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Encontrando Rita Lee

Com os ingressos esgotados, Mel Lisboa compartilha os anseios e emoções de dar vida à rainha do rock no musical "Rita Lee, Uma Autobiografia Musical"

Por Humberto Maruchel
Atualizado em 13 Maio 2024, 12h01 - Publicado em 11 Maio 2024, 09h00

É uma longa caminhada pelo interior do Teatro Porto até chegarmos aos bastidores, o território onde a magia acontece. Temos um encontro marcado com a atriz Mel Lisboa, que está na segunda semana de estreia do espetáculo “Rita Lee, uma autobiografia musical”. É uma quinta-feira, dia em que haverá uma apresentação especial para convidados; quase todos da classe artística. A atriz já está familiarizada com a rainha do rock há muitos anos, os gestos e expressões estão gravados como um carimbo em sua mente. Por outro lado, há um novo frio na barriga, uma ansiedade que pode colocar tudo a perder.

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“Rita Lee: uma autobiografia musical” em cartaz no teatro Porto com ingressos esgotados (João Caldas/divulgação)

Nesta semana, completou-se um ano desde a partida de Rita Lee para o universo, em algum disco voador em direção ao infinito. Desde jovem, ela confidenciava ao pai o fato de ter visto naves vindas de outros planetas. Um aspecto poeticamente introduzido no espetáculo. Mel, no entanto, já havia interpretado a cantora em outro musical, “Rita Lee Mora ao Lado”, baseado no livro homônimo de Henrique Bartsch, em 2014. Dez anos depois, a artista se viu diante do desafio de encarar a biografia novamente, mas desta vez dando vida às próprias palavras de Rita, a partir de sua autobiografia publicada em 2016. Era o desejo dela que sua história fosse contada nos palcos novamente. O pedido foi feito à Mel.

Assim que os ingressos foram colocados à venda, o público entrou em frenesi. Antes mesmo da estreia, não havia mais assentos disponíveis em uma temporada que se estende até julho. Foi necessário abrir novas datas, que também logo se esgotaram

Assim que os ingressos foram colocados à venda, o público entrou em frenesi. Antes mesmo da estreia, não havia mais assentos disponíveis em uma temporada que se estende até julho. Foi necessário abrir novas datas, que também logo se esgotaram. Diante da demanda, a equipe sabe que a solução é manter o espetáculo em cartaz por mais tempo.

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Os Mutantes em cena de Rita Lee: uma autobiografia musical (João Caldas/divulgação)

 

Durante quase duas horas de espetáculo, Mel e um elenco de 9 atores constroem a saga da jovem incomum que cantava informalmente quando pequena e, em pouco tempo, se transformou em um símbolo cultural que inspirou gerações. Diversos momentos emblemáticos de sua carreira foram adaptados e trazidos à cena, como sua primeira apresentação com o grupo “Os Mutantes” no programa de Ronnie Von, o trágico episódio em que um jovem foi morto por um policial durante um dos primeiros shows do grupo e, é claro, o momento em que Rita e Roberto de Carvalho se conhecem e se apaixonam. Até a emocionante partida de Rita.

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Mel Lisboa com a icônica peruca vermelha (João Caldas/divulgação)

Ainda faltam algumas horas para o início do musical. Mel está na sala de imprensa – um espaço de convivência do teatro, onde a equipe pode descansar – comendo rapidamente antes de dar início às entrevistas e ensaios fotográficos. Foram muitas requisições, o que deixou pouco tempo para ela se concentrar. Bravo! acompanhou o processo de caracterização da personagem, que começa a tomar forma com o delineador e batom vermelho em destaque na maquiagem. Mas o momento mais impactante é o que ela coloca a icônica peruca ruiva com franja. É então que a transformação em Rita Lee se completa e Mel Lisboa está pronta para subir ao palco.

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Que loucura, Mel! A temporada mal começou e os ingressos já estão esgotados. Como está sendo este momento para você?

As pessoas estão recebendo a peça com muito carinho. Elas parecem estar gostando bastante, sabe? Isso é muito legal. Acho que tem algo na essência da Rita que ressoa profundamente com todos, a ausência dela na vida das pessoas faz com que a emoção seja intensa quando as cortinas se abrem.

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Rita Lee: uma autobiografia musical (João Caldas/divulgação)

Você se lembra do momento em que conheceu e ouviu a Rita pela primeira vez?

Não me recordo exatamente do momento em que a Rita entrou na minha vida, porque parece que ela sempre fez parte dela. Tenho memórias a partir dos meus cinco anos. Antes disso, é um borrão. E nesses fragmentos de memória, ela sempre esteve presente. Sempre havia discos da Rita em casa. Minha mãe costumava ouvir, com outros artistas brasileiros. Eu a conhecia como cantora, como uma espécie de roqueira, entre outras coisas. À medida que fui conhecendo melhor sua história de vida, fui ficando cada vez mais fascinada. É verdadeiramente fascinante, toda a trajetória dela e tudo o que ela representou.

Olhando para esses dois momentos em que você se viu na missão de interpretar a Rita no palco, o que foi mais desafiador nesse processo?

No início, tudo era um desafio para mim. Desde cantar até a expressão corporal, o fato de interpretar esse ícone, o que é uma responsabilidade imensa. Nunca havia interpretado uma personagem real. Isso é diferente de quando a personagem é apenas uma ideia no papel, na qual qualquer atriz ou ator pode dar vida à voz e ao corpo. Há várias interpretações possíveis, dependendo do contexto, da direção, dos artistas envolvidos, da época, do país, e assim por diante. Personagens clássicos, por exemplo, são encenados de formas diferentes ao redor do mundo. Claro, Macbeth sempre será Macbeth, mas as produções variam. No entanto, quando se trata de interpretar uma pessoa real, que existe ou existiu, e que é tão presente na memória das pessoas, a abordagem é diferente. Eu não sabia ao certo como fazer. A única alternativa que encontrei foi estudar incansavelmente, obsessivamente.

O fato de haver uma quantidade enorme de materiais disponíveis ajudou, mas, ao mesmo tempo, aumentou o desafio, pois as pessoas podem sempre comparar. Interpretar uma personagem histórica com base em apenas algumas pinturas ou fotos oferece certa liberdade. Quando há muito material disponível, como a Rita, por um lado é útil, mas, por outro lado, é desafiador, pois as expectativas são elevadas e as comparações são inevitáveis.

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Mel estudou muito a postura e a linguagem corporal de Rita (João Caldas/divulgação)

A construção física, os movimentos e os trejeitos que você criou são impressionantes. Como foi essa investigação?

A parte vocal sempre foi um desafio para mim, pois não sou cantora. Tive que descobrir como minha voz poderia se aproximar da dela. Infelizmente, não tenho o talento do [Marcelo] Adnet para imitar vozes. A Rita é um ícone reconhecível por qualquer pessoa. Se um homem barbudo colocar uma peruca ruiva e óculos redondos, imediatamente lembramos da Rita. Então, como fazer com que meu trabalho seja uma interpretação genuína e não apenas uma imitação superficial? Gradualmente, compreendi esses detalhes sutis por meio de estudo e análise física.

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Ao assistir aos vídeos repetidamente, percebi que a postura corporal dela era um pouco diferente da minha. Isso me levou a entender como ela se movimentava, tanto na vida quanto no palco. Observando seus gestos, expressões faciais e maneirismos, consegui incorporar esses detalhes à minha interpretação.

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Mel Lisboa em cena do musical (João Caldas/divulgação)

No primeiro musical, você foi surpreendida com a presença da Rita na plateia. O que ela te disse naquela noite?

Ela foi muito generosa e amorosa, tanto comigo quanto com todo o elenco e equipe. Sentou-se, conversou comigo. Eu estava muito emocionada por ela estar lá, e não sabia até aquele momento. Fiquei bastante abalada, pois naquela noite não achei que tínhamos feito uma boa apresentação. Saber que ela estava presente me deixou ainda mais nervosa. No entanto, ela disse coisas muito gentis que me deram mais confiança. Naquela época, a possibilidade de ser vista por ela era sempre uma preocupação.

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Cenas do musical (João Caldas/divulgação)

Como você percebeu a mudança em sua interpretação da Rita nesses dois momentos?

Desta vez, tentei me aproximar da Rita de uma maneira menos pragmática. Já havia interpretado a Rita anteriormente, então desta vez busquei uma conexão mais espiritual, pois ela não está mais entre nós. A responsabilidade e o desafio continuavam grandes, talvez até maiores, pois agora ela não está mais presente fisicamente. Ela continuava ativa mesmo após sua aposentadoria dos palcos, então a pressão era imensa. Além disso, o fato de ela ter assistido à minha interpretação e aprovado aumentava a expectativa do público. É uma responsabilidade enorme, pois toca profundamente as pessoas. Recebo muitos feedbacks emocionantes da plateia, o que aumenta ainda mais essa responsabilidade.

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Mel Lisboa em “Rita Lee, uma autobiografia musical”, em cartaz no Teatro Porto, em São Paulo (João Caldas/divulgação)

Como sua vida, tanto pessoal quanto profissional, mudou após interpretar a Rita?

Mudou muita coisa. A Rita foi verdadeiramente um divisor de águas na minha vida e na minha carreira, e não apenas como artista, mas como ser humano. Nosso encontro não foi algo que busquei, aconteceu de forma inesperada. O Márcio Macena, que estava montando o espetáculo, me viu atuando em outro papel e pensou que eu seria perfeita para interpretar a Rita. No momento, achei uma ideia maluca, mas parece que estava destinado a acontecer. A Rita confiava a Rita dela em mim. Antes de sua partida, ela me pediu para narrar seu audiolivro e para continuar contando sua história nos palcos. Tentei fugir dessa responsabilidade, pois era algo assustador para mim, mas não teve jeito, e aqui estamos até hoje.

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“A Rita foi verdadeiramente um divisor de águas na minha vida e na minha carreira, e não apenas como artista, mas como ser humano. Cheguei a duvidar se conseguiria, mas a Rita confiava a Rita dela em mim”

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(Priscila Prade/divulgação)
Rita Lee, Uma Autobiografia Musical

Teatro Porto
Alameda Barão de Piracicaba, 740, São Paulo
De 10 de maio a 7 de julho
Sexta e sábado às 20h00, sábado às 16h00, domingo às 17h00
Status dos Ingressos: Esgotados

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