e não se desgrudou de um livro que simboliza a obra Pedro e o Lobo composta pelo russo Sergei Prokofiev em 1936. Caminhou até as cadeiras da plateia do Theatro Municipal de São Paulo, onde falou com exclusividade à Bravo! sobre seu retorno retumbante às artes cênicas.

Nacionalmente conhecida pela sua atuação no jornalismo, levou mais de três décadas para que sua versão atriz reencontrasse os holofotes como a narradora da história do menino Pedro, que cria uma solução corajosa e inusitada para impedir mais um ataque do lobo que ronda sua morada.

A montagem, com direção de Muriel Matalon, segue a proposta original de Prokofiev de educação musical com personagens representadas por instrumentos musicais. A Orquestra Experimental de Repertório esteve sob a regência de Guilherme Rocha. Bonecos criados por Marco Lima ganharam vida na interpretação de treze manipuladores.

O espetáculo tem uma delicadeza admirável e honestidade com todas as idades. Orquestra, narração, iluminação, cenografia e os bonecos estão em perfeita harmonia, conduzindo o público suavemente para a temível situação do ataque do lobo. Surpreende com uso da maquinaria e içamento das personagens gerando, por assim dizer, efeitos especiais. E tem um final sensível que faz refletir sobre a prática da caça, proteção de animais silvestres e a naturalidade da cadeia alimentar. Enfim, justifica o esgotamento de ingressos que deixou o Municipal lotado em cinco sessões.

Sandra Annemberg em foto promocional para a peça
(Fernanda Sá/divulgação)
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Confira nosso papo:

Que semelhanças têm entre uma narradora e uma jornalista?
Têm uma intersecção. Embora eu tenha feito locução a vida inteira, narrando notícias, esta narração é completamente diferente. No jornalismo, é uma verdade rascante. Contamos histórias difíceis, muitas vezes horrendas. Diferente de uma notícia, no espetáculo tem mistério e suspense. Não é realista. Apesar disto, é lúdico e tem brincadeira. Acho que vai ser difícil para quem tem uma memória afetiva da minha voz descolar a pessoa que sou na televisão. Se eu conseguir causar estranhamento, eu vou ficar feliz. Porque não é para ser o que se está acostumado a esperar de mim.

Ser a narradora é um lugar de conforto para este retorno?
Não é um lugar de conforto. Estou pisando leve neste terreno. E tem sido uma descoberta. Por ser a narradora, sem dúvida é mais confortável do que ter um outro papel, uma personagem. Embora a narradora também seja uma personagem, consigo me calçar a partir da minha experiência de 32 anos de trabalho no Jornalismo, que não pretendo largar. Aliás, na mesma noite de estreia no Municipal, vai ao ar um Globo Repórter com a quinta reportagem feita por mim.

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“Embora eu tenha feito locução a vida inteira, narrando notícias, esta narração é completamente diferente. No jornalismo, é uma verdade rascante. Contamos histórias difíceis, muitas vezes horrendas. Diferente de uma notícia, no espetáculo tem mistério e suspense. Não é realista. Apesar disto, é lúdico e tem brincadeira”

Sandra Annemberg

Sua atuação poderá ser expandida para além de narradora?
Ainda não tem nenhum outro projeto. Não estou pensando e nada apareceu até agora.

O regimento interno da Globo para os jornalistas é bastante rígido. Como se deu a liberação para sua participação no espetáculo?
Pedi autorização para fazer este trabalho. E meu diretor disse que não havia problema porque eu “estarei” atriz. Conheço bem as regras e sou uma chata em relação a isso [risos]. Se alguém perguntar sobre minha carreira de atriz, não tenho a menor ideia. Acho que sempre fui e continuarei sendo. Em que e pra que, eu não sei. Brinco que minha filosofia de vida é como a do Zeca Pagodinho: eu deixo a vida me levar.

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Como você se sente com este retorno triunfal em um Municipal lotado?
É muito louco. A Muriel Matalon, a Mariana Mantovani e eu tentamos outros teatros. Quando o Municipal topou foi um “meu Deus do céu”! Tenho um vídeo que comprova que cheguei até à beira do palco e comecei a chorar. Nunca pensei na minha vida que eu estaria aqui. Pensar em voltar a atuar já tinha pensado. Mas não que seria neste palco icônico e grandioso. A ficha está caindo aos poucos.

Sandra Annemberg em foto promocional para a peça
(Fernanda Sá/divulgação)

Paulistana, Sandra começou a trabalhar na infância gravando comerciais. Aos 14 anos, tornou-se repórter e deu início a sua carreira no jornalismo televisivo, tendo passado pelos principais noticiários do país, incluindo o Jornal Hoje, onde em 2011 deu origem ao meme “Que deselegante!”, que a tornou “consagrada” nas redes sociais.

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Na história “Pedro e o Lobo”, o que tem de deselegante?
[Risos] Não tem nada deselegante. Porque é uma história belíssima. Não vou contar o fim, pois a diretora Muriel fez uma virada e é lindo como termina. Essa montagem é um casamento perfeito com a obra do Prokofiev, que é muito conhecida e muito bem construída com a Orquestra Experimental de Repertório. O maestro Guilherme Rocha também me rege. Sou mais um instrumento, como um fagote, um oboé. Eu faço mais parte da orquestra porque quase não vejo nem contraceno com os bonecos. É um imaginário o que estou contando para a plateia. De deselegante, o espetáculo não tem nada. É elegância pura!

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