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Por que relógios derretidos de Dalí são os maiores símbolos do surrealismo?

Entenda como a obra "A Persistência da Memória" (1931), de Salvador Dalí, segue como uma das mais importantes da história da arte

Por Redação Bravo!
Atualizado em 12 ago 2024, 11h25 - Publicado em 12 ago 2024, 10h00
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A Persistência da Memória (1931)  (Salvador Dalí/reprodução)
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“A única diferença entre um louco e mim é que eu não sou louco.” Assim Salvador Dalí (1904-1989) definia a si mesmo. O principal expoente do surrealismo nas artes visuais dizia-se capaz de criar associações entre fatos e imagens que nada teriam a ver com a lógica — o que em muito difere do diagnóstico psiquiátrico da loucura, de fato.

Ao buscar a não-racionalidade, o artista marcou a história da arte com incursões por desejos inconscientes retratados de forma quase fotográfica. Dalí tinha consciência de sua genialidade. Considerava seu trabalho como antiarte, livre de “considerações plásticas e outras besteiras”. Preocupado com sua imagem, jamais se apresentava em público como “civil”, mas com seu “uniforme daliniano”: o bigode curvado para cima e as roupas ostensivamente elegantes.

Essa imagem irônica, somada a sua aversão à política, provocaria sua expulsão do movimento surrealista em 1936. O artista havia se juntado ao grupo em 1929. Influenciado pelas teorias psicanalíticas do austríaco Sigmund Freud, o movimento buscou explorar a psique na arte, englobando o sonho e o inconsciente.

Um emblema desse movimento em direção ao onírico é o quadro A Persistência da Memória (1931), conhecido como “o quadro dos relógios derretidos”. Os relógios, instrumentos mecânicos e rígidos, traduzem a passagem do tempo. Ao dar-lhes formas fluidas e orgânicas, o pintor remete-os a um universo de prazer, ressaltando a fugacidade da memória. Formigas — recorrentes em suas pinturas como símbolo da decadência — atacam o único relógio de aparência ainda sólida.

A cabeça adormecida ao centro é interpretada como um perfil distorcido do pintor. A paisagem ao fundo, uma de suas memórias de infância, dá ao conjunto um ar de verossimilhança, conferindo ao sonho uma aparência tangível. O óleo sobre tela é marcado pela meticulosidade técnica.

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Dalí buscava, por meio do cuidado com as formas e da representação minuciosa de pormenores, criar uma atmosfera realista. Ele via a pintura como “uma fotografia à mão e em cores”. Ao conciliar o clássico com a arte de vanguarda, portanto, sua tendência surrealista se manifesta não pela técnica, mas pela temática trabalhada: a violência, o erotismo e o sonho.

*Este texto faz parte do especial “100 obras essenciais da pintura mundial” e foi originalmente publicado na edição impressa da Revista Bravo! em 2009

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