Galeria Paulo Kuczynski amplia sede com nova exposição de Eleonore Koch
Mostra celebra amizade de Paulo Kuczynski e Eleonore, iniciada nos anos 1980 e que resultou na doação de parte de seu acervo à galeria

O cenário das artes em São Paulo ganhou um novo destaque neste mês. A Galeria Paulo Kuczynski, fundada em 1973 e tradicionalmente dedicada a obras modernistas, agora conta com um espaço expandido. A nova sede, inaugurada em 15 de março, ocupa o mesmo endereço que abrigava o antigo Paulo Kuczynski Escritório de Arte, local onde o marchand atuou ao longo de cinco décadas.
A reabertura foi marcada por uma exposição dedicada à artista alemã Eleonore Koch (1926-2018), única discípula do pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi, referência na segunda fase do Modernismo. Intitulada Não são coisas do cotidiano, só parecem, a mostra reúne obras de diferentes períodos da carreira de Koch, que vão de Natureza-morta (1949) até Despedida com tulipas (2001).

Além de celebrar a produção artística de Koch, a exposição destaca sua longa amizade com Paulo Kuczynski, iniciada nos anos 1980 e que resultou na doação de parte de seu acervo à galeria. A mostra também apresenta obras da colecionadora Clara Sancovsky, ampliando ainda mais o panorama sobre a trajetória da artista.

Bravo! conversou com o galerista Paulo Kuczynski e o historiador Giancarlo Hannud sobre a nova fase da galeria e o legado de Eleonore Koch. Confira a entrevista na íntegra a seguir:
Como se desenvolveu a sua relação com Eleonore Koch ao longo dos anos, e de que forma essa proximidade influenciou a valorização da obra da artista?
Paulo Kuczynski: Conheci Eleonore Koch no início dos anos 1980 por meio de Alfredo Volpi, e com o tempo desenvolvemos uma relação de amizade e admiração mútua. Ao longo dos anos, acompanhei sua trajetória e seu trabalho, mas quem teve um papel fundamental na difusão e valorização de sua obra foi Clara Sancovsky, que está emprestando diversas obras importantes para a exposição que estou abrindo agora na galeria.

Como vocês percebem a evolução do estilo de Eleonore, desde seus primeiros trabalhos até suas últimas criações? Há alguma fase que consideram especialmente reveladora sobre sua visão artística?
Giancarlo Hannud: A evolução do estilo de Eleonore Koch pode ser percebida na maneira como sua pintura se torna, ao longo de sua carreira, cada vez mais depurada e silenciosa, revelando uma busca contínua por um espaço que desafia as noções convencionais de figuração e abstração. Desde seus primeiros trabalhos, nota-se uma relação peculiar com a cor e a composição, já sinalizando um desejo de reduzir os elementos da imagem ao essencial. Com o tempo, essa tendência se acentua, levando a uma economia formal ainda mais rigorosa, onde os objetos parecem deslocados de qualquer narrativa explícita, existindo em uma espécie de suspensão atemporal.
Uma fase especialmente reveladora desse percurso é a do seu estilo tardio, em que suas paisagens e interiores se esvaziam quase que por completo, adquirindo um caráter de presença ausente. Nesse momento, Koch estabelece um jogo sutil entre o visível e o invisível, o preenchimento e o vazio, produzindo uma sensação de estranhamento que ecoa a solidão e a introspecção, mas também uma espécie de transcendência silenciosa. Esse percurso reafirma não apenas a coerência de sua visão artística, mas também a maneira como sua obra continua a dialogar com inquietações profundamente contemporâneas sobre o tempo, a memória e a percepção das imagens do mundo.

A exposição “Não são coisas do cotidiano”, só parecem marca um novo momento para a galeria e revisita o legado de Eleonore Koch. De que maneira sua obra continua a dialogar com as inquietações do mundo contemporâneo?
Giancarlo Hannud: A pergunta é relevante porque toca em aspectos fundamentais da obra de Eleonore Koch, especialmente seu jogo entre solidão e isolamento, a tensão entre imagens externas e internas, e a construção de atmosferas de estranhamento, acompanhada de uma constante presença de uma tensão silenciosa e inquietante. Suas pinturas, marcadas por uma economia formal e uma relação peculiar com a cor e o espaço, parecem habitar a sensibilidade contemporânea com uma lógica visual singular, que resiste à banalidade do cotidiano. Sua obra não apenas desafia o tempo, mas continua a interrogar os modos como nos relacionamos com as imagens do mundo.
Na exposição Não são coisas do cotidiano, essa característica se intensifica, destacando a maneira como Koch estrutura seus espaços: interiores vazios, objetos deslocados, paisagens rarefeitas que evocam uma presença ausente. Em um mundo saturado de imagens e marcado pela aceleração do tempo, sua pintura propõe uma pausa, uma suspensão do real, convidando a um deslocamento perceptivo, um desajuste do olhar.

De que forma a ampliação da Galeria Paulo Kuczynski reflete a evolução do espaço ao longo das décadas? Quais foram as principais diretrizes para a renovação, e como esse novo ambiente aprimora a experiência de artistas, colecionadores e público?
Paulo Kuczynski: A ampliação da Galeria Paulo Kuczynski reflete um processo natural de evolução, acompanhando o crescimento de nossa atuação ao longo das décadas. Na reforma e expansão, conduzida pelo escritório Reinach Mendonça Arquitetos Associados, buscamos preservar ao máximo as características do projeto original de 2004, assinado pelo arquiteto Sérgio Pileggi. Com esse novo espaço, a galeria agora pode acomodar exposições de maior porte e receber um público ampliado em eventos, contando também com uma área externa e de lazer que será um respiro para o espaço expositivo.
Com a inauguração da nova sede, quais são os planos da galeria para o futuro? Há alguma linha curatorial ou novos artistas que pretendem destacar nos próximos anos?
Paulo Kuczynski: A galeria mantém seu foco em produções do século XX, com especial atenção a movimentos como o modernismo, concretismo e neoconcretismo, escolhendo em cada período as obras mais relevantes de cada artista. Com a inauguração da nova sede e um espaço mais amplo, planejamos intensificar nossa programação e oferecer mais exposições abertas ao público.
Galeria Paulo Kuczynski | Alameda Lorena, 1661
Período expositivo: 15/03 a 17/05 | Segunda a sábado | Das 10h às 18h30
Entrada gratuita