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Em 2004, Joana já havia entregue cópias das fitas à polícia, mas foi ignorada. Revoltada com a acusação de um delegado de que “mentia”, ela intensificou as gravações, documentando até conversas entre milicianos e agentes públicos. As imagens, entregues ao repórter Fábio Gusmão por um policial anônimo, resultaram na reportagem do Extra em 24 de agosto de 2005, um marco no jornalismo investigativo brasileiro.
O pseudônimo foi criado por Gusmão para preservar Joana, que ingressou no programa de proteção à testemunha após as ameaças de morte. Nos 17 anos seguintes, ela viveu sob identidade falsa, longe do Rio. Sua verdadeira história só veio à tona com o lançamento da biografia “Dona Vitória Joana da Paz” (Ed. Planeta, 2023), escrita pelo próprio jornalista, que detalha sua infância em Alagoas, a mudança para o Rio e os anos de exílio.
Joana usou oito fitas VHS para registrar a venda de drogas, o armamento de menores e a presença de policiais em esquemas ilegais. Parte desse material hoje está no acervo do Museu da Imagem e do Som do Rio, e trechos foram recriados no filme com ajuda de atores que recriam diálogos reais capturados por Joana.
A escolha da atriz gerou discussões sobre representatividade, já que Joana era negra. O diretor Breno Silveira afirmou que, durante as pesquisas, não havia registros públicos sobre a etnia de Joana — sua identidade só foi divulgada após o início das filmagens. A equipe optou por incluir uma nota no crédito final do filme, homenageando Joana e reconhecendo a complexidade da discussão.
Joana faleceu sem ver o filme pronto, mas deixou claro em entrevistas ao jornalista Gusmão seu desejo: ser lembrada como alguém que usou a cidadania como arma contra arma contra a impunidade. Hoje, a Ladeira dos Tabajaras, ainda que mais segura, carrega nas paredes pichações de “Vida Longa a Dona Vitória” — prova de que sua coragem ecoa além do cinema.