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Victor Caixeta, conheça o brasileiro que conquistou o balé europeu (e voltou para brilhar em casa)

Destaque da atual temporada do balé "O Lago dos Cisnes" no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, os planos do dançarino mudaram com a Guerra da Ucrania

Por Ana Claudia Paixão
19 jun 2025, 07h00
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 (Daniel Ebendinger/divulgação)
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Tenho acompanhado a carreira do jovem Victor Caixeta com interesse: ele é hoje, um dos nomes mais promissores do balé internacional — e um dos poucos brasileiros a alcançar o estrelato nas companhias mais prestigiadas da Europa. Ele é um dos nomes mais destacados da atual temporada do balé O Lago dos Cisnes no Rio de Janeiro, uma produção com apoio da Petrobras, que possibilitou a vinda dele e de Mayara Magri, principal bailarina no Royal Ballet, também estreando no Municipal. 

A estreia de Victor no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro tem algo de rito de passagem — não só para o bailarino, que há anos circula entre as mais exigentes companhias da Europa, mas também para o próprio balé brasileiro.

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(Daniel Ebendinger/divulgação)

“Sempre sonhei em dançar aqui. Este é o centro do balé clássico do país. Estou com muita expectativa, muito feliz de estar aqui” disse ele com exclusividade à Revista Bravo!, num papo rápido entre uma aula e um ensaio, na véspera da abertura da temporada.

Aos 24 anos, o mineiro de Uberlândia já passou por experiências que muitos bailarinos não vivem em toda uma vida. Começou tarde — aos 12 anos — num projeto social chamado Pé de Moleque, onde sua primeira professora, Guilmar Boaventura, identificou seu talento. “Eu fiz muitos esportes e não gostava de nada. O balé foi a única coisa que eu gostei porque era muito difícil. Me desafiava. Ela continua sendo minha principal mestre, a primeira pessoa a quem recorro para tudo”, explicou.

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(Daniel Ebendinger/divulgação)

A trajetória internacional começou cedo: com apenas 15 anos, participou do prestigioso Prix de Lausanne, na Suíça, onde conquistou 18 bolsas de estudo. Escolheu seguir para Berlim, e foi pela Escola Estatal de lá que participou de uma competição em Moscou, onde recebeu um contrato do lendário Teatro Mariinsky — um feito inédito para um brasileiro. “Já tinham dançado lá como convidados, como o Marcelo Gomes, mas contratado mesmo, fui o primeiro. E foi uma honra”, comenta.

Na Rússia, viveu uma rotina intensa. “Lá são 30 espetáculos de balé por mês. Claro que não dançamos todos, porque a companhia tem mais de 200 bailarinos. Mas era muito puxado. Começávamos com aula às 11 da manhã e ensaiávamos até as oito da noite, quase sem folgas.” Aprendeu russo vivendo o idioma: “Com 17, 18 anos, eu era uma esponja. Meu dia era todo em russo”, riu.

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Mas a guerra na Ucrânia mudou o rumo da sua vida. Ainda com 22 anos, decidiu deixar o país por razões éticas. “Foi difícil. Parte de mim queria muito ficar — havia balés que ainda não dancei, ambições que não realizei. Mas meu coração mandou sair. E eu sabia que, uma vez fora, não voltaria”, lamentou.

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(Daniel Ebendinger/divulgação)

Na sequência, encontrou abrigo no Het Nationale Ballet, na Holanda, onde permaneceu por duas temporadas e meia. Mas a estrutura, ainda que acolhedora, não saciava sua energia. “Eram muitos solistas para poucos shows. Eu sentia falta daquela intensidade da Rússia. Gosto da bagunça, de viajar, dançar e voltar no dia seguinte. Se fico parado num lugar só, me sinto estagnado”, diz ele.

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Corajosamente decidiu tirar um ano sabático para circular como artista convidado em companhias ao redor do mundo — e foi nesse contexto que surgiu o convite de Alessandra Ferri, nova diretora artística do Ballet de Viena. “A ligação com ela foi decisiva. Senti o mesmo cuidado que encontrava na Rússia. As ideias são parecidas. Acho que vai ser um sucesso.” Em Viena, ele se reencontrará com Marcelo Gomes, que integrará a equipe como professor.

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(Daniel Ebendinger/divulgação)

De volta ao Brasil para interpretar o príncipe Siegfried em O Lago dos Cisnes, ao lado de Mayara Magri, Victor também lida com outro desafio: a memória muscular das cinco versões anteriores da obra que já dançou. “Ouço a música e meu corpo lembra de outra coisa. Essa é a sexta versão. Mas temos liberdade para trazer um Lago com nossa assinatura — isso é muito valioso”, revelou.

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Ainda que more fora desde a adolescência, Victor nunca deixou de carregar sua origem. “Fico emocionado de estar no Municipal. Este palco tem história, e fazer parte dela agora é um sonho.” O menino de Uberlândia, que começou no balé por desafio e teimosia, tornou-se um dos mais promissores talentos da dança mundial — e, ao que tudo indica, está só começando.

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(Daniel Ebendinger/divulgação)
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