118 anos de Frida Kahlo: o legado da artista que transformou a dor em símbolo
A artista permanece como um ícone da arte latino-americana e uma referência essencial na luta por igualdade e pela expressão feminina

Frida Kahlo é, indiscutivelmente, uma das maiores artistas plásticas do século XX. Muito além de seu reconhecimento no meio artístico, ela se tornou um ícone cultural e pop, estampando camisetas, bolsas e diversos produtos, simbolizando talento, ousadia e coragem. Sua trajetória, marcada por desafios e superações, exigiu justamente essa combinação intensa de força e sensibilidade. Se estivesse viva, ela teria completado 118 anos no último 6 de julho.

Nascida em 1907 em Coyoacán, então um subúrbio da Cidade do México, Frida era filha de um fotógrafo alemão e de uma mãe com raízes indígenas e espanholas. Desde a infância, enfrentou dificuldades físicas: a poliomielite deixou sequelas em sua perna direita e, aos 18 anos, sofreu um grave acidente de ônibus que a marcou profundamente, transformando seu corpo e seu destino. Antes desse episódio, Frida sonhava em cursar medicina, mas as limitações impostas pela saúde a fizeram redirecionar sua energia para a arte, que rapidamente se tornou seu refúgio e principal forma de expressão.
Sua produção artística é marcada por autorretratos carregados de simbolismos, onde se entrelaçam elementos da cultura popular mexicana, a dor pessoal e reflexões sobre identidade, gênero e resistência. Casada com o renomado muralista Diego Rivera, Frida canalizou em suas telas a intensidade das paixões e dos conflitos que viveram. Apesar de ter alcançado certa visibilidade em vida, foi somente nas décadas de 1970 e 1980 que seu trabalho foi redescoberto e valorizado, principalmente por historiadores e movimentos feministas, que a celebraram como um poderoso símbolo de empoderamento e autonomia.

Frida Kahlo faleceu em 1954, no mesmo mês de seu nascimento, aos 47 anos, vítima de uma embolia pulmonar, embora as dores crônicas e a saúde debilitada tenham contribuído para sua morte precoce. Apesar de todas as adversidades, Frida permanece como um ícone atemporal da arte latino-americana e uma referência essencial na luta por igualdade e pela expressão feminina, inspirando milhões ao redor do mundo que encontram em sua trajetória um espelho para suas próprias dores e lutas pessoais.
Relembre algumas de suas obras mais famosas:

As Duas Fridas (1939) – Las dos Fridas
Pintada pouco depois do divórcio de Frida Kahlo com Diego Rivera, esta obra revela a dualidade da artista e seu sofrimento emocional. Na tela, aparecem duas Fridas sentadas lado a lado: uma vestida com roupas tradicionais mexicanas, simbolizando sua identidade cultural, e outra com trajes europeus, refletindo sua influência mais cosmopolita. Ambas têm os corações expostos e ligados por uma veia, que em uma delas está cortada, mostrando a dor da separação e a luta entre suas duas identidades pessoal e social.

Autorretrato com Colar de Espinhos e Beija-flor (1940)
Neste autorretrato, Frida usa um colar feito de espinhos que lhe perfura o pescoço, simbolizando o sofrimento e as dores constantes que carregava. O beija-flor, tradicionalmente símbolo de esperança e boa sorte no folclore mexicano, aparece morto e pendurado, sugerindo desesperança e sofrimento.

A Coluna Partida (1944) – La columna rota
Neste retrato, Frida expõe seu corpo vulnerável, com a coluna vertebral representada como uma coluna jônica quebrada, simbolizando suas inúmeras lesões decorrentes do acidente e as operações dolorosas que sofreu. O colete ortopédico que veste era uma realidade constante para ela, e os pregos espalhados pelo corpo reforçam o sofrimento contínuo.

O Veado Ferido (1946) – El venado herido
Aqui, Frida se transforma em um veado atingido por várias flechas, uma metáfora poderosa para sua dor — tanto física quanto emocional. O rosto do animal é o seu próprio, transmitindo uma sensação de vulnerabilidade e sofrimento. O cenário sombrio e as flechas simbolizam as múltiplas feridas que ela carregava, vindas das dificuldades de saúde, do relacionamento conturbado com Diego Rivera e dos problemas pessoais.

Henry Ford Hospital (1932)
Esta obra é uma das representações mais viscerais do trauma pessoal de Frida: seu aborto espontâneo em Detroit, durante uma viagem aos Estados Unidos. Ela aparece deitada em uma cama hospitalar, sangrando e em grande sofrimento, enquanto sete objetos simbólicos flutuam ao seu redor, um feto, uma flor de lótus, uma concha, entre outros, representando perda, fragilidade e o desejo frustrado de maternidade.

Diego em Meu Pensamento (1943) – Diego en mi pensamiento
Neste autorretrato, Frida coloca o rosto de Diego Rivera na testa, simbolizando sua presença constante e quase obsessiva em seus pensamentos. Apesar das dificuldades do casamento, o vínculo entre os dois era profundo e complexo. A pintura expressa a dualidade entre amor e sofrimento, mostrando como Diego permeava sua mente e sua arte.

O que a água me deu (1938) – Lo que el agua me dio
Esta obra surrealista mostra os pés de Frida dentro de uma banheira, enquanto na água flutuam várias imagens simbólicas, como árvores, uma mão ferida, um crânio e até a própria artista em momentos diferentes da vida. Na pintura, a água funciona como um espaço de introspecção e passagem entre o real e o imaginário.